*Enviado-especial ao Euro 2016

Hoje caíram com estrondo Espanha e Inglaterra no Euro 2016.

Só será completa surpresa para quem não viu os dois primeiros jogos da Itália, e para quem ainda não tinha percebido que esta Islândia tem este estilo consolidado há muito tempo e, espremida até ao limite como anda, consegue ainda assim criar problemas a quem ainda tem por solidificar ideias e processos, sejam estes ofensivos ou defensivos. Moldada pelo experiente e sagaz Lars Lagerback, já tinha, como Fernando Santos vem lembrando, vencido duas vezes a Holanda e provocado muitas dificuldades a Turquia e República Checa na fase de qualificação.

Acredito que muitos de vocês esperavam mais uma manifestação de força da Roja, mas só com Busquets e Iniesta (e Piqué, ao seu jeito) como referências, entre gerações, dificilmente resistiria a esta Bella Italia. A equipa de Antonio Conte joga um futebol veloz e inteligentíssimo, que foi massacrando o conjunto espanhol, derrubando as suas barreiras de pressão e criando oportunidades de golo suficientes para não ter de precisar do de Pellè nos descontos. A Itália sim, apresenta-se candidata e este Euro terá, para mim, numa final antecipada a squadra azzurra frente à Alemanha.

A Espanha, voltando um pouco atrás, precisará de reconstruir-se e já não deverá contar, no Mundial, com o fantástico Iniesta, a sua principal figura. A era do domínio espanhol a nível de seleções ficou mais perto do fim.

No que diz respeito a Inglaterra, seria estranho que os chatos dos islandeses não conseguissem deixar expostas as fragilidades defensivas do conjunto de Roy Hodgson. Olhando para o onze, com tantas unidades defensivas – só Dier no meio-campo, com Rooney e Dele Alli –, dá também a ideia de que o selecionador inglês, ou melhor ex-selecionador, terá ajudado um pouco à eliminação. Há, contudo, claro mérito dos nórdicos pela forma como abordaram a partida. A explosão, a vertigem da seleção dos Três Leões, que até começou a ganhar, embateu no muro viking.

Visto pelo seu lado, os oitavos de final são um adeus demasiado precoce para os dois candidatos. Desilusões evidentes.

A Áustria, para mim, é outra das deceções deste Europeu. Ficou-se pelo quarto lugar no Grupo de Portugal, e apesar de favorita apenas conseguiu um ponto, precisamente no nulo com a equipa das quinas. O apuramento brilhante e a qualidade de jogadores como Alaba, Arnautovic, Dragovic e Junuzovic perspetivava voos mais altos para Das Team.

Claro que a Croácia merecia mais do que os oitavos e até tinha futebol para chegar longe da competição, sobretudo pelo lado mais acessível do quadro. Encontrou um Portugal muito concentrado, que aproveitou um contra-ataque para seguir em frente.

Tenho saudades do lateral direito Elseid Hysaj, mas não posso dizer que a Albânia tenha sido uma desilusão. Venceu um jogo, lutou sempre e até se pode dizer que superou algumas expetativas.

A Roménia, a República Checa e a Suécia atravessam uma fase de gerações com menos talento. A Rússia, que também já teve mais soluções, está longe de ser uma equipa organizada e consolidada. Continua a falhar na sua afirmação entre as maiores potências continentais.

De regresso aos favoritos, a França tem apresentado muitas dificuldades para vencer os respetivos encontros, e vai ter agora pela frente uma Islândia cheia de moral e a acreditar que consegue fazer quase tudo. Deschamps que se cuide. Ou sobe o nível ou os vikings vão continuar a sair à conquista do continente.

LUÍS MATEUS é subdiretor do Maisfutebol e pode segui-lo no TWITTER. Além do espaço «Sobe e Desce», é ainda responsável pelas crónicas «Era Capaz de Viver na Bombonera» e «Não crucifiquem mais o Barbosa» e pela rubrica «Anatomia de um Jogo».