*Enviado-especial ao Euro 2016
Foto: cortesia de Miguel A. Lopes

Nunca fui central na vida. Também é verdade que fui pouco do resto, mas muito menos central. Também acho que já tive mais talento, ou pelo menos fico feliz a pensar que sim. Quando vi que tinha de jogar com os ténis de running que levei para Paris – essa nova moda para quem já não consegue jogar à bola e fica feliz por só ter de andar para a frente – percebi o sarilho em que estava metido. Sair a jogar só à-Islândia, pensei. Às vezes é preciso jogar feio, como diz o selecionador, que até estava a ver. 

É assim, mister?

Pronto, tinha desculpa!

Do outro lado, a caminhar devagar para o meio do relvado, João Vieira Pinto. E aí pensei nos rins de Vujacic e de tantos outros adversários quando depois passou de Menino d’oiro a Grande Artista.

Fiz o meu papel, posso dizer com orgulho que foram 30 minutos – nem contei, mas deve ter sido isso, que mais pareciam duas horas, de muita concentração. Gritei muito, disse muitas vezes ganha e outras golo, quando a bola estava longe, acho que é o que faz um central razoável – pelo menos no que diz respeito à imagem –, e tive colegas jornalistas que ajudaram muito. O João – grande gajo! – teve pena de mim e poupou-me à vergonha e a ter de apanhar os cacos espalhados pelo chão.

Estivemos a ganhar 1-0 – disse golo cá de trás e acho que ajudou um pouco –, mas perdemos 6-1 com o staff da FPF. Enquanto estive em campo JVP não marcou, e posso usar isso como troféu nas próximas conversas e enquanto me lembre.

Foi uma tarde bem passada, e fiquei com algo para contar aos meus filhos:

João Pedro e André, já marquei João Vieira Pinto um dia, em Marcoussis. E, no fim, disse-lhe "Foi um prazer como sempre, João!"