*Enviado-especial ao Euro 2016

Ainda sem ganhar nos 90 minutos, Portugal está nas meias-finais do Euro 2016, ficando à espera do vencedor do embate entre Gales e Bélgica para saber quem defronta em Lyon no dia 6. A Seleção sofreu muito na primeira parte, reequilibrou-se na segunda, desperdiçou oportunidades e teve mais uma vez felicidade ao cair do pano, no desempate por penáltis. Será Fernando Santos o homem mais sortudo do mundo? Parece.

Uma entrada em falso. Piszczek a virar o flanco, Cédric a falhar o tempo da entrada à bola, Grosicki a correr para a área e a cruzar atrasado para o remate certeiro de Lewandowski, com William a chegar atrasado à cobertura. Aos 100 segundos, Portugal estava a perder por 1-0 e o que o jogo deixaria vislumbrar depois era uma montanha enorme por ultrapassar.

Se a construção estava lenta e previsível, e dependia dos abanões que Renato Sanches dava no jogo – ele que substituiu o lesionado André Gomes no onze de Fernando Santos –, toda a equipa chegava tarde de mais aos momentos de pressão, permitindo que a Polónia ameaçasse e muito, em velocidade, a baliza de Rui Patrício. O ex-Benfica, o corpo-estranho a este plano A do selecionador, parecia perdido em campo, mas estava longe de ser o único: Adrien, Nani e João Mário mostravam-se demasiado fora de si nas compensações, o que permitia à equipa de Adam Nawalka fazer o que mais gosta: sair em contra-ataque.

A crescer lentamente no ataque, mas a tremer atrás

Os primeiros sinais da Seleção vieram então do reforço do Bayern Munique, que descobriu aos 11 minutos Cédric do lado oposto, e a jogada terminou com dois remates bloqueados, um a Cristiano Ronaldo e outro a Nani. Se o ataque parecia demasiado mastigado, os processos defensivos demoravam a estabilizar: Lewandowski ganhou na queima e atirou à figura; depois, foi Fonte que evitou que a combinação entre Grosicki e o ponta de lança provocasse ainda mais estragos.

A Seleção, no entanto, continuava a tentar. Nani deu mostras de soltar-se um pouco e ganhou uma dividida a Piszczek, que acabou com tiro de Ronaldo à figura. Pazdan, aos 31, carregaria o capitão português pelas costas na área, com o alemão Felix Brych a mandar incrivelmente seguir. não seria preciso. O empate surgiu dois minutos depois. Renato Sanches combinou com Nani e decidiu chutar com o pé esquerdo. A bola desviou em Krychowiak e ultrapassou Fabianski pela primeira vez.

Atrás, a Polónia continuava a assustar, e Grosicki, a meias com Cédric, ainda obrigou Rui Patrício a uma sapatada de recurso. E, pouco depois, Renato parecia dar mostras de algo cansaço, talvez consequência de algumas correrias sem nexo que a equipa fez.

O fim de Renato, apesar de continuar em campo

No segundo tempo, era preciso fazer alguma coisa. Aquele 4x1x4x1, com Renato e Adrien por dentro, e Nani e João Mário nos flancos estava condenado ao fracasso com as dificuldades físicas do primeiro. Fernando Santos encostou o ex-Benfica inicialmente à direita e depois à esquerda, e Portugal conseguiu ter um pouco de controlo, sobretudo porque também as transições não estavam a sair tão fluídas como antes.

O encontro tornou-se mais lento, e a Seleção beneficiou com esse ritmo, um ritmo que também beneficiaria a entrada de Moutinho, aos 73. Foi a primeira mudança de Fernando Santos, que ainda faria outra antes dos 90, a entrada de Quaresma por troca com João Mário (80). Só depois, Nawalka mexeu, sacrificando Grosicki para a aposta em Kapustka.

Com o jogo mais controlado, os portugueses tinham tido as suas chances ainda antes das substituições. Cristiano acertou nas malhas aos 55, e falhou a bola aos 61, depois de passe de João Mário. Cédric errou de longe aos 64, e a Polónia voltou a ameaçar pouco depois, com Milik a antecipar-se a Pepe e Rui Patrício a salvar a equipa.

O segundo tempo terminou com mais três oportunidades: Jedrzejczyk quase fez um autogolo ao tentar evitar que a bola chegasse a Cristiano Ronaldo, Moutinho isolou Cristiano Ronaldo, que voltou a falhar o remate (86) – jogada parecida ao do jogo com a Islândia –, e Pepe cabeceou por cima (90), depois de livre de Quaresma.

Os penáltis a chegarem depressa

O tempo-extra começou com mais uma oportunidade desperdiçada por Ronaldo, depois de cruzamento de Eliseu. O capitão tentou dominar e correu mal.

Com a Polónia contente agora também com o aproximar do fim do jogo, Milik assinou o melhor momento da sua equipa nesta fase, com um remate ao lado a partir de zona frontal.

Os penáltis ameaçavam, e o jogo correu rapidamente para aí. A Polónia, por vezes, pareceu satisfeita, outras Portugal sentiu-se sem forças.

Dos 11 metros, Cristiano Ronaldo deu o tom finalmente, e Renato, Moutinho, Nani, Ricardo Quaresma seguiram-lhe o exemplo, aproveitando o erro de Blaszczykowski. A Seleção chegou às meias-finais. Mais uma vez feliz, mais uma vez depois de muito sofrer. Mas também vale!