«Margaret Island. Mar-ga-ret. Portugal, Ronaldo!»

E só aí o taxista percebeu o destino: «Ah, Margitsziget.» E seguimos, até desaguar junto à pequena multidão de portugueses.

Eram quase cem, mas pareciam mais mil para os ciclistas e atletas de ocasião, que viram a sua pista junto ao rio invadida por gente com bandeiras de Portugal e camisolas de clubes nacionais. Figurantes subitamente transformados em protagonistas da festa, capazes de falar para quatro ou cinco canais televisivos quase em loop.

A entrada do Grand Hotel Danubius transformou-se num enclave luso: alunos de Erasmus prestes a regressar, expatriados que há muito não voltam à pátria. Enfim, portugueses de diferentes idades e condições a conviver num ambiente fraternal.

Não deixa de ser simbólico isto de chegar ao Euro em pleno Dia de Portugal. Há algo de embaixada itinerante naquele autocarro com a bandeira e uma mensagem de incentivo às hostes: «Vamos todos, vamos com tudo.»

Sendo a Hungria o maior país da Europa Central sem acesso ao mar, foi como se naquela ilha entre Buda e Peste a água doce ganhasse uma pitada de sal.

Em concreto, foi pelo ar e pela estrada que Portugal chegou ao seu destino. Mas, na verdade, no plano sentimental, para alguns dos que ali estavam, foi como ver uma caravela a atracar no Danúbio.

--

«O Caderno de Puskás» é um espaço de crónica do jornalista Sérgio Pires, enviado especial do Maisfutebol ao Euro 2020.