Este sábado, Portugal vai entrar em campo para um duelo com a Alemanha e contra a sua própria história. O Maisfutebol juntou heróis do passado para lembrar os quatro confrontos em fases finais de Campeonatos da Europa entre portugueses e germânicos.

O histórico de confrontos é favorável à «Mannschaft», apesar dos dois primeiros jogos terem sorrido à seleção nacional: empate no Euro 84 e vitória no Euro 2000. Seja bem-vindo ao baú das recordações de Álvaro Magalhães, Luís Vidigal, Costinha, Ricardo, Nuno Gomes e Miguel Lopes.

Stade de la Meinau, em Estrasburgo, acolheu o primeiro jogo de Portugal na fase final de um Campeonato da Europa e logo frente à campeã em título: a República Federal Alemã. Álvaro Magalhães participou na campanha sensacional dos «Patrícios» no Euro 84, em França.

«A base da seleção eram jogadores do FC Porto, Sporting e Benfica. Tínhamos experiência internacional ao nível de clubes, mas para começar defrontámos logo a campeã em título. A Alemanha era uma equipa fortíssima. O mister Fernando Cabrita pediu-nos concentração, persistência e para acreditarmos em nós. Acabámos por fazer um grande jogo e com humildade, espírito de entreajuda e abnegação, conseguimos um grande empate», começou por recordar ao nosso jornal.
 

A primeira seleção portuguesa a disputar a fase final de um Europeu. 

O lateral-esquerdo titular nesse jogo confessou que o resultado contra os germânicos impulsionou a excelente campanha portuguesa até às meias-finais. «Tínhamos de dar uma imagem diferente de Portugal. Achavam que nós éramos bons tecnicamente, mas fracos em termos físicos. A determinação e a nossa qualidade permitiram-nos aguentar a pressão. Portugal voltou a dar-se a conhecer à Europa e esse jogo foi uma rampa do lançamento para o resto da prova», admitiu.

16 anos depois, a «equipa das Quinas» novo reencontro numa fase final de um Europeu. «A banheira de Roterdão» foi palco do jogo mais marcante entre portugueses e alemães. Os números são claros e deixam poucas dúvidas: 3-0, com hat-trick de Sérgio Conceição. A partida ganhou contornos de humilhação para a Mannschaft, visto que Portugal entrou em campo apurado.

«Se pudessem, os alemães comiam-nos vivos. Eles pensavam que seríamos um alvo fácil e confirmou-se precisamente o contrário. A Alemanha tinha alguns nomes sonantes, mas talvez não estivesse tão forte. Teve um sabor delicioso. A prova de que o jogo foi tão marcante é o facto de ainda hoje o recordarmos», referiu Luís Vidigal, suplente utilizado por Humberto Coelho.

Em duas décadas o estatuto de Portugal alterou-se no futebol europeu. «Desde essa geração que Portugal cresceu muito. Hoje gozamos de algo que era impensável naquela altura», acrescentou. 

Por sua vez, Costinha frisou a vontade extrema de todos os jogadores se quererem dar a conhecer e elogiou o gesto de Humberto Coelho na altura.

«Os jogos contam sempre e o espírito foi o mesmo dos encontros contra a Inglaterra e a Roménia. O mister Humberto Coelho fez uma coisa fantástica: deu oportunidade a todos de se estrearem num Europeu. Muitas vezes os jogadores são vítimas dos resultados e o treinador aposta nos que entende serem os melhores. Por exemplo, eu joguei no meio-campo com o Paulo Sousa e com o Capucho, que nem era um ‘dez’, e jogou o Sérgio Conceição na ala. Estava em jogo o prestígio da seleção », rememorou.

O ‘Ministro’ lembrou que foi o último jogo de Matthäus pela Alemanha e o impacto que o resultado criou nas altas chefias da DFB (Deutscher Fußball-Bund).

«Os alemães sempre foram muito fortes. Esses 3-0 contra Portugal, ainda para mais sem Figo, Rui Costa e João Vieira Pinto, teve outro impacto e obrigou-os a acelerar o processo de restruturação. O mais importante foi a atitude com que entrámos em campo e o que nos foi pedido pelo mister Humberto Coelho», destacou.

Ainda na «Banheira de Roterdão», passámos a bola a Nuno Gomes, goleador que esteve em dois dos quatros jogos entre Portugal e Alemanha em fases finais de Europeus.

«Esse jogou mostrou a toda a gente a qualidade da seleção e demos dores de cabeça ao mister (risos). O mister Humberto alertou-nos para o facto de muitas vezes o relaxamento poder funcionar ao contrário. Pediu-nos seriedade e não houve facilitismo de ninguém. O segredo foi encarar o jogo como se ainda não tivéssemos apurados. A maioria dos jogadores tinha muita vontade de deixar a sua marca num Europeu. Queriam dar-se a conhecer ao mundo», contou. 
 


Oito anos após essa noite de glória portuguesa em Roterdão, o Fado mudou. Lentamente, a equipa Alemanha ganhou traços latinos enquanto Portugal chegou à Áustria e à Suíça com estatuto de vice-campeão Europeu, mas acabou por cair nos quartos de final pouco tempo depois do anúncio da saída de Scolari para o Chelsea.

«Vimos uma Alemanha mais próxima do nosso estilo de jogo. O jogo estava equilibrado até a Alemanha marcar dois golos em menos de dez minutos. Senti que a equipa ficou desconcentrada, mas ainda conseguiu reduzir antes do intervalo. Na segunda parte não criámos muitas oportunidades, eles eram fortes defensivamente. Acabámos por sofrer o terceiro golo e ficámos quase K.O. Ainda reduzimos pelo Postiga, mas já não evitámos a derrota. Nunca soubemos reagir da melhor maneira e jogámos muito com o coração», lembrou Nuno Gomes, capitão de equipa nessa noite.

«O jogo coincidiu com o anúncio da saída do Mister Scolari, mas isso não teve qualquer influência no resultado em si. Nem sequer estávamos a pensar nessa situação», acrescentou.

Ricardo disputou o último jogo por Portugal contra a Alemanha, nos quartos de final do Euro 2008. 

Outrora herói português (o penálti sem luvas é mítico), Ricardo corroborou a versão apresentada pelo ex-companheiro de seleção.  

«A saída do Scolari foi uma coisa normal. As coisas foram faladas atempadamente, ele deu-nos a notícia primeiro. Não teve impacto nenhum no desfecho do Europeu. Éramos um grupo unido há vários anos. Foi uma situação normal», sublinhou.

O guardião não guarda, naturalmente, boas recordações desse confronto contra a Alemanha. Aliás, o próprio disse não se lembrar de praticamente nada. Curiosamente, esse foi o último jogo de Ricardo com a camisola das quinas.

«Não guardo memória nenhuma, palavra de honra. Lembro-me que perdemos e que estava um tempo esquisito. Desilusão? Isso seria não passar a fase de grupos. Foi o meu último jogo por Portugal, mas isso é para outros contos, não é para este», atirou, antes de se despedir e de desligar a chamada.

 

Imagens do último jogo entre portugueses e alemães num Europeu. 

Os anos passam a correr, não concorda? Sem darmos conta estamos em Lviv, no Euro 2012. Pelo segundo europeu consecutivo, há duelo luso-germânico, desta feita na fase de grupos. Apesar da derrota – culpa de Mario Gómez – e de não ter saído do banco, Miguel Lopes guardou boas sensações.

«As memórias são positivas, apesar da derrota. Foi o meu primeiro jogo num Europeu. Lembro-me que havia um barulho ensurdecedor no estádio. Foi pena o resultado. Medo? Quando se joga contra estas equipas como nós jogámos, é preciso ter respeito, mas não pode haver medo. Os jogadores mais experientes como o Pepe e o Cristiano Ronaldo, não deixam sequer que isso aconteça», atirou.

O baú das memórias fechou-se provisoriamente e voltará a ser aberto depois do duelo deste sábado. Resta saber se entrará para a categoria das memórias como Estrasburgo ou Roterdão.