Por Pedro Catita

Amigos e amigas, não deu. Não fomos competentes. Simples. Ao contrário do desaire diante da Sérvia, esta segunda derrota no Europeu, fatal, foi dura, mas muito mais fácil de explicar. A Espanha foi mais forte, mais capaz, jogou bem e competiu ainda melhor, apresentou mais qualidade coletiva e individual, foi mais eficaz (32 remates, 24 enquadrados com a baliza, 6 golos), acertou quase sempre em todas as decisões e pouco errou. O adversário ganhou bem. Nós tivemos o (mal) que fizemos por merecer. Não faltou atitude e ambição, não faltou plano de jogo, faltou suficiente competência, de cada um e de todos.

Uma análise detalhada será feita com mais tempo, mas atente-se nos golos sofridos: uma grande penalidade, um canto, três tipos diferentes de contra-ataque, e um sem guarda-redes na baliza. Esclarecedor.

Falta-nos ainda subir o nível de rendimento, é um facto indesmentível. A prova revelou que, com três jogos a eliminar, necessitaríamos de três exibições muito boas, quase perfeitas. Era possível? Sim, mas era difícil, sejamos justos. Temos futsal de topo europeu? Sim, sim, sim, sim, reafirmo que sim. Somos nós que temos. Temos futsal de excelência para 120 minutos/7200 segundos de mata-mata? Não. Poderia ter acontecido? Sim, mas o nosso nível normal é de meias-finais, diga-se. Podemos sonhar? Sim, trabalhando para que, como li em tempos, «tudo é considerado impossível, até acontecer».

É um bom sinal dos últimos anos, digo sem nenhuma ironia. Refiro-me à insatisfação de largos milhares no final do jogo. Há 20/15 anos eram apenas alguma dezenas. O Futsal conquistou o direito a ser massivamente criticado. Só acontece a modalidades fortes. E vamos ser mais fortes. Os milhares que estariam no aeroporto no domingo a ver a Taça, os mesmo milhares que não vão estar esta terça-feira no aeroporto. Os largos e largos milhares que viram em direto na televisão. Já somos muitos.

Já sei, não fujo à questão. O seleccionador e os jogadores têm toda a responsabilidade? Claro, toda. Ainda bem, e que continuem a ter. São eles os artistas. A mesma responsabilidade que têm e teriam na hora da vitória. Não foi, é e será sempre assim? Obviamente. Têm muito talento. Trabalham muito.

A mesma responsabilidade que todos temos em diariamente sermos o mais exigentes possível connosco próprios, e não só apenas milimetricamente exigentes com os outros. Para nós arranjamos sempre desculpas, para os outros arranjamos sempre culpas. No papel individual como treinadores, como jogadores, como pais, como cidadãos... como pessoas. Auto-exigência!

Preferia que Jorge Braz e comitiva tivesse tido um discurso redondo e cinzento do género «vamos ver jogo a jogo, vamos dar o nosso melhor, bla bla, bla, bla»? Quem preferia? Eu não. Eu não de todo. O compromisso com a superação é uma das características dos vencedores. Temos sempre as soluções para o totobola «à segunda-feira», mas é antes e durante o jogo de domingo que há poucos a querer enfrentar os problemas. E este grupo, estes artistas como não me canso de afirmar, dão e deram tudo, e reforço, somos exemplo em múltiplos aspetos na realidade internacional do Futsal, e com rendimento até bem acima da média face à iliteracia desportiva nacional e face ao estado de desenvolvimento sócio-desportivo das modalidades coletivas no contexto europeu, nomeadamente. Humildemente, reconheça-se que ainda temos muito que trabalhar, todos. Mas e quando formos campeões, vamos parar de trabalhar? Hoje, choramos e trabalhamos. Com a medalha de ouro ao peito, vamos festejar e.. trabalhar. Todos! «Toca a trabalhar!»

Eduardo Coelho vai estar na final?

É o único aspeto positivo da derrota frente à Espanha. O nosso Eduardo Coelho passa a ser seguramente um dos principais candidatos a ser nomeado para a grande final, no próximo sábado. Não estará a seleção, que Portugal esteja então representado no capítulo da arbitragem. É o nosso desejo e será justo. É claramente um dos melhores árbitros presentes em Belgrado.

Qual será o terceiro melhor golo do Europeu?

Depois do melhor golo do Euro – e de sempre – diante da Sérvia, Ricardinho foi autor de mais uma obra de arte. De forma inglória, mais um tento apontado num jogo de desfecho negativo. Tal como já tinha acontecido em Gondomar frente a Luis Amado. É mesmo o dono dos golos malditos. Raios e coriscos, como diria o capitão Haddock.

Restaurante Novak fica para mais cedo...

Tinha planeado ser um dos últimos locais a visitar na capital sérvia, para um dia mais festivo, mais perto do fim-de-semana das grandes decisões. Terá de ser esta terça-feira, véspera do meu regresso a Lisboa. Vou ter o prazer de estar no Restaurante Novak. Sim, do Djokovic, localizado curiosamente muito perto da Arena. Para além das óbvias razões gastronómicas, funciona também como montra/museu de vários troféus importantes conquistados pelo tenista ao longo da carreira. Por outro lado, será o dia destinado à compra das inevitáveis e justas lembranças para os mais chegados. Como é um dia de ressaca e de azia, talvez a carteira fique a ganhar com o mau humor...

Hvala