Em 2008 a redação do Maisfutebol, em parceria com o cartoonista Ricardo Galvão, publicou na Prime Books o livro «Doze Euros no Bolso», que passava em revista, de forma bem-humorada, os momentos mais marcantes da história dos Campeonatos da Europa. São alguns desses textos, adaptados e atualizados, que recuperamos agora, para intervalar a atualidade do Euro 2016 com as memórias que ajudam a fazer a lenda da segunda maior competição internacional de seleções.

[TEXTO ORIGINAL - NÃO INCLUÍDO NO LIVRO]

Há poucas histórias tão alucinantes nos Europeus de futebol do que a inusitada caminhada da Turquia até às meias finais do Euro 2008. Originou, na altura, uma piada óbvia que dizia que um turco só tinha duas regras na vida:

1. Nunca desistir

2. Em caso de dúvida, conferir a regra 1

É fácil entender. A equipa esteve por várias vezes «eliminada» do torneio mas só caiu pertíssimo do final do último degrau antes da decisão em Viena. A caminhada turca ficou marcada por momentos de tirar o fôlego em que a expressão «impróprio para cardíacos» assentava bem em praticamente todas as batalhas travadas naquele louco mês na Áustria e Suíça.

Derrotada sem apelo nem agravo por Portugal no jogo de abertura (2-0), esse duelo revelar-se-ia a única peça que não encaixou no puzzle turco. Uma espécie de prelúdio para o que aí vinha.

Veja-se então. Ao segundo jogo já era altura de tudo ou nada. Obrigatório, no mínimo, um empate. Hakan Yakin adiantou os suíços, Senturk empatou já na segunda parte e quando parecia que tudo ia ficar assim, Arda Turan deu a vitória aos turcos. Minuto 90 e festa. Capítulo um encerrado.

O capítulo dois escrevia-se em Genebra frente à República Checa. Só a vitória interessava. Mas, ao minuto 75, os checos venciam por 2-0 e o destino parecia traçado. A Turquia estava destinada a vir embora mais cedo. Mas Arda Turan, o mesmo que dera a vitória sobre a Suíça, indicou o caminho e reduziu. Depois foi Nihat, em dois atos, aos 87 e 89, a consumar a reviravolta. A Turquia resistia e avançava para os quartos de final.

Aí o adversário era a Croácia, que tinha feito o pleno na fase de grupos. Três jogos, três vitórias, incluindo uma sobre a Alemanha, futura finalista. Nada de golos o tempo regulamentar, nada de golos até ao minuto 119. Aí a Croácia marcou por Klasnic. Não havia volta a dar desta feita, a Turquia estava eliminada.

Mas lembram-se das regras do início? Pois bem. Bola ao centro, um livre ganho, pontapé para a frente e a bola a sobrar para Senturk que gela os croatas. Segundos antes estavam nas meias finais. Agora ia haver penáltis. Os turcos foram mais fortes, perante uma equipa croata ainda atarantada com o que acabara de acontecer. Já eram três jogos seguidos a marcar em cima da hora.

Haverá espaço para um quarto? A resposta interessava sobremaneira à Alemanha, rival das meias finais. O jogo, porém, foi diferente dos demais, de início. Pela primeira vez em todo o Europeu a Turquia marcava primeiro, por Boral, mas antes do intervalo Schweinsteiger empata.

No segundo tempo Klose faz o 2-1 e entra-se, então, no momento de ouro para a Turquia, a reta final. E…há empate! A quatro minutos do fim Senturk faz o 2-2 e a Europa leva às mãos à cabeça. Como parar estes turcos? A resposta veio no pé direito de Lahm que, nos descontos, deu a vitória à Alemanha.

O comentador inglês que relatava o jogo deu o remate final em toda a história: «Desta, nem os turcos conseguem recuperar». E assim foi. A Turquia provou do próprio veneno e veio para casa eliminada por um golo em cima da hora, mesmo tendo escrito a mais incrível história daquele Europeu.