Quatro anos depois da última presença, e onze anos após a conquista do seu último título nos escalões de formação, Portugal está de volta ao Europeu de sub-17. Escócia, Alemanha e Suíça são os adversários da seleção lusa que dá, nesta sexta-feira, em Malta, o primeiro passo numa prova que já foi rampa de lançamento para grandes talentos do futebol mundial.

Há precisamente 25 anos, o atual selecionador, Emílio Peixe, estava em campo, na Dinamarca, a ajudar a seleção portuguesa a conquistar o primeiro título europeu equivalente, em sub-16. Até 2001 seguiram-se mais três troféus continentais, antes de o escalão passar a sub-17. Daí para cá, só mais um título, conquistado em 2003, na única fase final da categoria organizada em solo luso. E, ainda mais significativo, o facto de nos últimos onze anos esta ser apenas a terceira vez que uma equipa portuguesa consegue atingir a fase final. Longe vão os tempos em que Espanha (que nem vai estar neste Europeu, tal como a campeã Rússia) e Portugal eram consideradas, justamente, as grandes dominadoras neste escalão.

No lançamento da competição, o técnico federativo não fixou metas, mas deixou duas palavras (« paixão e alegria») como mote inicial: «Queremos desfrutar do facto de estarmos aqui. Vamos tentar dar o nosso máximo e esperamos deixar uma boa imagem dos nossos jogadores, da qualidade dos nossos jogadores. Queremos deixar a nossa marca», resumiu, sem fixar objetivos mais específicos.

«Os títulos vão ser uma questão de tempo»

António Violante, o homem que comandou essa equipa de 2003 – campeã com Miguel Veloso, João Moutinho e Vieirinha - e também a de sub-16 que conquistou o título em 2000 – com Quaresma, Raúl Meireles e Hugo Viana, não tem dúvidas de que atualmente, os Campeonatos de sub-17 são mais abertos do que já foram: «Basta vermos que houve cinco vencedores diferentes nas últimas seis edições, só a Holanda é que repetiu títulos recentemente. Nesta altura não se pode falar em dominadores, e não me parece que este Campeonato tenha favoritos claros», refere.

Com 16 ou 17 anos, estes jogadores estão numa fase ainda algo indefinida da formação, longe da maturidade, tática e física, mas já com exigências competitivas muito fortes. Violante sintetiza assim o equilíbrio entre formar e competir: «Sempre apresentei vi fases finais como uma etapa na formação. Importante, mas uma etapa. Como experiência é muito interessante, com jogos mais competitivos do que o habitual, mais exigências de rigor e concentração, e mais desgaste físico. E traz, também, um esforço de habituação às rotinas profissionais, aos programas diários de uma concentração longa, que vão ser muito úteis mais à frente nas carreiras destes jogadores», resume.

Sem definir horizontes para a equipa atual, António Violante, que já não está ligado à FPF, deixa uma palavra de elogio ao trabalho nos escalões de formação: «Acredito que os títulos vão ser uma questão de tempo. As pessoas são competentes, continuam a trabalhar bem. É verdade que por enquanto os troféus não têm aparecido, mas os jogadores continuam a fazer-se», diz.

Estando numa idade em que as variações de rendimento podem ser muito drásticas, por questões de alterações físicas ou de maturidade emocional, é errada a ideia de que poucos valores dos sub-17 atingem os patamares mais altos na profissão. Basta olhar para a lista de jogadores distinguidos com o prémio da UEFA para os melhores jogadores de cada edição nos últimos doze anos para o confirmar: os jovens «teenagers» Rooney, Fábregas, Sahin, Kroos ou Bojan Krkic já davam nas vistas nesta fase.

Mesmo sem recuarmos aos tempos de Figo (campeão em 89) ou Cristiano Ronaldo (com passagem discreta em 2002), a lista de presenças nos últimos dez campeonatos impressiona: Nasri, Benzema, Ben Harfa e Pogba (França), Piqué, De Gea, Azpilicueta, Isco e Javi García (Espanha), Witsel, Benteke e Hazard (Bélgica), Walcott, Wilshere e Sterling (Inglaterra) ou craques avulso como Götze, Markovic e El Shaarawy tiveram o seu batismo de grandes competições em campeonatos do género.

António Violante tem ideias claras a esse respeito, privilegiando o desenvolvimento individual sobre as imposições coletivas: «Não é uma ideia unânime, mas sempre achei importante não prender demasiado jogadores desta idade a organizações muito estruturantes. Quanto mais se avança na idade, mais os aspetos coletivos ganham peso, mas aqui deve haver mais margem para decisões individuais, porque há muitas realidades em mudança» lembra, ilustrando com o caso de João Moutinho, um caso de afirmação tardia na «sua» geração de 2003.

Sem grandes dúvidas de que a seleção portuguesa vai continuar a colher frutos do trabalho de formação, o último treinador luso a conquistar um título continental deixa a ressalva: «Não tenho grandes dúvidas de que 60 a 70 por cento deste grupo de jogadores poderá chegar aos sub-20. Mas se três/quatro chegarem à seleção principal já será claramente um trabalho de sucesso. Se olharmos para os convocados habituais da seleção A, nenhum ano de nascimento terá mais de três jogadores. A ideia das gerações de ouro é um bocado uma invenção que se foi prolongando no tempo», conclui.

Calendário do Europeu

GRUPO A
Holanda, Turquia, Malta, Inglaterra

1ª jornada (9 de maio)
Holanda-Turquia
Malta-Inglaterra

2ª jornada (12 de maio)
Inglaterra-Turquia
Malta-Holanda

3ª jornada (15 de maio)
Malta-Turquia
Inglaterra-Holanda

GRUPO B
Alemanha, Suíça, Escócia, Portugal

1ª jornada (9 de maio)
Alemanha-Suíça
Escócia-Portugal, 14.15

2ª jornada (12 de maio)
Suíça-Portugal, 10 h  
Alemanha-Escócia

3ª jornada (15 de maio)
Alemanha-Portugal, 17 h  
Escócia-Suíça

Meias-finais (18 de maio)

Final (21 de maio)

Os convocados de Portugal
Guarda-redes: Pedro Silva (Sporting) e Fábio Duarte (Benfica)
Defesas: Hugo Santos, Rúben Dias, Pedro Rodrigues, Francisco Ferreira, Yuri Ribeiro (Benfica), Diogo Izata (FC Porto)
Médios: Fernando Fonseca e Rúben Neves (FC Porto), Pedro Empis (Sporting), Pedro Delgado (Inter), Gonçalo Rodrigues e João Carvalho (Benfica)
Avançados: Fábio Novo, Aurélio Buta, Diogo Gonçalves, Renato Sanches (Benfica), Luís Mata (FC Porto) e Alexandre Silva (Sporting).

O históricos dos Europeus

Campeonato da Europa de Sub-17
ANO LOCAL (CAMPEÃO)
2013- Eslováquia (RÚSSIA)
2012- Eslovénia (HOLANDA)
2011- Sérvia (HOLANDA)
2010- Liechtenstein (INGLATERRA)
2009- Alemanha (ALEMANHA)
2008- Turquia (ESPANHA)
2007- Bélgica (ESPANHA)
2006- Luxemburgo (RÚSSIA)
2005- Itália (TURQUIA)
2004- França (FRANÇA)
2003- Portugal (PORTUGAL)
2002- Dinamarca (SUÍÇA)

Campeonato da Europa de Sub-16
ANO LOCAL (CAMPEÃO)
2001- Inglaterra (ESPANHA)
2000- Israel (PORTUGAL)
1999- Rep. Checa (ESPANHA)
1998- Escócia (IRLANDA)
1997- Alemanha (ESPANHA)
1996- Áustria (PORTUGAL)
1995- Bélgica (PORTUGAL)
1994- Irlanda (TURQUIA)
1993- Turquia (POLÓNIA)
1992- Chipre (ALEMANHA)
1991- Suíça (ESPANHA)
1990- RDA (CHECOSLOVÁQUIA)
1989- Dinamarca (PORTUGAL)
1988- Espanha (ESPANHA)
1987- França Não atribuído*
1986- Grécia (ESPANHA)
1985- Hungria (URSS)
1984- Alemanha (ALEMANHA)
1982- Itália (ITÁLIA)

* Em 1987 a Itália utilizou um jogador de forma irregular, sendo-lhe retirado o título

Títulos: Espanha (8), Portugal (5), Alemanha (3), Rússia, Holanda e Turquia (2), URSS, Checoslováquia, Polónia, Irlanda, Suíça, França, Itália e Inglaterra (1)