O presidente do Sindicato de Jogadores desafiou os dirigentes dos principais clubes portugueses para contribuirem mais ativamente no combate ao incumprimento salarial.

«Tem de haver uma vontade inequívoca. Tem de ser o Benfica, o Porto, o Sporting, o Braga. Têm de ser os seus dirigentes e treinadores a erradicar este fenómeno. Não podemos aceitar o incumprimento como regra. Já não se discute se deve pagar-se ao dia 5 ou não. Discutimos se passados 60 dias há incumprimento. Isto é inaceitável», disse Joaquim Evangelista.

«É preciso erradicar os fenómenos repetentes, os dirigentes sem vergonha. Esses têm de ser afastados. Onde estão os presidentes que pagam, e que apregoam que têm os salários em dia, mas que não discutem a matéria?», questionou.

O dirigente sindical defendeu também, no entanto, que os jogadores «têm de ser ativos na defesa dos seus interesses e saber quem merece confiança ou não». Evangelista recusa, no entanto, é centrar a questão na atitude dos jogadores que assinam documentos a dizer que os salários estão em dia, quando assim não é. «Quem tem quatro meses de salários em atraso e uma família para sustentar, quem está numa posição frágil e vulnerável apresenta um estado de necessidade leva o jogador a assinar, perante a promessa de que vai ser pago. Não é sério pedir ao jogador que garanta o licenciamento. O licenciamento é feito pela instituição, pela Liga. Temos de atuar junto do mecanismo de licenciamento, e não culpar o jogador.»

O presidente do Sindicato de Jogadores afirmou que «nenhum clube pode acusar outro nesta matéria, pois é um problema que afeta todos, num ou noutro momento».

Questionado sobre a situação da Naval, Evangelista afirmou que o emblema da Figueira da Foz «deve um enorme respeito aos jogadores e ao Sindicato», por continuar a competir. «Os jogadores não recebem há quatro meses. Foram ultrapassados todos os prazos, houve cheques pessoais do presidente recusados, e vem um dirigente dizer que o plantel, ao não treinar, está a cometer uma ilegalidade. Isto é de alguém desavergonhado», afirmou.

Em relação ao Olhanense o líder sindical lembrou que o presidente do emblema algarvio «assumiu o incumprimento e os jogadores», que «entenderam adiar uma tomada de posição», mas avisa que «entretanto é preciso cumprir o que falta».

Joaquim Evangelista falou à comunicação social à margem do congresso organizado pela FIFPro, em Lisboa, para discutir a insolvência no futebol. Na abertura do evento esteve também o presidente da Federação Portuguesa de Futebol.

«Este problema afeta não só a imagem da indústria, no seu todo, como traz situações complicadas para os jogadores e as famílias. Acarreta, do ponto de vista da imagem e do reflexo social, algumas situações dramáticas», afirmou Fernando Gomes.

Questionado sobre a situação nos campeonatos não profissionais, o líder federativo disse não ter conhecimento de casos dramáticos, até porque o «fundo de garantia salarial não tem sido acionado». «Não chegamos a situações extremas mas trabalhamos para que isso não aconteça», acrescentou.