'Bad Boy'. O Maisfutebol confronta Rúben Ribeiro com este rótulo, tantas vezes associado ao talentoso médio do Boavista [termina contrato em junho]. E Rúben não foge ao debate.

Recusa liminarmente ser problemático, assegura ter uma excelente relação com a maioria dos ex-treinadores e ex-colegas, elogia a família por sempre ter estado ao seu lado, nos bons e maus momentos.

Atrás de tudo, na origem de uma personalidade forte, está a infância no bairro de Ramalde. Uma infância que ajudou Rúben a moldar um feitio próprio e a crescer depressa.

A conversa exclusiva com uma das grandes figuras da Liga 2015/16.

Rúben Ribeiro entre Matic e Enzo em 2013

O Rúben é uma pessoa muito emocional, percebe-se. Sempre foi assim?
«Sim, muito. Reajo mal à falta de honestidade. No futebol tudo se sabe. Não podemos passar por cima de ninguém. Se tivermos qualidade, jogamos em algum lado. Ou aqui ou ali. Sempre acreditei em mim e mantive a minha personalidade. Quando não gosto, as pessoas notam logo. Detesto maldade e conflitos. Sou terra a terra, tranquilo, mas tenho a minha personalidade. Sei bem o que passar por dificuldades, nada me surpreende. Tive de crescer muito depressa. Só sei estar assim na vida: agarrar sempre nas minhas convicções».

Para os treinadores é mais fácil treinar um jogador que diz ‘sim’ a tudo. Tem a noção disso?
«Não sei. Ganhei grande amizade com quase todos os meus treinadores. Falo com eles, trocamos ideias. Se fizesse um mau jogo, eu era o primeiro a ir ter com o treinador e assumir. E dizia: ‘mister, na próxima semana vou partir tudo e compenso isto’. Aconteceu isto com o mister Costinha, ele pode confirmar isto».

Já sentiu algum treinador a ter dificuldades em percebê-lo? O seu feitio, o seu futebol…
«(risos) No início procuro adaptar-me às ideias dos treinadores. Eu tenho as minhas, gosto que as coisas sejam feitas à minha maneira, mas não pode ser. Aprendi a perceber e a aceitar isso. Por isso chocava um bocadinho com alguns treinadores. Sou uma pessoa competitiva, mas sei que a esmagadora maioria dos meus colegas adorou trabalhar comigo».

A fama de ‘bad boy’ faz sentido?
«É mais fama do que proveito (risos). Recuso completamente esse rótulo e já fui muito prejudicado por ele. Se as pessoas me conhecerem, garanto que mudam rapidamente de ideia. Já ouvi tantas vezes, ‘realmente, o que as pessoas dizem de ti e afinal…’. Mal cheguei ao Beira-Mar encostaram-me à parede e avisaram-me: ‘aqui tens de te portar bem’. E eu tranquilo, só queria trabalhar».

Gosta de treinar ou é um sacrifício?
«Gosto muito de treinar. Aliás, esta época, no Boavista, sei que surpreendi muita gente. Alguns diziam-me: ‘pensei que não davas tanto nos treinos, ainda por cima já sabes que vais jogar’. Era fácil acomodar-me e não o faço. Treino no limite, descanso, faço gelo, alimento-me bem. Quando era mais novo não pensava tanto nisso, mas tinha o cuidado de me deitar cedo, até por ter sido pai muito cedo. A minha mulher foi um pilar para mim. Ainda é».

É fácil um futebolista jovem perder o equilíbrio?
«É, muito. Felizmente sempre tive a minha esposa e os meus filhos. Se eles não existissem, andava por aí, a ver mulheres, como um jovem qualquer. Sempre fui equilibrado no meu comportamento social. O meu luxo era jogar às cartas com a malta do bairro e dar umas gargalhadas. Por isso mantenho essa ligação ao bairro de Ramalde, os meus amigos são os mesmos».

Que futebolista melhor combinou consigo em campo?
«O Tiago Cintra, um talento incrível. Jogámos no Leixões e no Beira Mar. Está na equipa B do Varzim e tem tudo para ser um grande jogador. Precisa de uma oportunidade e de agarrá-la. Treinou várias vezes comigo na praia. Sempre me entendi com ele em campo. Segura a bola, tabela no momento certo… e gostei de jogar com o Zé Manuel, do Boavista. Merece esta transferência para o FC Porto».