De junho a dezembro de 2015, Rúben Ribeiro não pôde fazer o que mais gosta. Desapareceu do radar. Em janeiro, o médio assinou pelo Boavista e tornou-se rapidamente numa das grandes figuras dos homens do Bessa.

Grandes exibições, pois, após meio ano sem competir. Afinal, o que se passou depois de deixar o Gil Vicente?

Em entrevista ao Maisfutebol, Rúben Ribeiro detalha tudo o que viveu, lamenta o comportamento da direção do Paços de Ferreira e admite ter suportado dias de desespero. A família, claro, e os treinos na praia foram o suporte emocional do atleta nessa fase.

Corridas pela noite adentro, em cumplicidade com os pescadores de Matosinhos. Rúben resistiu e voltou mais forte.

Rúben Ribeiro num Paços Ferreira-Newcastle

Esteve meia época sem jogar. O que se passou?
«Fui para Barcelos emprestado pelo Paços de Ferreira com um acordo: se o Gil descesse, voltaria ao Paços; se o Gil ficasse na I Liga, continuaria lá e o Paços ficaria com metade do meu passe. Com a descida tive de regressar, mas informei o clube da minha indisponibilidade. Não queria voltar ao Paços de Ferreira».

Como reagiu a direção do Paços?
«Mal. Eu estava com uma pubalgia, contraída no Gil Vicente, e nem me deixaram tratar no clube. Não me queriam receber, não me queriam nas instalações… Falei com a pessoa que na altura me representava e disse-lhe que o Paços me ia tentar prejudicar ao máximo. Ele disse-me para estar tranquilo e que ia estava em contato com as pessoas do Paços. E passou um mês. Nada. Convidaram-me do Rio Ave, mas eu disse-lhes que tudo tinha de passar pelo Paços de Ferreira. Não facilitaram nada».

Nem o interesse do Rio Ave desbloqueou a situação?
«Não. Até o presidente Silva Campos me telefonou. Comecei a pensar em emigrar, mas o tempo passou, passou e levei as mãos à cabeça. Tive uma reunião posterior no Paços e eles propuseram-me um empréstimo ao Tondela, quando eu tinha o Rio Ave à espera. Disseram-me que pagavam 20 mil euros do meu contrato e o Tondela o resto. E eu confrontei-os com a situação do Rio Ave. Disse-lhes que eu ia para onde queria e não para onde eles queriam».

Acabou por não ir para lado nenhum.
«Não, o conflito arrastou-se. Ainda me ofereceram uma verba ridícula para rescindir e eu pedi metade do meu contrato. Não aceitaram. Cheguei a um ponto de exaustão. Desesperei. Falei com um advogado do Paços e disse-lhe: ‘eu nem que tenha de ficar em casa sem jogar, mas este clube vai ter de me pagar tudo o que me deve no contrato’. Assim foi, fiquei seis meses em casa».

Como foram esses dias no desemprego?
«Uma tortura. Primeiro tratei a minha pubalgia numa clínica, a expensas próprias. Tive de pagar tudo do meu bolso. Não recebi salário durante oito meses. Conciliei clínica com ginásio e fui imensas vezes treinar sozinho para a praia, à noite. Para as pessoas não me verem. Andei às duas e três da manhã na praia. Pegava nos meus headphones, no carapuço e lá andava, a correr no meio dos pescadores. Precisava dessa paz. Adormeci a chorar muitas vezes, sem a minha mulher se aperceber. Não lhe queria demonstrar o que estava a passar. Treinei, treinei, treinei. Tinha de estar preparado para uma oportunidade que surgisse. Até futsal com os meus amigos joguei, no bairro».

E em janeiro de 2016 surgiu o convite do Boavista. Foi um alívio?
«Estava a sair do ginásio, precisamente, quando me telefonaram do Bessa. Fui lá discutir as condições e em cinco minutos chegámos a acordo. O Boavista ofereceu-me um ano e meio de contrato, mas só aceitei meio. Foi muito rápido».