A época extraordinária do Paços de Ferreira coloca os «castores» no quinto lugar da Liga. Na passada jornada, a equipa recebeu e venceu o Sp. Braga com uma autoridade rara e voltou a surpreender o país desportivo. Ao leme deste barco está um treinador cada vez mais competente, que se destaca pelas ideias claras e desassombradas, um homem sem preconceitos e sem tabus. 

Pepa, o treinador do melhor Paços dos últimos anos, em entrevista exclusiva ao Maisfutebol. Nesta parte da conversa, uma análise muito detalhada a alguns nomes do plantel pacense. Jordi, os centrais, o polivalente Zé Uilton, os três homens do meio-campo e ainda os reforços já confirmados: Cristian Parano e Pedro Rebocho.

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Maisfutebol – Há algum jogador do Paços que lhe faça lembrar o Pepa quando era jogador? Perfil, feitio?
Pepa – Não posso dizer (risos). Se disser já sei que vão dizer que tenho lá um filhinho ou dois.

 

MF – E destes reforços que já chegaram, o que nos pode dizer? O Parano e o Rebocho.
P – O Cristian Parano foi identificado pelo departamento de scouting no San Antonio, dos EUA. Foi uma boa oportunidade de negócio/potencial desportivo. É fortíssimo no um para um, irreverente, diferente dos outros alas que temos, mas que requer uma adaptação prolongada. Por tudo. Pela capacidade física, pelo jogo europeu, pela forma de treinar. Vamos ajudá-lo a crescer e a seu tempo terá as suas oportunidades. Vamos analisar com calma o que é melhor para ele. O Rebocho já foi meu jogador no Moreirense e dispensa apresentações. Sabia que ia encaixar que nem uma luva porque é um rapaz fantástico.

MF – O Jordi tem sido uma grande revelação na baliza do Paços. Como é que este guarda-redes chega do Vasco da Gama à Mata Real?
P – O Paços para conseguir atletas deste nível – Jordi, Eustáquio, Marcelo – tem de jogar na antecipação. Se formos ombrear o salário com a maioria dos clubes da Liga, não temos hipóteses. Nesse capítulo ficamos nos últimos quatro/cinco lugares. Temos de arranjar estratégias para controlar isso. Como? Com um projeto desportivo capaz, que valoriza os atletas. Se entrarem na luta mais dois ou três clubes, teremos poucas hipóteses. O Paços cria empatia com os atletas.

MF – O que projeta para si em 2021?
P – Primeiro quero ajudar o Paços a conseguir atingir os seus objetivos. Isso é o mais relevante. Não sou hipócrita e não posso ser campeão nacional com o Paços de Ferreira. Os objetivos do clube interessam mais do que os meus. A médio-prazo existem os meus objetivos, claro. Quero valorizar os meus atletas e a equipa, espremer os meus jogadores ao máximo e retirar deles um rendimento que eles nunca demonstraram antes e ajudar o Paços a vender ativos, com aconteceu agora com o Oleg. Está tudo relacionado.

MF - «Espremer» os seus jogadores. O caso do Bruno Costa encaixa bem nessa expressão?
P – Sim, tem dado gosto vê-lo. Não só ao Bruno. É ótimo ver os jogadores felizes em campo. Olhem para o Luiz Carlos, com 35 anos. Cansa só de vê-lo a correr. A intensidade, a qualidade dele. É um grande profissional, uma das pessoas mais queridas no grupo. É fantástico, uma personagem incrível. O grupo é muito bom. Vejam o caso dos centrais. É uma dor de cabeça grande ter de optar por dois. O Pedro Marques está a crescer, vem da formação, mas depois o Baixinho, o Marcelo e o Maracás… é impressionante, é aproveitar o melhor momento de cada um. Se um se lesiona e depois volta, vai um bocadinho ao banco. Têm todos um grande nível. O Marcelo veio ajudar muito na estabilidade emocional do Douglas Tanque. O Marcelo é um líder nato, não precisa de andar ao grito. O Eustáquio é um treinador dentro do campo, é a minha extensão no campo. Está próximo de todos, está a jogar muito.

MF – Para a direita tem só o Fernando Fonseca?
P – E o Zé Uilton. Por necessidade nossa foi adaptado a lateral direito e por necessidade extrema também jogou na esquerda. Falta-nos profundidade quando joga ele lá, sim, mas cumpre muito bem. Há alas e laterais melhores, mas um que faça isso tudo de uma forma tão equilibrada, é difícil encontrar.

MF – O plantel do Paços parece ter sido bem desenhado.
P – Agora é fácil falar, mas o Bruno Costa pouco jogava em Portimão, o Luiz diziam que estava velho e o Eustáquio ainda recuperava de uma lesão gravíssima no México. O Hélder Ferreira pouco jogava no Vitória de Guimarães, o João Amaral e o Adriano Castanheira são jogadores de grande capacidade técnica e vão aparecer melhor. O grupo é sólido, equilibrado e todos sabem que podem ser úteis.

MF – Ainda foram buscar o Lucas Silva ao Flamengo.
P – É um menino que nunca tinha saído de lá e é preciso paciência. Mas todos terão as suas oportunidades.