O nome da localidade onde nasceu é mais complicado do que a sua relação com a baliza. Mario González é de Villarcayo de Merindad de Castilla la Vieja, perto de Burgos, teve uma passagem discreta pelo Atlético de Madrid, foi contratado pelo Villarreal e somou várias internacionalizações nas seleções jovens de Espanha. Jogou pelo Submarino Amarelo na Liga dos Campeões e na Liga Europa, e a Portugal chegou pela porta do Tondela. 

Os dois golos marcados no Estádio do Dragão para o campeonato e a participação decisiva no golo dos beirões para a Taça de Portugal, também na casa do FC Porto, chamaram a atenção do Maisfutebol. Está aqui um avançado de muito bom nível e a merecer justificada atenção. 

Em entrevista ao nosso jornal, Mario González dá a conhecer-se aos adeptos nacionais e passa em revista tudo o que fez até chegar à Liga lusitana. 
 

Maisfutebol – Como surgiu a possibilidade de jogar em Tondela e na liga portuguesa?
Mario González – Sou jogador do Villarreal, estava a fazer a pré-época com a equipa e comecei a procurar opções para a minha carreira, porque lá a concorrência era muito forte. Tive convites de Espanha, de França, mas em cima da hora falaram-me do Tondela. O presidente é espanhol, o mister Pako [Ayestarán] convenceu-me e optei por uma questão de sensações. Até agora estou muito contente, apesar de me ter lesionado logo ao terceiro treino. Colegas, dirigentes, funcionários, estou muito contente com todos.

Está a gostar de viver em Tondela?
É um sítio muito pequeno, não há muito para fazer, mas assim estou concentrado no meu trabalho. Acaba por ser melhor.

Leva três golos em quatro jogos. O início, depois da lesão, não podia ser melhor.
É verdade. Estive um mês parado e quando voltei a treinar estava com limitações. Contra o Gil Vicente estive no banco, mas não estava bem. Recomecei contra o Sporting e depois nos últimos jogos já me senti bem e os golos surgiram.

Fez dois golos ao FC Porto na Liga e esteve quase a marcar na Taça. Rematou e o João Mendes fez golo na recarga. Estar a esse nível contra um adversário tão forte foi o sinal que precisava?
O FC Porto está nos 16 melhores da Europa. Temos de jogar com as nossas armas nessas partidas. Estivemos bem organizados e saímos bem no contra-ataque. Aproveitei muito bem as minhas melhores virtudes: a velocidade e o jogo aéreo. Os golos surgiram precisamente assim. Fiz dois bons jogos no Dragão, foi pena não ter conseguido pontuar. Pessoalmente, foi muito bom.

O momento em que Mario González marcou pela primeira vez a Marchesín

Que imagem tinha da liga portuguesa antes de chegar?
Não sabia muito, tenho de admiti-lo. Está logo a seguir às melhores ligas, é bem organizada, a televisão tem uma grande influência e estou surpreendido com o bom nível futebolístico. Tive o prazer de jogar contra Sporting, Santa Clara e FC Porto, três equipas que estão bem classificadas.

A entrada de Casillas, Óliver, Lopetegui e outros espanhóis em Portugal deram uma visibilidade superior ao nosso campeonato em Espanha?
Sim, estou totalmente de acordo com isso e posso dar o meu exemplo. Quando me chegou o convite do Tondela eu tinha também a possibilidade de jogar na II divisão espanhola ou noutros países. Optei por Tondela porque senti que era um bom mercado para ter visibilidade e abrir portas ainda maiores. Valorizei muito isso, a liga está a crescer e esses nomes que mencionou foram importantes para isso.

Contra o Sporting defrontou três centrais, contra o FC Porto apenas dois. Para um avançado isso muda muito a abordagem ao jogo?
Contra o Sporting entrei ao intervalo e estive sozinho contra três defesas. Foi mais complicado, nesse contexto temos de ser mais inteligentes e perceber onde podemos fazer dano. Contra o FC Porto tivemos dois avançados na primeira parte e jogámos praticamente 2x2. São duas grandes equipas, é sempre difícil, mas é possível feri-los. Fui bem anulado contra o Sporting, mas a beleza do futebol passa também por tomar as melhores decisões.

Recebeu feedback das pessoas do Villarreal depois dos golos ao FC Porto?
Sim, sim, eles estão muito atentos a mim. Estou emprestado e eles seguem sempre o meu trabalho. Comunicamos bastante.

Em Tondela está outro espanhol que tem jogado regularmente, o Jaume Grau. O que nos pode dizer dele?
É um rapaz que treina muito bem, um colega excecional. Trabalhador, tem muita qualidade e tem estado bem no meio-campo. Tem sido importante para a equipa e também para me ajudar na adaptação. Está a fazer uma boa temporada. Levarei daqui uma grande amizade com o Jaume.

Já disse que o Pako Ayestarán foi importante para a sua decisão de escolher o Tondela. Como o define como treinador?
Simples e prático. Concentra-se no que é importante, não complica, sabe perfeitamente o que tem de fazer com a equipa. Encontrou um modelo de jogo que funciona com os nossos jogadores. É verdade que o plantel tem muita gente nova e acredito que a partir de janeiro o Tondela subirá de nível.

Mario González a jogar contra o Maccabi na Liga Europa (AP)

Há qualidade suficiente para fazer um ano tranquilo na I Liga, finalmente?
Sim, certamente. Numa primeira fase a ideia principal era ter bola, e podemos fazê-lo, mas começámos a perceber que somos mais perigosos e podemos fazer mais dano ao adversário em contra-ataque. Temos as duas opções e o Tondela este ano pode fazer história. O clube tem sofrido muito nos últimos anos e há qualidade para estar a um nível superior esta época.

O Mario está a gostar de algum jogador e de alguma equipa em especial na liga portuguesa?Do Sporting. Contra nós foi muito forte, mesmo. E do FC Porto, claro. São equipas com um nível muito superior. Em relação a jogadores, adorei ver o João Mário, do Sporting. E também gostei do médio do Portimonense, o Lucas Fernandes. Há muita gente de grande nível em todas as equipas.

Falemos sobre a sua carreira. Nasceu na região de Burgos, no Norte de Espanha. Como chegou ao Villarreal?
Comecei a jogar no Burgos, fui dois anos ao Atlético Madrid, mas voltei a casa. Não me adaptei à capital. Depois, aos 16 anos, voltei a sair de casa e fui para o Villarreal. Foi lá que comecei a ver que era possível ser profissional. Estive sete anos no clube, cheguei a jogar na equipa principal [seis jogos] mas, por várias razões, incluindo lesões complicadas, baixei o meu nível e no ano passado decidi jogar em França [Clermont]. A época foi ótima e este ano a ideia foi a mesma. Jogar e fazer golos.

Ainda jogou na Liga dos Campeões e na Liga Europa pelo Villarreal.
Sim, eu estava na equipa B e aproveitei algumas ausências no plantel principal. Foram dias felizes na minha vida, quero repeti-los. Joguei contra o Mónaco na Champions e contra o Maccabi Telavive na Liga Europa.

Bacca, Cheryshev, Pato. Esteve com grandes avançados no Villarreal.
Sim, mas quem eu destacaria é o Bruno Soriano, um jogador histórico do clube. É uma verdadeira instituição dentro do clube. Ainda faltam os nomes do Soldado, Cazorla e Bakambu nessa lista (risos). Aprendemos muito no dia-a-dia a vê-los treinar.

Quando era mais pequeno tinha algum ídolo?
Ídolo, não, mas sempre gostei do Fernando Torres. Acho que temos um estilo parecido enquanto avançados.

O Mario tem várias presenças nas seleções jovens de Espanha.
Sim, fantástico. E cheguei a jogar um Europeu de Sub17. É daquelas experiências que nunca esqueceremos.

No Villarreal teve o Rúben Semedo e o Edgar Ié, dois portugueses, com colegas de equipa. Como se dava com eles?
Tive mais ligação ao Edgar, jogámos dois anos na equipa B. Um rapaz impecável. O Rúben esteve cá pouco tempo, mas nos contactos que tivemos foi sempre muito simpático.

Quais são os seus planos? Ficar uns anos por Portugal?
Estou muito concentrado no Tondela e para já quero marcar golos e ganhar jogos (risos). Até junho é esse o meu pensamento. Gostaria de fazer história e ficar entre os dez primeiros ou fazer mais pontos do que nos últimos tempos. Tenho contrato com o Villarreal, mas estou muito feliz em Portugal e imagino-me claramente a jogar cá mais anos.