«Existe apenas um Mouriño e não é português.» Pelo menos para os jogadores e adeptos do Celta de Vigo, que regressou à primeira divisão espanhola. Carlos Mouriño Atanes é o presidente do clube e é visto como um dos maiores responsáveis pelo sucesso da equipa.

Quem olha para aquele homem de 69 anos não diria que tem motivos para celebrar. O «El País» descreve-o como discreto e introvertido, mas também como alguém com ar sofrido. «Sofremos muito, mas esta é uma compensação e todos estes festejos dão-nos ânimo», disse, sem conseguir esconder os sinais de cansaço.

O sorriso está lá, mas não espelha alegria. Talvez porque nos últimos anos a vida não foi gentil consigo. Para além de ter travado uma dura batalha para conseguir reerguer o Celta de Vigo, passou por dramas pessoais que abateriam qualquer um. Perdeu, em acidentes distintos, um filho e um neto.

«Sempre quis ser presidente do Celta», disse em maio de 2006, altura em que pagou quase quatro milhões de euros por 39 por cento das ações do clube. Vivia entre a Galiza e o México e era, até então, um desconhecido para os adeptos do Celta de Vigo.

O seu império começou a ser construído em terras mexicanas, onde procurou oportunidades na indústria hoteleira e automóvel. Nos anos oitenta, adquiriu um grupo de gasolineiras. Hoje a família Mouriño lidera uma holding com mais de 80 empresas.

A paixão pelo clube fez com que passasse por momentos de tensão com os filhos, nomeadamente com Marian, que no início acompanhou o pai nas andanças do futebol ¿ foi diretora de marketing do clube. Mas Marian regressou ao México quando a tragédia se abateu sobre a família. O irmão Juan Camilo, que era ministro do Interior mexicano, morreu num acidente aéreo.

Depois da morte do filho mais novo, Carlos Mouriño Atanes começou a passar menos tempo em Vigo, onde vivia momentos conturbados, devido a dívidas do clube. Mas tudo se compôs e o clube passou de uma dívida de 67 milhões para 30 milhões.

Apesar de o Celta de Vigo ter começado a dar-lhe alegrias, a vida não lhe sorriu e a tragédia voltou a bater à porta da família Mouriño. Há um ano, um neto morreu eletrocutado na piscina de um dos seus ranchos. Por isso, parece natural que seja comedido nos seus festejos. A batalha foi dura e minada por perdas incontornáveis. Mas o mérito ninguém lhe tira. Pelo menos os jogadores e adeptos do Celta de Vigo fazem questão de demonstrar o seu apreço e admiração.

Pelos vistos, Mouriño há mesmo só um. Mas tal como Mourinho (o português), este mostra ser um homem de luta e de sucesso. Será sina do nome?