A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Rodrigo Diez
Parceiro oficial no Chile: TVN 
Revisão: Vítor Hugo Alvarenga


Atacar, atacar, atacar. Não importa quem está pela frente. É esse o jogo desenfreado do Chile nos últimos anos. A agressividade – positiva – é outra imagem de marca, e vai da defesa até à linha ofensiva. É uma ideia que Jorge Sampaoli aproveitou do seu ídolo e antigo selecionador do Chile, Marcelo Bielsa, para evitar o cansaço de correr atrás da bola. É preferível tentar sufocar o adversário.

Taticamente, Sampaoli é muito parecido com El Loco (Bielsea). Joga normalmente com três avançados, dois nos flancos e o típico ponta-de-lança. Porém, o seu entusiasmo pelo criativo Jorge Valdívia – um médio ofensivo com grande qualidade técnica – motivou pequenas mudanças no seu esquema, dando ao jogador do Palmeiras a responsabilidade de alimentar Eduardo Vargas e Alexis Sánchez, surgindo várias e repentinas diagonais para surpreender as defesas contrárias.

Os flancos são importantes na seleção do Chile. Os laterais – Eugenio Mena do Santos e Mauricio Isla da Juventus – são vitais na tática de Sampaoli, portanto ele precisa de jogadores velozes e de confiança. A ligação entre Isla e Alexis Sánchez – que jogaram juntos na Udinese – é aproveitada vezes sem conta para causar estragos nos adversários.

La Roja não tem muita altura no ataque, portanto será raro observar cruzamentos longos para o segundo poste. O setor intermediário tem liberdade para apoiar a linha ofensiva e não falham soluções para chegar ao golo. Portanto, será essa a mentalidade chilena no Mundial.

Que jogador pode surpreender no Campeonato do Mundo?
Valdívia vai ter um papel diferente que em 2010. Este Chile é melhor que o desse torneio, a versão atual é mais flexível. Bielsa chegou a sacrificar Valdívia como avançado centro, enquanto Sampaoli pode mudar a sua equipa de 4-3-3 para 3-4-3 ou 3-5-2, embora o seu esquema favorito seja o 4-3-1-2, com Valdívia nas costas de Sánchez e Vargas, onde ele pode realmente desequilibrar as defesas contrárias.

E que jogador pode desiludir as pessoas no torneio?
Não tanto um jogador, mas um setor: a defesa. Mauricio Isla e Eugenio Mena são bons laterais mas o Chile é fraco pelo centro. Como não há um par de centrais altos e fortes, Gary Medel (Cardiff) tem de recuar para alinhar nessa posição. A seu lado, habitualmente, está Marcos González, o jogador mais alto da equipa. Este jogou pouco no Flamengo e chega ao Mundial em fraca condição física. Sampeoli e o staff estão a tentar melhorar os índices físicos de Marcos até ao Mundial. Se isso acontecer, o cenário melhor. Se não, o objetivo passa por manter a bola bem longe da área do Chile.

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
Valerá a pena acompanhar os jogos do Chile. O estilo atacante de Sampaoli foi notório durante os jogos de qualificação na América do Sul e neste Mundial estará a melhor geração de La Roja de que os adeptos se lembram. O Chile nunca teve um número tão grande de jogadores em grandes equipas. É uma constelação que fez todos os adeptos sonhar, até ao dia do sorteio. Espanha e Holanda, para além de Chile e Austrália no Grupo B. Os adeptos do Chile, mesmo perante dois finalistas do Mundial de 2010, têm grandes esperanças. Se La Roja passar a fase de grupos, será o resultado final de um trabalho iniciado por Marcelo Bielsa em 2007, quando o Chile começou a ser uma das seleções mais respeitadas da América do Sul. 

 
Curiosidades e segredos da seleção

Miiko Albornoz
Uma das estrelas do Chile nasceu em Estocolmo, na Suécia. O seu pai é de Valparaíso mas emigrou para a Europa no início dos anos 80. Aos 15 anos, Miiko fez um teste de uma semana no Chelsea mas decidiu não sair da Suécia. Foi internacional sueco entre os sub-15 e os sub-21. Em dezembro de 2013, os nórdicos convocaram o jogador para a seleção principal mas este recusou e decidiu representar o Chile, concretizando o sonho de disputar um Mundial.

Jorge Valvídia
Valdívia é um ídolo dos adeptos do Palmeiras mas apanhou um grande susto em junho de 2012, quando ele e a sua mulher – a modelo chilena Daniela Aranquiz – foram raptados em São Paulo e obrigados a pagar uma quantia avultada para saírem em liberdade. O Palmeiras reforçou a segurança em torno da família de Valdívia desde então e ele continua a representar o clube, mas espera que o Mundial lhe garanta a possibilidade de se transferir para a Europa.

Alexis Sánchez
O avançado do Barcelona nasceu em Tocopilla, uma pequena localidade no norte do Chile. Embora tenha uma enorme fama e muito dinheiro, Alexis não esquece as suas origens e em cada Natal vai até Tocopilla com presentes para todas as crianças.

Eduardo Vargas
Com tenra idade, jogou em clubes como Palestino e Universidade Católica mas nunca teve grande continuidade, já que sentia dificuldades em atravessar a cidade para chegar aos treinos. O seu talento estava em perigo. Mas Vargas teve a oportunidade de participar num ‘reality show’ para jovens talentos e, mesmo sem vencer, demonstrou a sua qualidade. Pouco tempo depois, com apenas 17 anos, estava a jogar na primeira divisão do Chile.

Arturo Vidal
Vidal não é conhecido no Chile apenas pelos adeptos de futebol, mas também pelos seguidores de corridas de cavalos. O jogador é um fanático desse desporto, costuma assistir a várias corridas no seu país e gosta de ver como estão os seus cavalos antes de cada corrida. Hoje em dia, é um criador de sucesso e um investidor ousado, comprando alguns dos melhores cavalos do mercado.

Perfil de uma figura da seleção: Marcelo Díaz 
 
Os jornais de Espanha colocaram-lhe a alcunha de «Xavi do Chile» depois de verem as suas exibições no meio-campo do Basileia durante a última edição da Liga dos Campeões. A sua visão de jogo, a habilidade e a energia justificam os elogios.

Marcelo Díaz é um jogador fundamental no Chile, face às suas qualidades e também por ser um dos elementos que melhor compreende os ideais de Jorge Sampaoli. Porém, o médio teve de superar imensas dificuldades para chegar a este nível.

Embora Arturo Vidal e Alexis Sánchez sejam mais conhecidos, Díaz é o jogador mais importante para Sampaoli. É o ‘treinador dentro das quatro linhas’.

Curiosamente, quando iniciou a sua carreira, ninguém acreditava que ele chegaria tão longe. Com 17 anos, chegou à equipa principal do Universidade do Chile mas fez apenas uns minutos durante essa temporada, como lateral direito. Seis anos mais tarde, pouco ou nada tinha mudado. Nunca conquistou os treinadores que passaram pelo clube e tinha de jogar várias vezes fora da sua posição. Nessa altura, Marcelo Díaz chegou a pensar em desistir do futebol.

Tudo mudou quando decidiu aceitar a proposta de empréstimo ao Deportes La Serena, uma pequena equipa do norte do país. Deixar o Universidade foi difícil, já que Díaz é de Santiago e adora o clube desde sempre, mas acabou por ser a melhor decisão possível.

No Deportes La Serena, começou a jogar como médio-centro, assumindo-se como cérebro da equipa. Sampaoli chegou entretanto ao Universidade e ordenou o regresso do jogador, depois de ver as suas exibições. Díaz regressou, agora para conquistar o estatuto de ídolo no clube. Consigo, em 2011, a equipa venceu os dois torneios domésticos e a Copa Sul-americana.

Marcelo Díaz foi elogiado um pouco por toda a parte e acabaria por rumar ao Basileia. Na Suíça, foi por duas vezes campeão e continuou a evoluir.

Entretanto, o médio também reforçou a sua posição na seleção do Chile, sobretudo após a chegada do técnico Jorge Sampaoli.

O médio é bastante completo, tanto a defender como a atacar. Apoia constantemente o último reduto e, quando sobe no terreno, raramente perde a posse de bola. Para além disso, tem melhorado ao nível do remate.

Aos 27 anos, Marcelo Díaz vai disputar o seu primeiro Mundial. Pode não ser o jogador mais conhecido da equipa, mas é o verdadeiro motor e o homem que marca o tempo na seleção. O sucesso terá de passar por ele.