A 'World Cup Experts Network' reúne órgãos de comunicação social de vários pontos do planeta para lhe apresentar a melhor informação sobre as 32 seleções que vão disputar o Campeonato do Mundo. O Maisfutebol representa Portugal nesta iniciativa do prestigiado jornal Guardian. Leia os perfis completos das seleções que participarão no torneio:

Autor dos textos: Alejandro Pino Calad
Parceiro oficial na Colômbia: Caracol 
Revisão: Vítor Hugo Alvarenga


Por muitos anos, a seleção colombiana ficou conhecida por ter uma defesa forte, mas também pelos evidentes problemas em marcar golos. Com um sistema defensivo baseado na marcação à zona, a equipa qualificou-se para três Campeonatos do Mundo na década de noventa mas não regressou ao torneio desde 1998. Neste verão, os ‘cafeteros’ estão de volta e vão mostrar os seus dentes!

José Pékerman assumiu o cargo de selecionador da Colômbia no início de 2012 e essa decisão partiu a história da equipa em dois. Antes do argentino, o último estrangeiro a comandar a seleção tinha sido Carlos Bilardo, que não evitou o afastamento na qualificação para o Espanha 1982. Esse falhanço abriu a porta para Francisco Maturana, que iniciou o seu percurso em 1987 e revolucionou por completo a equipa.

Sob o comando de Maturana e o seu braço direito (Hernán Darío Gómez), Colômbia reforçou a sua posição no futebol internacional com três qualificações consecutivas para Mundiais – Itália 90, Estados Unidos 94 e França 98 – com uma filosofia clara: marcação à zona, pressão sustentada e um jogo baseado na posse de bola. Francisco Maturana regressaria ao cargo em 2001, levando a seleção à única vitória na Copa América, mas não conseguiu recuperar a filosofia de jogo que tinha sido eficaz com a geração de ouro liderada por Carlos Valderrama. Passaram-se dezasseis anos sem a presença da Colômbia em Campeonatos do Mundo.

Os ‘cafeteros’ regressam agora e, mesmo assim, sentiram dificuldades no arranque da qualificação. Leonel Alvarez foi despedido após a derrota frente à Argentina em Barranquilla, no seu terceiro jogo como selecionador. Nessa altura, chegou Pékerman e começou a revolução. Com o argentino, a Colômbia passou a ser uma equipa que gosta de ter o controlo da bola, recorrendo a um sistema 4-2-2-2 extremamente vertical, para explorar o talento das unidades mais ofensivas. Todas elas jogam ao mais alto nível: Falcao - que fica de fora devido a lesão -, Teófilo Gutiérrez, Jackson Martínez, Carlos Bacca, Adrián Ramos…

O conceito ofensivo de Pékerman é simples: um número 9 (que não será Falcao, estando Bacca em vantagem para a sucessão), um segundo avançado (Teo Gutíerrez) encarregue de fazer a ligação entre o meio-campo e o ataque e dois elementos que surgem nos flancos e alargam o jogo (James Rodríguez e Juan Cuadrado).

Para além do perigo criado pelos dois extremos, a Colômbia recorre bastante aos laterais, Camilo Zúniga e Pablo Armero, que surgem com regularidade em zonas atacantes. Quando perde a bola, a seleção procura desde logo evitar os contra-ataques. A unidade mais defensiva do setor intermediário costuma ser Edwin Valencia (Fluminense), mas o jogador lesionou-se e vai falhar o Mundial. O outro lugar, com maior responsabilidade de distribuição de jogo, é disputado por Aldo Ramírez e Abel Aguilar.

O quarteto defensivo tem dado as maiores dores de cabeça ao selecionador durante a qualificação. Por isso, a responsabilidade caiu sobre o guarda-redes David Ospina, que se exibiu a grande nível e tem presença praticamente assegurada entre os postes no Mundial.

Que jogador pode surpreender no Campeonato do Mundo?
Santiago Arias pode ser a surpresa. Pékerman percebeu que não tinha laterais de qualidade para além de Armero e Zúniga e chamou o jogador do PSV, que demonstrou grande qualidade. Arias, o novato, pode ocupar o lado direito da defesa e isso permite que Zúniga também possa derivar para a esquerda e servir de alternativa a Armero.

E que jogador pode desiludir as pessoas no torneio?
Poderia ser Falcao, se corresse o risco de jogar no Mundial sem a necessária condição física. Aliás, a sua presença na lista provisória de Pékerman já tinha sido surpreendente,  já que ele está afastado da competição há vários meses. Foi um ato de fé em relação à maior estrela da equipa mas Falcao acabou por ficar de fora e isso pode afetar profundamente a moral da equipa. 

Qual é a expetativa real para a seleção no Mundial?
Este será o quinto Mundial para a Colômbia e até agora a seleção só passou a fase de grupos no Itália 90. O objetivo passa por conseguir o melhor resultado de sempre, chegando aos quartos-de-final do torneio pela primeira vez. Isto não será nada fácil, já que a maior parte da equipa é relativamente jovem e o único jogador com experiência de Mundiais é o guarda-redes suplente, Mondragón, que foi o titular no França 98. 

 
Curiosidades e segredos da seleção

Amaranto Perea
É um dos capitães da seleção, venceu a Taça Libertadores e a Taça Intercontinental com o Boca Juniors, bateu o recorde de jogos de um estrangeiro no Atlético Madrid e está agora no Cruz Azul do México. Porém, Perea começou por ser um vendedor de gelados antes de iniciar a sua carreira professional.

Faryd Mondragón
O guarda-redes pode tornar-se o jogador mais velho a atuar em fases finais de Campeonatos do Mundo, se for utilizado. Mondragón celebrará o seu 43º aniversário a 21 de junho e sonha bater o registo de Roger Milla, que jogou no Mundial de 1994 com 42 anos, um mês e oito dias.

Carlos Bacca
Em 2006, com vinte anos, Bacca estava a sentir dificuldades para entrar na equipa principal do Junior. Por isso, foi cedido ao Barranquilla FC e durante esse período acabou por exercer outras funções como vender peixe ou ser revisor de autocarro em Puerto Colombia. Após novo empréstimo, desta vez ao Minervan da Venezuela, Carlos Bacca regressou com estatuto ao Junior e a sua vida mudou para frente. Chega ao Mundial como figura do Sevilha e vencedor da Liga Europa.

James Rodríguez
Durante a estadia no Envigado, quando tinha 16 anos, James conheceu David Ospina e estabeleceu uma grande amizade com o guarda-redes. Mais tarde, o camisola 10 foi apresentado à irmã de David, Daniela Ospina, que era jogadora de voleibol. Hoje em dia, Daniela é a mulher de James e a mãe da sua filha. Os dois jogadores são agora titulares da seleção da Colômbia.

Perfil de uma figura da seleção: Juan Guillermo Cuadrado

Juan Guillermo Cuadrado, atual jogador da Fiorentina, é um homem desejado. Em Espanha, em Inglaterra, na Alemanha e mesmo nos maiores clubes de Itália. O que faz do extremo de 25 anos a potencial revelação da Colômbia neste Campeonato do Mundo?

Em 2008, com apenas 18 anos, o esguio adolescente chegou ao Independiente Medellín da primeira divisão. Vinha de Necoclí, uma pequena cidade no norte da Colômbia conhecida pelas suas bananas e pelas praias. Cuadrado foi descoberto enquanto jogava pelo local Atlético Urabá.

O jovem desejava há muito chegar à segunda maior cidade do país, Medellín, onde morava a sua mãe, mas pelo meio esteve a treinar no Rionegro e chegou a tentar a sua sorte na Argentina. Essa viagem acabou em desilusão já que o Cuadrado teve de regressar a casa.

No Independiente Medellín, o jogador assumiu-se como um ala direito, demonstrando capacidade para fazer todo o seu flanco e tirar bons cruzamentos. Tinha uma cara de bebé mas apresentava uma qualidade de passe digna de um veterano. Mesmo em estádios cheios, Cuadrado não tremia.

Os adeptos do Independiente, de qualquer forma, tiveram pouco tempo para observar in loco o talento do jogador. Em 2009, um olheiro levou-o para a Europa. Cuadrado assinou pelo Udinese mas acabou por ser emprestado ao Lecce. Na época 2011/12, destacou-se na equipa e acabou por despertar o interesse da Fiorentina, embora o Lecce tenha sido despromovido.

Juan Cuadrado tinha evoluído no Lecce e deixara de ser um mero lateral direito, ocupando agora uma posição mais ofensiva. No novo posto, o colombiano brilhou e ajudou a Fiorentina a terminar consecutivamente no 4º lugar da Serie A.

Nos últimos anos, o extremo assumiu-se igualmente como uma referência na seleção da Colômbia. Pékerman conseguiu rentabilizar ao máximo o jogador. As câmaras seguiam habitualmente Radamel Falcao, quando este jogava, mas o selecionador apostava sobretudo nos dois extremos – James na esquerda e Cuadrado na direita – para causar estragos e fazer da equipa uma máquina ofensiva.

Juan Guillermo Cuadrado ainda pode melhorar mas este Mundial pode ser o seu grande momento. Para além da sua velocidade e qualidade técnica, o jogador demonstra instinto para surgir na área (marcou 15 golos em 42 jogos pela Fiorentina na última época).

Num recente amigável frente ao Brasil, Cuadrado encheu o campo e assinou o tento do empate (1-1). No final, trocou de camisolas com Neymar. Nada mau para o miúdo que veio da região das bananas. Veremos o que aconteceu depois do Mundial. A Fiorentina pagou 14 milhões de euros pelo passe do extremo e agora perde cerca de trinta milhões.