Ponto prévio: o que o Dragão vai viver no sábado é algo de muito raro. F.C. Porto e Benfica só jogaram para o título num clássico entre eles numa das duas últimas jornadas do campeonato por duas vezes em toda a história da competição. O que diz tudo sobre este jogo.

Ora como se trata de um clássico com um caráter de exceção, convém que os adeptos o vivam como ele merece ser vivido. Podem começar, por exemplo, por perceber isso mesmo: que se trata de uma oportunidade rara. Depois convém perceber que a história aponta para um empate.

Aliás, qualquer outro resultado seria uma novidade. As duas ocasiões em que os rivais entraram nas duas jornadas finais a discutir o título, e se defrontaram numa delas, acabaram sempre em empate. O que, por arrasto, confirmou o título para o rival que partia na liderança.

CLÁSSICOS DO TÍTULO NAS ÚLTIMAS DUAS JORNADAS

38/39: F.C. Porto e Benfica empatam na última jornada e F.C. Porto é campeão

O F.C. Porto de Siska, que ainda é o mais novo treinador campeão de sempre, entra na última ronda com dois pontos de avanço. O clássico decide o título e justifica a ampliação da Constituição para 20 mil pessoas, lotação essa que esgotou e rendeu 117 contos. O jogo acaba em empate (3-3) e em polémica: o Benfica fez um golo no último minuto que lhe daria o título, mas foi anulado pelo árbitro. Houve mosquitos por cordas. A comitiva encarnada foi depois recebida em Lisboa em festa, com direito a banquete para todos.

Porto: Soares dos Reis; Sacadura e Guilhar; Anjos, Carlos Pereira e Reboredo; Lopes Carneiro, António Santos, Costuras, Pinga e Nunes.

Treinador: Siska

Benfica: Martins; Vieira e Gustavo; Gaspar, Albino e Francisco Ferreira; Barbosa, Rogério Pipi, Espírito Santo, Brito e Valadas.

Treinador: Lip Hertzka

Golos: 1-0, António Santos (2); 1-1, Rogério (7), 2-1, Costuras (44), 2-2, Brito (47), 3-2, António Santos (61) e 3-3, Brito (62)

68/69: F.C. Porto e Benfica empatam na penúltima jornada e Benfica é campeão

No ano que junta Eusébio à estreia de Toni, o Benfica é uma instituição mundial: a época começa com uma digressão de um mês pela América. A equipa chega a Portugal cansada e anda sempre na peugada do F.C. Porto. Este era porém um dragão minado por dentro: nas últimas quatro jornadas, o Porto perde em Coimbra, empata em casa com o U. Tomar e perde a liderança. É já sem Pedroto no banco, entretanto despedido, que o clássico na Luz da penúltima jornada decide o título: o nulo permite ao Benfica ser campeão.

Porto: Rui; Bernardo da Velha, Almeida (Chico Gordo, 73), Valdemar e Atraca; Rolando e Pavão (Lisboa, 71); Pinto, Djalma, Gomes e Nóbrega.

Treinador: António Morais

Benfica: Zé Henrique; Adolfo, Humberto, Zeca e Cruz; Jaime Graça e Toni; Zé Augusto, Praia (Coluna, 68), Eusébio e Simões .

Treinador: Otto Glória

O outro clássico

Houve outro caso parecido: em 77/78, Porto e Benfica empatam na antepenúltima jornada. Foi a época de todas as glória do F.C. Porto: ao fim de dezanove anos, recuperou o título. Foi também o tal ano em que o Benfica acabou sem derrotas, mais isso não chegou para ser campeão.

A formação de Mortimore, que voltava a contar com Humberto Coelho, liderou toda a época, mas os empates inesperados com Belenenses e Varzim permitiramm a ultrapassagem do F.C. Porto. A três jornadas do fim, nas Antas, Ademir empatou aos 83 minutos. Foi um ponto que valeu o título.

Porto: Gabriel (Seninho, 64); Simões, Freitas (Vital, 45) e Murça; Octávio, Rodolfo e Ademir; Oliveira, Duda e Gomes.

Treinador: Pedroto

Benfica: Fidalgo; Bastos Lopes, Humberto, Eurico e Alberto; Pietra, José Luís (Pereirinha, 37), Toni e Shéu; Nené e Chalana (Celso, 78)

Treinador: Mortimore

Golos: 0-1, Simões, 4, pb; 1-1, Ademir, 83.