Seis meses na cidade do Porto foram suficientes para gerar um impacto profundo na vida de David Stephens. O nome pode não dizer nada ao leitor, mas este é o inglês que pagou seis mil euros pela réplica da Taça de Portugal que o F.C. Porto conquistou em 1994, em leilão promovido pela Fundação Bobby Robson. Foi, de resto, a memória da passagem do falecido técnico pela Invicta que motivou o investimento.

A simplicidade de Robson não permitiu apenas a aproximação do vizinho André Villas-Boas, que decidiu questionar uma opção técnica. A estudar no Porto durante o primeiro semestre de 1994, no âmbito do programa «Erasmus», David Stephens também procurou contactar o compatriota, que venerava pela ligação ao «seu» Ipswich Town. «Comecei a ir aos treinos e um dia escrevi-lhe uma carta. Mostrou-me o estádio e começou a dar-me bilhetes para os jogos», explica o inglês, em conversa com o Maisfutebol.

O contacto tornou-se regular. «Estava com ele duas ou três vezes por semana. Falávamos do futebol inglês, mas também dos jogos do F.C. Porto. Lembro-me dos duelos com o Milan e o Anderlecht, para a Taça dos Campeões Europeus. Chegou a dar-me boleia para casa. Ele morava na Boavista e levava-me a São Mamede de Infesta», recorda.

David Stephens esteve apenas meio ano no Porto, mas o contacto com Robson deixou marcas na personalidade do então jovem estudante. «Era fantástico, nada pretensioso. Uma inspiração como ser humano. Mostrou-me que se pode ter sucesso sem perder a humildade. Teve um enorme impacto na minha vida. Mostrou-me valores que transportei para os negócios», explica o agora director-geral da Retail Sparks Connect Ltd.

O carisma de Mourinho e um regresso melancólico

Stephens tornou-se presença assídua nas Antas, onde se cruzava com um tal de José Mourinho. «Tenho uma fotografia com ele e com o senhor Robson, mas não sei onde anda. Não falei muito com ele, mas tinha carisma. Era muito bom ouvinte», recorda ao nosso jornal.

Pinto da Costa não chegou a conhecer, mas lembra-se de Robson falar do presidente que agora lhe vai entregar a réplica da Taça de Portugal, no dia do jogo com o Zenit. «Robson tinha muito afecto por ele. Saiu aborrecido do Sporting, sentiu-se mal tratado, e no Porto voltou a sentir-se em casa. Gostava muito da cidade. As pessoas são parecidas com as do norte de Inglaterra», explica o inglês.

A morte de Robson, em 2009, empobreceu o futebol, e todos aqueles que lidaram de perto com ele, incluindo David Stephens. E foi por isso que, dois anos depois, decidiu comprar a réplica da taça. «Era uma oportunidade única para ter algo com este significado. Foi o primeiro troféu dele em Portugal. Espero tratá-la bem. Vai ficar ao pé das camisolas e dos cachecóis do F.C. Porto que tenho em casa», diz alguém que se tornou adepto dos «dragões». «É azul, como o Ipswich, o que facilita. Costumo seguir os resultados. Estive na visita a Old Trafford, quando o treinador era o Mourinho. Os meus amigos apoiaram o Man Utd e eu apoiei o F.C. Porto», conta.

Para 6 de Dezembro está marcado o regresso ao Porto. «Nunca voltei à cidade, embora tenha desejado isso muitas vezes. Estou muito ansioso. É uma grande oportunidade, também para conhecer o novo estádio, e passar em sítios que me fazem falta.»

Recorde Bobby Robson: