Apenas por uma vez o Porto defrontou o Shakhtar Donetsk na Ucrânia. O empate a uma bola foi suficiente para os dragões seguirem para as meias-finais da Taça das Taças em 1984. Duas antigas glórias que actuaram pelo F.C. Porto nesse jogo relembram ao Maisfutebol como foi há 27 anos. Jaime Pacheco e António Sousa num passeio falado pelo apogeu da Guerra Fria na União Soviética.

Tal como nesta quarta-feira, também a 21 de Março de 1984 a deslocação a Donetsk assumia contornos decisivos para a continuação do F.C. Porto nas provas europeias. Mas as semelhanças extravasam as quatro linhas; se hoje o contingente policial nas ruas da cidade ucraniana é grande, também na época o olhar predador das forças de segurança estava em todo o lado.

Jaime Pacheco lembra-se, principalmente, das difíceis condições climatéricas. «Lembro-me do frio. Estava muito frio, o campo estava com cerca de meio metro a um metro de gelo, o jogo esteve até para não se realizar», recorda o antigo médio ao nosso jornal.

Ainda assim, Jaime Pacheco salienta a boa organização dos portistas. «Íamos preparados com alimentação e com cozinheiro; naquela altura viajar para a União Soviética era complicado. Íamos bem prevenidos, bem preparados para tudo.»

Empate serviu à equipa treinada por António Morais

Tal como é prática corrente nos dias de hoje, Jaime Pacheco assume que há 27 anos iam precavidos para as dificuldades que a equipa soviética podia causar: «Sabíamos o que íamos encontrar. Fizemos uma análise individual e colectiva.

Tínhamos um conhecimento muito forte do adversário, dentro das possibilidades do clube. Sabíamos que o Shakhtar Donetsk era uma equipa forte.»

Donetsk, 1984: a ditadura e a Guerra Fria na vida soviética

Daí as dificuldades descritas ao Maisfutebol pelo técnico de 53 anos, que salientou a pressão dos adeptos: «Foi um jogo muito difícil. Eles estiveram a vencer por uma bola a zero e acabamos por empatar. Foi um jogo difícil não só pela pressão dos adeptos, que estavam muito em cima, mas também pela qualidade da equipa.»

A missão do F.C. Porto foi, porém, bem sucedida. O empate a uma bola foi conseguido aos 71 minutos por Mike Walsh. O Shakhtar Donetsk esteve com um pé nas meias-finais mas o F.C. Porto nunca perdeu o norte: «A seguir ao golo foi complicado; ganhar por um golo era suficiente para eles, mas sabíamos que podíamos marcar e nunca baixámos os braços.»

O que pode fazer este Porto?

Em 2011 como em 1984. Jaime Pacheco acredita num grito de revolta do F.C. Porto comandado por Vítor Pereira, mas avisa que no seguimento das actuações mais recentes as probabilidades de derrota são elevadas.

«Se o Porto for o Porto dos últimos tempos pode perder e as hipóteses de perder são altas. Se houver uma mudança na mentalidade, e o Porto tem capacidade e jogadores para isso, pode até dar um grito de revolta e partir para um bom final de Liga dos Campeões», referiu Jaime Pacheco.

Para o actual treinador do Beijing Guoan, da China, a receita para os dragões darem a volta por cima é a união: «Os jogadores têm qualidade, depende deles.»



A 21 de Março de 1984, em Donetsk, o F.C. Porto apresentou a seguinte equipa:

Zé Beto; João Pinto, Lima Pereira, Eurico e Eduardo Luís; Rodolfo Reis (Mike Walsh, 66); Jaime Magalhães, Jaime Pacheco e Sousa; Fernando Gomes (Inácio, 88) e Vermelhinho.

Treinador: António Morais

Golos: Gratcho (63) e Walsh (71)