Olhares perdidos à procura de uma resposta nas gotas de chuva. Ombros encolhidos, braços caídos, uma sensação de raiva e injustiça a percorrer corpos azuis e brancos. Após 180 minutos de um frente e frente tabelado com o Manchester United, o F.C. Porto falha o assalto às meias-finais pela diferença de um golo. Um golão, de resto, apontado por Cristiano Ronaldo, o algoz do dragão na Liga dos Campeões.
O Manchester United fez história e tornou-se na primeira equipa inglesa a vencer em casa do F.C. Porto. Os red devils entraram de rompante, marcaram muito cedo e geriram com competência a vantagem. Corajosos, os dragões acreditaram na salvação do empate até ao último instante, mas o apito final arremessou-os de encontro à mais dura das realidades: para se ganhar esta liga milionária é preciso um plantel com alternativas quase tão boas como as primeiras figuras.
15 minutos de pesadelo azul e branco
Linhas azuis e brancas demasiado recuadas, espaço benevolente para as primeiras fases de construção do ManUtd, posse e circulação de bola perfeitas por parte dos ingleses. Perante estes condimentos, os 15 minutos iniciais foram de controlo absoluto para o Manchester United.
Nesta fase, o F.C. Porto concedeu a liberdade que em Old Trafford nunca permitiu. Diante desta apatia, talvez receio, dos dragões, os red devils cresceram, cresceram, cresceram e explodiram dentro da baliza de Helton.
O golo de Cristiano Ronaldo é, de facto, uma obra-prima e abalou as fundações do F.C. Porto. Após uma exibição desinspiradíssima em Inglaterra, o português do ManUtd apareceu espicaçado pelo recente recado de Alex Ferguson e não poderia ter respondido ao decano técnico da melhor maneira.
Sem general e sem comandante
A partir dos 15/20 minutos o F.C. Porto percebeu aquilo que poderia e deveria jogar. Equilibrou as operações, passou a ter mais bola e assustou pela primeira vez Van der Sar na marcação de um livre directo de Bruno Alves.
E quando os tricampeões nacionais começavam a engolir o ManUtd, Lucho lesionou-se. Sem o general Jesualdo no banco, o F.C. Porto perdia também o seu comandante à passagem da meia-hora. Mau presságio, pois, até por se saber que não abundam as alternativas para o meio-campo azul e branco.
Tanto é assim que José Gomes ordenou a entrada de Mariano Gonzalez e não de Tomás Costa ou Guarín. A descida qualitativa do futebol azul e branco coincidiu precisamente com a saída forçada de Lucho Gonzalez. Se o cérebro do dragão não pensara com lucidez até aí, sem o seu elemento mais inteligente começou a raciocinar ainda com mais dificuldade.
Uma matreirice que bloqueia
Olhando com avidez para o encontro, um dado ressalta: este Manchester United apareceu bem melhor do que na semana passada, quando levou uma lição de futebol azul e branco. Ter Rio Ferdinand na defesa não é o mesmo que ter Johny Evans; possuir um Anderson gigantesco no «miolo» não é o mesmo que contar com um tal de Darren Fletcher; o sereno Ryan Giggs não é exactamente igual ao inconsequente Park.
O ManUtd entrou fortíssimo, aguentou a reacção do F.C. Porto, aproveitou a lesão de Lucho Gonzalez e bloqueou a ânsia do dragão ao longo de toda a segunda parte. A matreirice, a esperteza prática, o ardil dos britânicos funcionou em pleno. O Porto tentou aqui e ali incomodar Van der Sar, conseguiu-o em duas ou três ocasiões, mais com o coração do que com a cabeça, mas a dada altura percebeu-se que muito dificilmente o marcador se alteraria.
Não se alterou. O F.C. Porto saiu da Liga dos Campeões sob aplausos, mas pouco convencido da anunciada superioridade do ManUtd. E com razões para isso, principalmente pelos primeiros 90 minutos desta eliminatória.