Tragam o cachimbo da paz. O dragão pode fumá-lo e saborear a reconciliação com as boas actuações. Na melhor aparição da temporada, o F.C. Porto sofreu muito mas venceu o Rio Ave. As más energias abandonaram os azuis e brancos. Por agora, a equipa reequilibrou-se, reencontrou o plano delineado no início da época e, tão ou mais importante, encurtou distâncias para o Benfica.
Numa noite de glamour futebolístico, com espectáculo de primeiríssima categoria, os dragões esbarraram uma, duas, três, muitas vezes na qualidade de um guarda-redes chamado Carlos. Mas cedo se percebeu que muito dificilmente os tetracampeões deixariam de triunfar. Porquê? Porque não cedeu à tentação do comodismo e da preguiça. Foi Porto desde o apito inicial. E isso é capaz de ter feito toda a diferença.
Esta versão melhorada, condimentada com rasgos de entusiasmo e laivos de inconformismo, surge numa altura primordial da temporada. Não há outra forma de o dizer: os tetracampeões nacionais têm responsabilidades, obrigações, que não se coadunam com as aparições anteriores.
Frente a um Rio Ave de muito boa qualidade - a equipa de Carlos Brito sabe muito bem, de facto, aquilo que pretende - o F.C. Porto atenuou a má imagem do passado recente. Mas ainda tem muito por onde melhorar.
Um dragão diferente desde o primeiro instante
Os primeiros segundos do jogo trouxeram um Porto diferente. Muito mais móvel, agilizado, empreendedor, foi capaz de combinações muito interessantes e cedo espalhou a intranquilidade na área do Rio Ave.
Mas a resposta dos vilacondenses foi surpreendente. De peito aberto, os homens de Carlos Brito foram capazes de equilibrar o jogo e, de quando em vez, incomodar Beto. E estávamos nisto quando Hulk inaugurou o marcador.
Compreensivelmente, pensou-se que o F.C. Porto cavava em definitivo a diferença no marcador. Nada disso. Praticamente na resposta, um cabeceamento do eterno João Tomás colocou as contas empatadas e reavivou os espíritos do mal que têm assolado o bem-estar do tetracampeão.
Varela veste a capa de salvador
Desta vez, porém, percebeu-se que só muito dificilmente o F.C. Porto deixaria de vencer. A equipa de Jesualdo não entrou em depressão com o empate, manteve-se coerente, equilibrada e enérgica.
Fucile irradiou o lado direito com irreverência (ao vermos o uruguaio em campo percebemos o flop que é Sapunaru), Alvaro Pereira cavalgou quilómetros, Belluschi e Raul Meireles impuseram organização e inteligência ao meio-campo.
Na frente, Hulk e Rodríguez aproximaram-se do patamar qualitativo atingido na temporada anterior. Falcao voltou a não marcar, falhou uma grande penalidade, mas mergulhou numa exibição modelada em esforço e altruísmo.
Perante isto, e perante tantos e tantos lances para golo no segundo tempo, o segundo dos dragões não surpreendeu. Já com Farías e Varela em campo, com a equipa em 4x2x4, a segunda destas apostas desferiu a esticada final na indefinição no marcador. O F.C. Porto venceu, venceu bem e reconciliou-se consigo e com os adeptos.
Nas notas finais, cabe ainda o nome de Maicon, uma surpresa reservada pelo conservador Jesualdo. O brasileiro fez dupla com Bruno Alves e remeteu Rolando para o banco. Sobre o árbitro, apenas uma observação: a grande penalidade foi mal assinalada.