O F.C. Porto perdeu em casa, o que já nem causa qualquer espanto, mas o pior mesmo é que perdeu bem. É certo que teve o infortúnio do seu lado, por vezes até parece que tudo lhe acontece e o terceiro golo bracarense é disso o melhor exemplo, mas ninguém minimamente ponderado pode colocar em causa a justiça desta derrota. Que só não foi mais humilhante apenas porque não calhou.

Como não há mal que não possa ficar pior, o F.C. Porto caiu ainda mais fundo. Os portistas apenas tinham sofrido três golos em Londres, frente ao Chelsea, e nunca tal coisa lhe tinha acontecido no Dragão. Pois bem, aconteceu desta vez, e com grande estrondo, o que vem complicar a muito frágil posição de Fernández, ao mesmo tempo que lança um futuro negro para a equipa.
É certo que o clube continua colado aos lugares da frente, e mesmo que amanhã o Sporting vença não será por aí que a terra vai tremer, o pior mesmo são os sinais que a equipa deixa para o futuro. Habituados a partir para o estádio de sorriso nos lábios, dizendo que iam ver o F.C. Porto ganhar, os adeptos partem hoje para o mesmo estádio com o coração nas mãos, dizendo que vão ver o F.C. Porto jogar. Esta equipa habituou-os a tudo e nem o mais optimista pode acreditar convictamente num triunfo antes do jogo começar. A formação de Fernández é banal. O facto de em trinta pontos possíveis apenas ter conquistado metade nos jogos em casa é apenas mais um sinal disso.
Começar a tremer para acabar de cabeça perdida
Fernández voltou a adoptar uma estratégia sem extremos, mas com Leandro no lado esquerdo da defesa, o que podia indicar uma dinâmica diferente na procura da linha de fundo pelo facto do F.C. Porto ter dois laterais de raiz capazes de fazer o corredor com a naturalidade que Ricardo Costa nunca terá. Mesmo para os cépticos do 4x4x2 losango, esta seria uma boa notícia. Aparentemente. Na realidade nunca o foi. O Sp. Braga levava a lição bem preparada, teve uma ocupação dos espaços exemplar e sem fazer marcações muito cerradas nunca deu terreno ao adversário para pensar o jogo. Extremamente lentos na circulação da bola, os azuis e brancos não conseguiam criar desequilíbrios e acabavam naturalmente enredados numa teia estéril.
Só em jogadas individuais, quase sempre materializadas em remates de longe, é que o F.C. Porto dava trabalho a Paulo Santos. Mesmo tendo mais posse de bola, e só não a teve nos minutos finais da partida, o F.C. Porto foi um vazio de ideias confrangedor, que foi ficando pior a partir da meia-hora com os primeiros assobios dos naturalmente impacientes adeptos. Veio o golo adversário, na primeira de três falhas da defesa que originam os três golos bracarenses, e o mundo portista desabou. É verdade que Seitaridis ainda arrancou um penalty que permitiu o empate e que Pitbull veio trazer finalmente velocidade à equipa, mas a ansiedade era indisfarçável e com ela veio a incapacidade de dar a volta à ameaça de um novo desaire.
Ameaça essa materializada numa nova desatenção da defesa que permitiu a Wender chegar ao segundo golo pouco antes do intervalo. O brasileiro, mostram-no as imagens, estaria em fora-de-jogo por centímetros, mas isso é o que menos interessa. O golo do Sp. Braga era justo. Tendo mais ocasiões era natural que tivesse mais golos. Percebeu-se nessa altura que o desaire adivinhado antes era afinal mais uma derrota. Garantida no segundo golo de João Tomás, um golo que chegou em mais uma falha da defesa embrulhada em muita sorte. O jogo acabou aí. O resto foi largos minutos de humilhação azul e branca, lenços brancos, insultos e olés para os jogadores do Sp. Braga. Maniche perdeu a cabeça, foi expulso e encostou a cabeça ao árbitro em atitude ameaçadora. Costinha perdeu a cabeça e quis agredir um adepto. Não será isto o fundo?