O historial de confrontos entre o F.C. Porto e o Sporting, na Taça de Portugal, reserva relatos curiosos, pormenores que decidiram jogos e nomes que merecem lugar de destaque na galeria de notáveis. Apesar dos dragões levarem vantagem, com 12 vitórias em 32 jogos, contra 10 empates e dez triunfos leoninos, pertence a um ex-leão a memória mais saborosa, a título individual.
O brasileiro Mário viveu uma das maiores emoções da sua carreira quando, ao minuto 119 de um F.C. Porto-Sporting, nas meias-finais da Taça de Portugal (10 de Maio de 1987), marcou o golo que permitiu aos leões quebrar um ciclo de oitenta e quatro jogos sem perder, por parte dos portistas, no Estádio das Antas (0-1).
O F.C. Porto, que viria pouco depois a conquistar a Taça dos Campeões Europeus, era afastado pelo golo do médio brasileiro, algo que não caiu bem junto dos adeptos portistas. «É, nunca mais me esqueço, marquei ao Mlynarczyk e instalou-se a confusão», começa por relatar Mário Marques Coelho, actual treinador das camadas jovens do Nova Iguaçu ao Maisfutebol.
«Foi o meu melhor momento em Portugal e vou guardar para sempre na memória. Realmente, estranhava os adeptos, porque nunca gritavam o meu nome, apesar de eu me esforçar bastante. Mas compreendo, foi uma época complicada, não estivemos muito bem, não guardo ressentimentos. Nesse dia, fui finalmente ovacionado pelos adeptos, ao sair do campo, logo depois de marcar o golo», explica o ex-jogador.
Mário, contratado pelo Sporting ao Bangu no Verão de 1996, continuava à espera do seu momento de glória em Portugal, longe de saber que o seu remate de fora da área, «ao ângulo da baliza do Mlynarczyk», iria originar uma convulsão do final do encontro, com apredejamento à comitiva leonina.
«Lembro-me que o golo começou com uma brincadeira, depois tabelei com um colega, penso que o Marlon Brandão, e rematei de fora da área, ao ângulo da baliza do Mlynarczyk. Os adeptos portistas criticaram-no por ter sofrido esse golo, mas olhe que era um remate muito difícil de parar (risos). Depois, começou a confusão, e penso que foi o senhor Reinaldo Teles, dirigente do F.C. Porto, a proteger-me quando eu estava a sair», conta.
O ex-médio brasileiro assistiu ao apedrejamento de vários elementos da comitiva leonina. O treinador do Sporting, o inglês Keith Burkinshaw, foi atingido e o autocarro dos leões também seguiu para Lisboa com os vidros partidos: «Tivemos de sair do estádio escoltados. Havia obras, nessa altura, junto do estádio e ficou mais complicado. Fomos acompanhados pela polícia até à saída da cidade, mas numa altura em que já estávamos sem apoio o autocarro foi apredejado por adeptos do F.C. Porto.»
Importa referir que a fúria portista tinha surgido bem antes, durante o encontro. Primeiro, Lima Pereira lesionou-se na tíbia num choque com Silvinho, que continuou em campo e, na altura do golo de Mário, surgiram as queixas de Guilherme Aguiar, dirigente do F.C. Porto, acusou um polícia de festejar com os jogadores do Sporting. A polémica arrastou-se no tempo, os leões não mais venceriam no Porto, para a Taça de Portugal, e os dragões ultrapassariam o desaire com a conquista da Taça dos Campeões Europeus. Mário, então com 30 anos, ficou mais uma época em Alvalade, foi para o E. Amadora e acabou por regressar ao Brasil, onde abraçou a carreira de treinador.