Pinto da Costa não teve de afastar muito o olhar para encontrar o novo técnico. Uma vez mais, o presidente do F.C. Porto escolheu alguém que andou por perto nos últimos anos. Ainda antes de ser adjunto de Villas-Boas, Vítor Pereira já tinha trabalhado nos escalões de formação do clube. No dia em que foi eleito para o banco do campeão nacional, o Maisfutebol foi à procura de algumas pistas sobre a mentalidade deste técnico de 42 anos.

A pesquisa levou-nos até à Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Alguns anos depois de se ter licenciado nesta instituição, Vítor Pereira contribuiu para o trabalho de um outro aluno. Em 2006, Pedro Batista decidiu analisar o Sp. Espinho, onde estava então o técnico. Embora a análise tenha cinco anos, e se tenha centrado na organização defensiva, permite retirar algumas ideias sobre a filosofia do novo treinador do F.C. Porto.

«Já fui um fundamentalista do ponto de vista táctico. Eu tinha ideias e queria, de facto, operacionalizá-las sem tentar colocar essas ideias ao serviço dos jogadores. Isso é um erro terrível que eu cometia, mas já não cometo. É muito importante perceber as características dos jogadores para as potenciar», disse Vítor Pereira na entrevista a que foi sujeito. «O modelo tem de ter flexibilidade no sentido de percebermos como é que ganhamos aqui», diz adiante, defendendo que «o fundamental é ter ideias e fazer os jogadores acreditarem nelas», acrescentou.

Vítor Pereira já se sentia um técnico diferente, nesta altura. Até na forma de conduzir o trabalho diário, que exigia aos jogadores que trabalhassem também a mente. «Não sou é, de forma alguma, um treinador passivo. Já fui mais activo do que sou hoje. Já caí no erro de conduzir sistematicamente o exercício, e isto é quase como tomar decisões pelos jogadores, e isso não posso fazer», disse.

Organização defensiva assente em dois conceitos

Quando a conversa se centra na organização defensiva, o então técnico do Sp. Espinho insiste em dois conceitos que devem andar de mãos dadas. «Referências de pressão: passe devolvido entre o central e o lateral, o passe longo do adversário, o passe devolvido entre o pivot defensivo e o central. São momentos que queremos aproveitar colectivamente para "saltar" em cima do adversário», exemplificou o técnico, antes de explicar o «lado cego». «É o aproveitamento de um mau posicionamento do adversário, de um deficiente ajustamento dos apoios na recepção da bola que normalmente "fecha" o campo.»

O segredo passa por encaminhar o adversário para um beco. Permitir que a bola chegue a determinado ponto, sabendo que aquele será o momento para agir. «Não quero uma equipa que pressione constantemente. Quero uma equipa que espera pelo momento certo para acelerar sobre o adversário em bloco, de perceber o momento colectivo de pressão. Quem pressiona sem cérebro, quem pressiona todas as bolas morre a meio do campo. Se eu pressionar cada saída de bola do adversário, chega a um ponto em que ele começa a bater a bola na frente, e assim nunca poderei exercer uma zona de pressão.»

Marcações individuais é que estão fora de hipótese. «Nunca, na minha vida, entendi a organização defensiva dessa forma. Se o adversário se apresentar com dois avançados, eu nunca na minha vida pedirei a um membro do sector intermédio para marcar um dos avançados», garantia então.

Mostrando-se mais capaz de se adaptar ao contexto, Vítor Pereira explicou as diferenças para a realidade que trabalhou na formação do F.C. Porto, e que não está assim tão distante do que tem sido apresentado pela equipa principal nos últimos tempos. «Fui habituado a trabalhar no F.C. Porto, durante cinco anos, com os melhores jogadores, e colocando o acento em dois momentos fundamentais do jogo: posse e transição ataque-defesa. Eu assim ganhava os jogos todos. Aqui não é assim.»