Foram-se os anéis e o F.C. Porto perdeu o brilho. O campeão nacional manteve os dedos suficientes para tocar, é verdade que sim, mas é verdade na mesma proporção que a música perdeu o encanto. Foi preciso uma hora para derrubar um adversário frágil até dizer basta. No final sobrou Lisandro, claro. O anel que sobra numa mão mais pobre.
Ora já que estamos a falar de dedos, importa dizer que se contam pelas duas mãos os pontos que faltam ao F.C. Porto para revalidar o título de campeão. Oito, para ser mais preciso. A formação de Jesualdo somou o sexto triunfo consecutivo, não desarmando na luta particular com o Sporting. Se o leão pressiona, o dragão dá folga ao sofrimento.
Nestas contas só houve um pormenor que falhou: ao contrário do que aconteceu nos últimos três encontros, o F.C. Porto não conseguiu chegar aos três golos. Não era justo que o fizesse. Perante o V. Setúbal, a equipa fez a exibição mais pobre das últimas seis. Um facto ao qual não é alheio as ausências de Hulk e Lucho, claro. Nem podia ser.
Sem o argentino e sem o brasileiro, este F.C. Porto tem de começar tudo de novo. Perdeu dois alicerces na dinâmica da equipa, alterou até a táctica (um 4x4x2 que obriga Lisandro a recuar muitas vezes no terreno), não consegue ter a mesma qualidade na circulação de bola e tem bem menos capacidade de desequilibrar individualmente.
Lisandro assume-se no momento certo...
Ora perante tantas alterações, tornou-se claro que era preciso tempo para consolidar as mudanças no futebol portista. Tempo que nesta altura, está bom de ver, não existe. O que obriga muitas vezes a ultrapassar a falta de talento com a multiplicação da vontade. Foi por aí que o F.C. Porto apostou. Correu, trabalhou e forçou. Forçou, forçou, forçou.
Curiosamente a equipa até entrou bem no jogo. Nos primeiros minutos colocou com facilidade a bola nas alas e daí arrancou cruzamentos em série. Oportunidades de golo é que nem por isso. Perante um adversário que só pensava em defender, com cinco centrais de raiz e nenhum pejo em despejar bolas, o caudal ofensivo fazia porém adivinhar que o golo seria uma questão de tempo.
Ora o tempo, precisamente, encarregou-se de mostrar com esta ideia era errada. O V. Setúbal continuou a defender com todos no espaço de trinta metros (só Carrijo ficava mais à frente), o F.C. Porto perdeu chama e o público perdeu paciência. O que não motivou a equipa. Soltaram-se uns desabafos e percebeu-se que a coisa podia complicar.
... e Carlos Cardoso mexe no momento errado
Complicou durante uma hora. Não complicou mais porque surgiu Lisandro, a sossegar os espíritos: excelente trabalho no primeiro golo e oportuno a marcar o segundo. Numa altura em que Carlos Cardoso tinha retirado de campo Bruno Gama e Leandro Lima. Incompreensivelmente. Estavam a ser os únicos capazes de tirar a bola do sofrimento.
Depois dessa alteração, o V. Setúbal morreu. Antes disso pouco tinha vivido, é verdade, só em duas iniciativas de Bruno Gama levou perigo à baliza de Helton, depois morreu. Quem joga assim, não merece pontuar. O F.C. Porto cresceu então, partiu para o ataque mais tranquilo e até atirou uma bola ao poste por Rodriguez. Ganhou com justiça.