A polémica em torno do Grande Prémio dos Estados Unidos promete continuar e deverá ter consequências no futuro da Fórmula 1, com argumentos inconciliáveis depois da prova do Mundial que teve apenas seis pilotos em pista, face ao boicote das equipas calçadas com pneus Michelin. A proeza de Tiago Monteiro, que foi um dos pilotos em competição e terminou em terceiro, tornando-se o primeiro português no pódio de um Mundial de Fórmula 1, continua a ser saudada por cá, tendo merecido cumprimentos especiais por parte do Governo português.
A generalidade da imprensa internacional fala em «farsa», com os desportivos L¿Équipe e Marca a repetirem o título de manchete: «Fórmula 0». O piloto David Coulthard diz-se «envergonhado» e Frank Williams, patrão da Williams, dá voz aos receios de muitos, defendendo que o sucedido pode ter colocado em risco o futuro da Fórmula 1 nos Estados Unidos, onde 100 mil espectadores se sentiram enganados e manifestaram o seu repúdio, quando perceberam que só iriam ver seis pilotos em prova.
As queixas surgiram na sequência de um acidente ocorrido na sexta-feira com o Toyota de Ralf Schumacher. A Michelin solicitou uma troca adicional de pneus, considerando a medida de carácter excepcional, mas a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) recusou, refugiando-se nas regras que proíbem as trocas de pneus entre os treinos de qualificação e a corrida. A Michelin propôs então a introdução de uma chicana entre as curvas doze e treze do traçado, para diminuir a velocidade naquela que é considerada a curva mais rápida de todos os circuitos do Mundial de Fórmula 1, onde as altas velocidades causavam problemas nos pneus traseiros esquerdos Michelin, os quais não durariam mais de dez voltas. A FIA voltou a recusar a proposta apresentada pela Michelin, e os catorze pilotos saíram mesmo de corrida.
Na manhã do Grande Prémio todas as equipas, à excepção da Ferrari, decidiram não competir caso não fosse instalada a chicana, mas depois a Jordan e a Minardi acabaram por entrar em prova. Paul Stoddart, patrão da Minardi, não poupa nas críticas. «A Fórmula 1 perdeu de vista tudo o que não seja política. A solução estava lá e não foi adoptada pela pessoa na Fórmula que tinha o poder para a colocar em prática», afirmou, defendendo que «colocar a chicana era uma medida de segurança» e explicando: «A única razão para os Minardi terem saído foi a Jordan não ter aderido ao acordo que tinha feito anteriormente de não correr, o que nos deixou numa posição impossível».
Max Mosley, o presidente da FIA e destinatário das críticas, contra-argumenta, culpando a Michelin: «Foram-lhes propostas alternativas mas eles não aceitaram. Parece que as equipas Michelin não levaram pneus sobressalentes, como é habitual, para Indianápolis. Por isso tiveram um problema de performance e pediram para que fosse mudado o circuito de modo a mudarem a sua dificuldade.»
Na pista o alemão Michael Schumacher (Ferrari) terminou em primeiro lugar, seguido pelo brasileiro Rubens Barrichello (Ferrari) e pelo português Tiago Monteiro (Jordan). O governo português transmitiu a Tiago Monteiro os seus «parabéns e regozijo» pelo terceiro lugar.
O ministro da Presidência, Pedro Silva Pereira, e o secretário de Estado da Juventude e Desportos, Laurentino Dias, manifestaram ao jovem piloto português «a sua satisfação por Tiago Monteiro ter atingido o mais desejado pódium do desporto automóvel». «A capacidade e qualidade até agora demonstradas por Tiago Monteiro justificam a aposta e o apoio que lhe têm sido concedidos pelo governo português e pelos seus patrocinadores», sublinha o executivo.