Os estádios da Liga portuguesa continuam a ter uma taxa de afluência muito inferior à dos principais campeonatos europeus. Mas, apesar de uma conjuntura económica difícil, o preço dos bilhetes não é o principal fator para essa realidade. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado pelo site «Football Industry» (www.footbal-industry.com) em parceria editorial com o Maisfutebol destinada a avaliar o impacto dos preço dos bilhetes na bolsa dos adeptos.

Usando como critério o preço mínimo de um bilhete anual em todos os clubes das Ligas de Portugal, Alemanha, Inglaterra, Itália e Espanha, já para a época 2013/14, o estudo conclui que o valor médio em Portugal é, em termos absolutos, muito inferior ao dos outros países. Mas não só: o impacto desse preço é também inferior em termos relativos, quer usando como referência o salário mínimo (que não existe em Itália e na Alemanha), quer o PIB per capita de cada um dos países.

Em média, o preço mínimo de um bilhete de época é, em Portugal, de 81 euros, cerca de um sexto (17%) do salário mínimo nacional. Já em Inglaterra, que tem a Liga mais cara, o valor médio desse bilhete é sete vezes superior, 589 euros, o que corresponde a 51 por cento do salário mínimo. E, em Espanha, os 254 euros equivalem a 46 por cento desse salário mínimo.

Na Alemanha, não havendo salário mínimo, pode usar-se como referência o PIB per capita mensal: os 217 euros de média valem 8 por cento dessa medida, enquanto os 81 euros em Portugal se ficam pelos 5 por cento do PIB per capita nacional. Em Itália, esse valor é ainda mais alto: 10 por cento. Mas não tanto como em Espanha (12) e, principalmente, em Inglaterra (25) onde a Premier League justifica, em todos os parâmetros, o título de Liga mais cara do Mundo.

Fenómenos como o do Arouca (que tem o bilhete anual avaliado em mais de 200 euros, quase o dobro dos preços praticados por Benfica, F.C. Porto e pelo campeão europeu Bayern de Munique) não chegam para alterar a conclusão de que o custo médio dos bilhetes em Portugal é competitivo, por comparação com o das grandes Ligas.

Mas a outra evidência está lá: a taxa de ocupação dos estádios mostra que o campeonato está bem longe de suscitar as mesmas paixões. Usando como referência os números de 2012/13, o valor médio em Portugal foi de 40 por cento dos lugares ocupados.

Ainda mais significativo, o facto de apenas os três grandes, F.C. Porto (60%), Benfica (65) e Sporting (53), terem taxas de ocupação superiores a 50 por cento, descontando o caso excecional do Marítimo cujo valor de 84 por cento é inflacionado pelo facto de as obras no estádio dos Barreiros terem reduzido a sua lotação para menos de metade. Um dado que, conjugado com a conjuntura de crise, ajuda a explicar que vários clubes, incluindo os grandes, tenham baixado ligeiramente os seus preços de bilhete anual para 2013/14, em relação à época passada.

Por contraste, Inglaterra e Alemanha têm taxas de ocupação bem superiores a 90 por cento, com vários clubes a fazerem o pleno de lugares vendidos durante uma época e nenhum abaixo dos 82%.

Mesmo em Ligas menos ricas, como a espanhola e italiana, os números são incomparavelmente mais equilibrados do que em Portugal. Em Espanha, só o Getafe tem menos de 50 por cento de lugares ocupados no seu estádio (48%). O valor geral é de 68 por cento, com Real Madrid e Barcelona bem acompanhados por clubes de menor dimensão mas de forte militância, que vendem igualmente 80 por cento dos seus bilhetes.

Em Itália, onde a crise de assistências na Série A já fez soar várias campainhas de alarme, só seis clubes estão abaixo dos 50 por cento e o valor médio é de 53%, muito acima dos 40% registados em Portugal. A campeã Juventus, por exemplo, vende 94 por cento dos seus bilhetes, apesar de ter a entrada anual mais barata a mais de 400 euros, valor só comparável com os da Premier League.

Dados: www.football-industry.com