«Acabou o futebol». A frase foi guardada e repetida por Valdir Moraes, adjunto de Telê Santana, o «arquiteto» da fabulosa seleção do Brasil de Zico, Falcão e Sócrates, no momento em que esta caía aos pés do futebol defensivo da «Squadra azzurra» e da frieza dos golos de Paolo Rossi, em pleno Estádio Sarriá, em Barcelona.

A data de 5 de julho de 1982 marca o início de uma nova era. Até então, o «escrete» encantava, com uma defesa permeável, mas com um ataque que demolia os adversários com toques de fantasia. As vitórias sucessivas sobre a União Soviética (2-1), Escócia (4-1), Nova Zelândia (4-0) e, particularmente, sobre a Argentina (3-1), deram corpo à lenda do «futebol-arte», com um total de treze golos, cada um mais bonito do que o outro.

O Brasil chegava ao jogo com a Itália como grande favorito, mas, a 5 de julho, uma segunda-feira, «fatídica» para a história, acabou desarmado pelo pragmatismo da equipa de Enzo Bearzot. Bastava um empate para a equipa de Telê Santana chegar às meias-finais, mas foi a Itália que marcou primeiro, com uma cabeçada de Rossi, um nome que os brasileiros não vão esquecer.

Sócrates, um tributo à arte do futebol

Zico e Sócrates construíram o empate, com conclusão do doutor, mas a Itália chegaria ao intervalo em vantagem, com Rossi, outra vez ele, a aproveitar uma falha de Toninho Cerezo. O empate só chegou a vinte minutos do final, com uma «bomba» de Falcão. O 2-2 chegava, mas não durou mais de cinco minutos, o tempo que Rossi, na sequência de um canto, demorou para chegar ao seu terceiro golo. Foi nesse momento que Valdir Moraes ouviu a simbólica frase: «Olhávamos perplexos para o campo e os espanhóis ao meu lado não acreditavam naquilo. Eles comentavam entre si: "Acabou o futebol"».

Sócrates, uma das grandes figuras desta equipa, faleceu a 4 de dezembro de 2011, vítima de um choque-séptico. No decorrer do Mundial-82, o «doutor» escrevia um «diário da Copa» que era publicado na revista «Placar». Fica aqui a última, que dá conta da frustração da derrota diante da Itália: «Estou profundamente triste, sem forças para explicar nada, para escrever... Agora, nesta última página do meu diário da Copa, deixo apenas dois momentos que vivo: a frustração intensa, talvez a maior da minha vida, por não conquistar o título que eu, no íntimo, alimentava tanto. E também a frustração de não ter mais uma semana de trabalho neste diário, que eu queria que terminasse com a seguinte frase: "Obrigado, torcida. Somos campeões"».

Veja o resumo de um dos jogos mais comentados da história do futebol: