E tudo Carlos Eduardo mudou. Não é exagero, é objetividade. O brasileiro é a causa e a consequência da metamorfose do dragão. Mas, ao contrário da superlativa obra de Kafka, o FC Porto não se está a transformar num inseto desalmado. Está, se os sintomas baterem certo, a adquirir traços de equipa competitiva.

O Olhanense, naturalmente, faz nesta história de vítima perfeita. Agarrado à vida, amarrado a um poste, sem reação. Os algarvios são o que de melhor podia ter surgido ao FC Porto nesta altura mas, sejamos justos, desta vez os jogadores de Fonseca tudo fizeram para justificar o elogio.

Foram quatro golos, sim, podiam e deviam ter sido mais. Na génese dos dois primeiros, apontados pelas cabeças de Mangala e Jackson, respetivamente, Carlos Eduardo; no terceiro, um pontapé soberbo de Carlos Eduardo (repararam no padrão?); no quarto, um ato de El Mariachi servido por Hector Herrera.

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Tudo ótimo, tudo perfeito na vida azul e branca, por uma vez esta época.

E nada é fruto do acaso. Carlos Eduardo é a ponta mais visível e entusiasmante do iceberg. Por baixo, a sustentá-lo, uma série de inovações/alterações definidas pelo treinador azul e branco, a fazerem todo o sentido.

Reparem: com Lucho mais recuado, numa linha ligeiramente à frente de Fernando, o FC Porto tem um número oito capaz de dar mais qualidade à saída de bola e de fazer aproximações às zonas definidoras; com a colocação de Carlos Eduardo na posição dez, Fonseca ganha um elemento habilitado a defender e a criar, a correr pelo campo todo e a ter fôlego para ser brilhante.

Parece simples, não é? Mas o futebol precisa de ser complicado? As boas opções ajudam a desatar nós aparentemente cegos.

Este dragão de alma rejuvenescida, coração apaixonado e futebol intenso já não vive sem o médio ex-Estoril. Tudo pode mudar numa semana, uma derrota ajuda a ruir esta impressão, só que esta imagem parece sólida e inabalável.

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É tudo uma questão de observar com rigor o que faz Carlos Eduardo e constatar a elevação qualitativa dos que o rodeiam. O FC Porto faz todo o sentido neste desenho, mais ofensivo, intimidador e selvagem.

Ao contrário de outras rondas, em que a equipa marcava cedo e caía, desta vez tal não sucedeu. Os jogadores quiseram mais e mais, esbofetearam, chicotearam, impuseram um tratamento de choque, a roçar a tortura, ao frágil visitante italo-algarvio.

Os dois primeiros golos, nascidos de bola parada, facilitaram o desenlace do argumento, tudo o resto veio por acréscimo. Grande parte por mérito de Carlos Eduardo (não nos cansamos de falar nele) e do FC Porto, outra, também relevante, por evidente incompetência e limitação do Olhanense.

Há uma metamorfose em curso no FC Porto. Os sinais da pele instituída são convincentes. Numa prova de velocidade, chegaria por certo para vencer. Numa maratona como a Liga portuguesa, só o desfolhar dos próximos capítulos poderão dar mais pistas.

Se estes não forem tão enigmáticos como a bibliografia de Kafka, então é provável que todos nós os percebamos rapidamente.