E foi assim que aconteceu:

«Bem, tudo começou numa falta mal cobrada pelo… acho que o Jaime Magalhães [certo]. A bola chegou ao Duílio e ele abriu na direita, para o Marlon Brandão. O Marlon foi para cima do lateral e, a dada altura, travou. Olhou para o meio e viu-me. Parei a bola de pé esquerdo, dei um, dois, três toques e rematei de fora da área. O Mly era um gigante, mas aí ficou a olhar».

Mário, célebre médio brasileiro do Sporting (entre 1986 e 1988), conta na primeira pessoa ao Maisfutebol a «jogada de uma vida». Nesse 10 de maio de 1987, o esquerdino abateu o FC Porto em pleno Estádio das Antas, com quase 90 mil pessoas nas bancadas.

O pior, recorda, foi no fim. «Eu fiz o golo aos 119 minutos, ainda tive força para celebrar e a seguir fui substituído pelo Litos. Saí devagar e os adeptos do FC Porto pensaram que era uma provocação. Valeu-me a ajuda do senhor Reinaldo Teles».


A comitiva do Sporting teve «uma longa espera» no balneário, até ter condições de voltar para Lisboa. Lá fora, conta Mário, caíam «pedras, garrafas, um pouco de tudo». A Superior Sul tornou-se uma arena de pancada.

Para os portistas não foi fácil aceitar a eliminação da Taça de Portugal. Ainda por cima naquelas condições. «Eu percebo as pessoas do Porto. Perder uma meia-final em casa, contra um rival…»

Mário foi elevado à condição de herói. O antigo médio, e atual treinador do Bangu FC, no Rio de Janeiro, sorri com a recordação e faz questão de elogiar Vitor Damas.

«Todos falam de mim, eu percebo, mas ganhámos porque o Damas defendeu tudo. Ele foi um grande homem e um dos melhores guarda-redes de todos os tempos. Ele foi o herói e eu aproveitei. O jogo foi muito aberto, qualquer equipa podia ter ganho».

O Sporting não voltou a vencer em casa do FC Porto para a Taça de Portugal.

Há 27 anos, numa tarde de muito sol e 17 dias antes de os dragões se sagrarem campeões da Europa, o Clássico teve os seguintes protagonistas:

FC PORTO: Mlynarczyk; João Pinto, Celso, Lima Pereira (Semedo, 19) e Eduardo Luís; Jaime Magalhães, Quim, André (Frasco, 46) e Paulo Futre; Madjer e Fernando Gomes.

Treinador: Artur Jorge

SPORTING: Vitor Damas; João Luís, Duílio, Venâncio e Virgílio; Ralph Meade, Oceano, Mário (Litos, 120) e Silvinho; Peter Houtman e Manuel Fernandes (Marlon Brandão, 62).

Treinador: Keith Burkinshaw

Golo: Mário (119)

O FC Porto-Sporting de 10/05/1987



No verão de 1986, João Rocha anunciou a contratação de Mário. O centrocampista vinha do Botafogo, certificado pelas escolas (e equipa principal) do Fluminense.

«O presidente disse-me que o Sporting tinha perdido o Sousa e o Jaime Pacheco. Eu fui o substituto deles. Tenho muitas saudades, sempre fui bem tratado. O Damas, o Manuel Fernandes, o Oceano, os meninos Litos e Fernando Mendes, até o Negrete, com quem estive agora no Mundial, foram grandes amigos», recorda Mário.

Depois de 61 jogos e seis golos de leão ao peito, Mário foi surpreendido com a dispensa.

«Chegou um presidente novo, Jorge Gonçalves, e com ele veio outro treinador [Pedro Rocha]. Eu tinha mais um ano de contrato, mas a direção disse-me que o técnico ia trazer muitos jogadores novos e eu saí. Sem problemas, sem discussões».

Mário ainda fez mais uma temporada em Portugal, participando com nove jogos [e uma grave lesão pelo meio] no oitavo lugar do Estrela da Amadora.

«O Duílio e o Marlon Brandão foram comigo para a Reboleira. Fomos treinados pelo grande João Alves, o luvas pretas. O Vitória Guimarães também me convidou, mas preferi seguir a minha vida em Lisboa».

Na temporada seguinte, já com Mário no Brasil, o Estrela venceu a Taça de Portugal. Restam as excelentes recordações e um último pedido para o Clássico de sábado no Dragão.

«Mostrem o vídeo do meu golo ao plantel do Sporting. É a prova de que não há impossíveis».

Imagens de Mário no Sporting: