O futebol corre nas veias da família Sousa. António Sousa, campeão europeu com o FC Porto, em 1987, abriu caminho para mais duas gerações de futebolistas que alimentaram os planteis do FC Porto. Seguiu-se Ricardo Sousa, que seguiu as pisadas do pai, com o pé esquerdo, e agora é a vez de Afonso Sousa que, com apenas 16 anos, assinou esta quinta-feira o primeiro contrato profissional com o clube do Dragão, dando início ao mesmo percurso que o pai e o avô já percorreram. «O ADN do futebol está instalado na família Sousa», atira o patriarca da família em conversa com o Maisfutebol à volta do delfim da família.

A estes três Sousas junta-se ainda José Sousa, antigo lateral do Benfica e do Belenenses, também ele filho de um antigo jogador, sobrinho de António e primo de Ricardo. Um verdadeiro clã Sousa que, com exceção de João, de outro ramo da família, tem em comum terem dado todos os primeiros passos da carreira no FC Porto.

«É a cultura do fabrico dos Sousas. Quer eu, quer o pai, estamos felizes e orgulhosos pelo crescimento que o nome Sousa tem vindo a ter. Tendo em conta a juventude do Afonso, espero que ele tenha os pés bem assentes no chão e que tenha sucesso que só se consegue com muito trabalho e muita humildade», destaca António, um avô babado, de 59 anos, que prefere não dar muito valor ao contrato profissional que Afonso acabou de assinar.

Entrevista de Afonso Sousa ao Maisfutebol: «Ainda não cheguei a lado nenhum»

Agora, defende o avô, é o momento de Afonso afirmar-se pelos próprios pés. «Isso ainda não diz nada, só tem 16 anos, ainda é uma criança no fundo, está em fase de maturação, de crescimento. Nestas idades, se não se tiver um acompanhamento e uma mentalidade forte, por vezes é prejudicial. Faço votos para que o Afonso consiga ter maturidade suficiente para superar este momento positivo que está a atravessar. Mas estou satisfeito pelo facto do crescimento dele estar a ser bastante positivo. O primeiro contrato profissional é um sintoma positivo, não é?», acrescentou logo de seguida.

António, a origem do filão Sousa, foi o que chegou mais tarde ao clube que é comum aos Sousa, mas é o que teve maior sucesso, até ao momento. Deu os primeiros passos no Sanjoanense e no Beira-Mar e chegou ao FC Porto já com 22 anos. Jogou oito temporadas de dragão ao peito, intervaladas por duas épocas no rival Sporting, tendo como ponto mais alto a conquista do primeiro título europeu do FC Porto, em 1987, em Viena.

Recorde António Sousa no FC Porto

O filho, Ricardo, atualmente com 37 anos, também deu os primeiros pontapés na Sanjoanense, mas chegou ao FC Porto ainda com idade júnior, aos 18 anos. Apesar de um promissor pé esquerdo e uma técnica acima da médica, Ricardo somou poucos jogos no antigo Estádio das Antas, entre uma sucessão de empréstimos. Em Portugal jogou no Santa Clara, Belenenses, Beira-Mar e Boavista. Pelo meio, emigrou e jogou na Alemanha (Hannover 96 e Kickers Offenbach), Holanda (De Graafschap), Chipre (Omonia) e na Eslovénia (NK Drava). Pendurou as botas no Gafanhas e está atualmente a treinar o Lusitano de Vila Real de Santo António, no Algarve.

Afonso, nascido já este século, a 3 de maio de 2000, numa altura em que o pai ainda estava no FC Porto, ainda deu os primeiros pontapés no Beira-Mas, mas já vestia de azul-e-branco antes dos nove anos. Escalou todos os patamares da formação portista e está agora nos juniores, sob as ordens de Bino. Já com contrato profissional. O primeiro passo para seguir o sucesso dos progenitores? «Tem todas as condições para isso. O Ricardo era mais técnico, mesmo superior a mim, o Afonso tecnicamente é bom, sensivelmente igual àquilo que eu era, mas tem um grande carácter em termos de entusiasmo do jogo. É um jovem que me parece ser raçudo, procura, dentro do próprio jogo, impulsionar os colegas no sentido de procurarem fazer tudo bem. Tudo isto, com esta idade, é extremamente positivo», conta o avô.

Tanto António como Ricardo jogaram, essencialmente, no meio-campo, embora o primeiro tivesse preferência pelo pé direto e o segundo pela canhota. Afonso, também ele um médio, está mais próximo do avô, pelo menos ao nível do pé preferencial. «É um médio que pode fazer várias posições no meio-campo, tem atributos e qualidades para isso. Tem um pouco a ver com o pai e com o avô. É de pé direito, embora chute com um e com o outro, mas é mais direito. Eu também era mais pé direito, embora também lhe desse com o esquerdo, como é o caso do Afonso. O Ricardo é que era mais pé esquerdo», prossegue António.

Os Sousa também chegaram ao Benfica

Uma família de Sousas que se estende a mais parentescos, com destaque para José Sousa, sobrinho de António e primo de Ricardo e Afonso, que chegou a jogar no Benfica [de 1993 a 1999] e agora é treinador do Vilafranquense. «O avô e o pai também eram jogadores de grande qualidade, embora fossem outros tempos, mas as raízes foram plantadas. Quer eu, quer o meu próprio irmão que, embora em épocas diferentes, também era um grande craque na altura e só não foi mais longe porque não quis. Há rebentos sempre novos, o ADN está instalado na família Sousa, é um crescimento normal num ciclo que vamos mantendo. O José Sousa, meu sobrinho, também singrou pelo avô e pelo pai dele terem grande valor e também andou por aí a espalhar magia. Também está inserido nesse contexto», destaca o nosso interlocutor.

Momentos da carreira de Ricardo Sousa

O António viu Ricardo nascer aos 22 anos, enquanto Ricardo, por sua vez, viu Afonso vir ao mundo aos 21. Por este andar, não faltará muito para o jovem Afonso, agora com 16, dar sequência ao clã Sousa. Pela lógica, daqui a quatro anos. António Sousa deixou escapar uma gargalhada. «Nunca se sabe, mas os nossos tempos eram diferentes, não se pensava ou pensava-se pouco. Neste momento os jovens já pensam um pouco mais e têm uma leitura diferente daquela que tínhamos na altura. Quem joga futebol e envereda por uma carreira desportiva de grande sucesso, deve ter um bocadinho de cuidado e atenção porque o assédio [feminino] é enorme e permanente e tem de haver um bocado de cuidado, caso contrário, está-se sujeito a tropeçar», atirou ainda a rir.

António Sousa pendurou as botas em 1996, na Sanjoananese, no mesmo local onde começou toda esta história, tanto da perspetiva do António, como do Ricardo e mesmo do José. Foi treinador até 2012, mas já está reformado há quatro anos e, agora, em relação ao futebol, diz que é apenas um «espectador». Dos jogos do neto, está bom de ver. «Pontualmente tenho visto alguns, vi agora o último que ele fez contra a Oliveirense em que ganharam por 5-2. Acompanho pontualmente a carreira dele e sempre que posso vou ao Olival ver os jogos», contou ainda o patriarca da família Sousa.

Os primeiros passos de Afonso Sousa