Ricardo Quaresma esteve à conversa com o plantel de futebol feminino do Sport Clube Rio Tinto e recordou os primeiros tempos no FC Porto, confessou que Co Adriaanse o fez chorar várias vezes e apontou o estádio onde lhe dava mais motivação para marcar.
«(...) Não querer perder. É essa a atitude que temos de ter não só no futebol, mas na vida. Não gosto de ficar atrás de ninguém. Quando me dizem que não consigo lá chegar, dão-me ainda mais vontade. Vou dar um exemplo. Ia à Luz e tinha o estádio todo a assobiar-me e a chamar-me cigano sempre que tocava na bola. Era o estádio onde me dava mais vontade de fazer golos. Por isso é que eles não se esquecessem (risos). Era o orgulho que falava mais alto», disse o internacional português.
«O FC Porto é diferente. Já passei em grandes clubes e não existem clubes como o Besiktas e o FC Porto. Não tens só a pressão do fim de semana, tens pressão diariamente. Tens sempre pessoas à tua espera ou pessoas que te encontram no restaurante e dizem que tens de correr ou de jogar melhor. Parece que a comida fica [aponta para a garganta] aqui entalada. É um mundo à parte. Para jogar nesses clubes é preciso ter personalidade, orgulho, vontade, garra, enfim, tens de ter muita coisa», acrescentou ainda.
O extremo de 38 anos recordou ainda a mudança do Barcelona para o Dragão, confessando que o seu desejo era regressar ao Sporting.
«Não queria vir. Quando saí do Barcelona, queria voltar ao Sporting, mas não foi possível. O meu primeiro ano no FC Porto foi difícil, tivemos três treinadores. Fomos campeões da Taça Intercontinental, mas no campeonato perdemos jogos com o Nacional e fizemos cagada atrás de cagada. Só quando veio o Co Adriaanse é que comecei a voar. No início estive dois meses sem ser convocado. Sabia que tinha de dar ao pedal ou de fazer mais que os meus colegas para ter a minha oportunidade. Quando ele me meteu, fiz um golo de trivela em casa contra o Rio Ave. A partir daí comecei a jogar, mas até lá tive de sofrer. Ele fazia-me sofrer. Ia para casa e fechava-me no quarto a chorar. Chorava de raiva. Percebia que estava a fazer as coisas melhor que os outros e ele não me convocava. Fez-me aprender», admitiu.
Por último, Quaresma explicou o quão importante é a alimentação e o descanso na vida de um futebolista profissional, especialmente a partir dos 30 anos.
«Às vezes é difícil ser profissional. É normal, tens amigos e família. Vês os teus amigos a saírem para beber um copo e tu tens de ficar em casa. Vês a tua família ir ao cinema tarde, mas tu não podes porque acordas cedo para treinar e tens de dormir. O mais difícil é saberes que tens de alimentar-te bem, beber água e descansar. São gerações diferentes. Na altura não tínhamos nutricionistas, os jogadores faziam a sua própria alimentação. Agora os clubes têm nutricionistas e há muita gente à volta dos jogadores. Se engordas um quilo, és multado. Sempre tive esse cuidado, principalmente com o descanso. O trabalho de ginásio é importante para manter-me como estou hoje aos 38 anos. Se engordar um quilo, vai custar-me mais perdê-lo. Aos 30 anos, o corpo muda muita. A alimentação é importante assim como beber muita água para evitar lesões musculares. São coisas que vamos aprendendo. Não bebam whisky nem fumem. Nunca bebi nem fumei. São opções. Nunca achei piada. Vi muitos jogadores com dificuldades para respirarem. Em jogos mais intensos ficavam mais cansados que os outros, mas são opções», concluiu.
Nos vídeos associados ao artigo pode ver excertos da conversa de Quaresma com as jogadores do Sport Clube Rio Tinto, partilhada pelo próprio nas redes sociais.
«Na Luz chamavam-me cigano e era o estádio onde me dava mais vontade de marcar»
Ricardo Quaresma recordou a vontade de sair do Barça para voltar ao Sporting, dos primeiros tempos no FC Porto e aos momentos em que chorou no quarto por causa de Co Adriaanse
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«Na Luz chamavam-me cigano, era onde dava mais vontade de marcar»
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«Não queria vir para o FC Porto, queria regressar ao Sporting»
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«Com o Co Adriaanse, ao início, chorei muitas vezes»