Copenhaga, 19h45. Na noite desta terça-feira, o FC Porto sobe ao relvado do Estádio Parken com o objetivo de vencer para garantir desde já o apuramento para a próxima fase da Liga dos Campeões, mas também pode complicar as contas no Grupo G, já que desce ao terceiro lugar em caso de derrota – sendo que nem o empate tranquiliza a equipa para a última jornada.

Esta visita ao reduto do FC Copenhaga é particularmente ingrata, desde logo porque este resultado vai influenciar decisivamente as contas do grupo, mas também porque o FC Porto tem um desafio importante para resolver.

Há portanto um alerta importante subjacente a esta deslocação à Dinamarca:

«Nuno, vi har et problem...»

Traduzindo do dinamarquês: «Temos um problema, Nuno.» Aliás, dois.

Desde logo, o registo caseiro do adversário: o Copenhaga não perde em casa há cinco jogos nas competições europeias e nesta edição da Champions não sofreu sequer qualquer golo em casa nas receções a Club Brugge (4-0) e Leicester (0-0). É preciso recuar à fase de Liga Europa de 2014/15 para encontrar as últimas duas derrotas europeias do Copenhega. Curiosamente, duas goleadas: a última frente ao Torino (1-5), antecedida por uma diante do Club Brugge, por 0-4, ou seja, exatamente pelo mesmo resultado com que agora os belgas foram goleados no Parken.  

Contudo, apesar da solidez recente dos «vikings» no seu reduto, no essencial o problema de Nuno e do FC Porto na Europa tem que ver com a falta de eficácia da equipa.

Tal como a nível interno, na Europa, os números comprovam alguma falta de acerto dos portistas.

Considerando as estatísticas oficiais da UEFA, o FC Porto é a sétima equipa que mais remata entre as 32 em prova, mas está entre as que mais remates necessita para fazer um golo: 15,5 remates por cada golo, bem mais do que por exemplo Benfica (8,2) e Sporting (11).  

Nas quatro primeiras jornadas os dragões marcaram apenas por quatro golos, mas remataram 62 vezes, mais do que qualquer outra equipa do seu grupo (Copenhaga, 52; Leicester, 36; Brugge, 35), do que as restantes equipas portuguesas (Sporting, 44; Benfica, 49) ou até do que grandes europeus como Paris Saint-Germain (61), Juventus (56) e Barcelona (46).

A forma como o FC Porto remata também não indicia produtividade: dos 62 remates apenas 20 foram à baliza, menos de um terço, 14 foram intercetados e 28 foram para fora, neste capítulo os dragões são apenas batidos por três equipas das 32 da fase de grupos (todas elas ainda assim com uma percentagem relativa menor de remates longe do alvo).

A título individual, Miguel Layún é quem mais acerta nos dragões, com quatro remates à baliza, um para fora e dois intercetados. No entanto, devido a uma lesão na coxa esquerda, o lateral mexicano está fora dos convocados para o jogo na Dinamarca, tal como Brahimi, por opção. Segue-se Otávio entre os mais rematadores (três remates à baliza, cinco para fora e um intercetado), à frente de Diogo Jota, Herrera, Danilo e André Silva (todos com dois remates direcionados à baliza).

Layún, o portista que mais acerta no remate, não joga frente ao Copenhaga, tal como Brahimi

Noutros aspetos ofensivos os portistas estão também em destaque na Liga dos Campeões.

O FC Porto é a sétima equipa que cria mais oportunidades, 15,5 por jogo, e a segunda com mais cantos: 30 no total, uma média de 7,5 por jogo, estando atrás apenas do Nápoles. Neste capítulo, o saldo é positivo, e os azuis e brancos são a quarta equipa que cede menos cantos ao adversário (12).

Nos cruzamentos, o cenário volta a ser o mesmo do que nos remates: muito volume, mas pouca produtividade. O FC Porto é a quarta equipa no total em termos de tentativas de cruzamentos. Ao todo são 96, novamente bem mais do que Benfica (52) e Sporting (67). No entanto, no caso do Sporting é evidente a eficácia maior a cada cruzamento: os leões têm 22 cruzamentos efetuados contra 21 do FC Porto, que tenta bastante mais.

Tal como no caso dos remates à baliza, há que sublinhar, este é um sintoma de que a equipa de Nuno ataca muito mas nem sempre da melhor forma.

E o problema foi reconhecido pelo próprio Nuno Espírito Santo e por Óliver Torres na conferência de imprensa de antevisão à partida desta noite:

«Internamente debruçamo-nos no que podemos controlar, que é o jogo e a eficácia da equipa. Como? No processo de treino. Para transformar a juventude em virtude e para que sejamos a equipa que queremos ser», disse Nuno.

Óliver corroborou as palavras do técnico:

«Temos de melhorar e trabalhar no treino. O mais importante é que criámos 80 ocasiões em quatro jogos. Poucas equipas conseguem; temos de continuar nessa linha e os golos virão por si», justificou o médio espanhol, acrescentando que «os jogadores não são máquinas» e que com o tempo a equipa «aprenderá a cometer menos erros» e que «a cabeça é o mais importante».

Muito provavelmente na cabeça de Nuno e dos seus jogadores estará seguramente a tentativa de solucionar este problema de falta de eficácia, que vale golos, pontos e, nesta prova em concreto, milhões de euros. Dessa resposta depende, em boa medida, o sucesso portista nesta edição da Liga dos Campeões.