O campeão já é líder. No último clássico F.C. Porto-Benfica realizado no velhinho Estádio das Antas, a equipa de José Mourinho voltou a dar mais uma prova de quem é, efectivamente, a melhor equipa nacional. Pouco tempo depois de ter goleado o Sporting, os portistas vencem os encarnados por 2-0 e dão sinais de uma consistência difícil de parar. Recorde-se que, apesar de todos os compromissos e ciclos complicados, o Porto ainda só perdeu com o campeão europeu, o AC Milan, por 1-0, na Supertaça Europeia.

O embate com os rivais encarnados ficou marcado pelo pecado de Miguel, que abalou toda uma atitude extremamente positiva da equipa, que chegou às Antas com uma postura muito ofensiva no papel e claramente atacante no terreno de jogo. Surpreendentemente, Camacho voltou a apostar nos dois pontas-de-lança que usou com o Belenenses, deixando João Pereira no banco e colocando Simão e Zahovic no auxílio aos avançados. Um sistema que surpreendeu, mas acabou por não surtir efeitos práticos, pois os encarnados só conseguiram criar uma oportunidade real de golo.

José Mourinho até poderá ter ficado algo surpreendido com a postura apresentada pelo adversário, mas a sua equipa soube reagir da melhor forma. O Porto entrou com tudo, criou perigo logo no primeiro minuto, por intermédio de um livre de Deco que obrigou Moreira a efectuar uma grande defesa. Perante a forte pressão exercida pelo campeão nacional, o Benfica não se atemorizava e tentava criar perigo, que viria a surgir dez minutos depois, com Argel a apostar no pontapé-de-bicicleta, levando Vítor Baía a fazer o único voo do jogo. O guarda-redes portista teve uma noite que se pode considerar tranquila, pois para além deste lance, apenas se viu obrigado a sair da baliza para anular cruzamentos e ver Sokota cabecear à barra, já no segundo tempo, quando estavam decorridos 61 minutos e os da casa venciam por 2-0.

Cruzados e mouros

As bancadas saltavam de contentamento, preparando-se para uma festa que começou por ser extremamente bonita, mas foi assolada por alguns momentos feios proporcionados pelos jogadores, que se deixaram envolver em picardias. O bom exemplo lançado pelos adeptos (mais de 44 mil) nem sempre foi aproveitado pelos principais intérpretes do espectáculo. O 2-0 serviu para os portistas festejarem com efusividade, não só uma vitória que é sempre mais saborosa do que as outras, mas também a liderança no campeonato, que, à semelhança do que ocorreu na época passada, surge à passagem da 5ª jornada.

O mote lançado pelos Superdragões e pelo Colectivo Curva Norte serviu para o resto do encontro. Uma sugestão em forma de lençóis gigantescos, com figuras de Cruzados a triunfarem sobre mouros e um sol recheado das taças alcançadas na época passada pelo F.C. Porto a obrigarem os «infiéis» a ajoelharam-se. Os mouros, epíteto utilizado pelas gentes do norte para criticar quem esteja abaixo do Douro, tiveram mesmo de se ajoelhar, mas por culpa própria. A vitória do Porto é inequívoca, moraliza jogadores e adeptos, mas justifica-se mais pelos erros do adversário do que por mérito próprio.

O primeiro grande equívoco encarnado surgiu aos 30 minutos, quando Maniche cruzou na direita e Miguel, de forma displicente, atrasou a bola de peito para Moreira, não contando com a antecipação de Derlei, que, qual Ninja repentino, aproveitou para enviar a bola para o fundo da baliza. Um momento fatal que marcaria todo o encontro, pois, a partir daí, aquele Benfica que tinha surpreendido muito pela positiva, deixou-se abalar e experimentar uma vertigem de sensações negativas que entregaram a vitória de bandeja ao adversário.

Acção+reacção=expulsão

Camacho demorou a perceber que tinha de colocar João Pereira em campo e, antes de o fazer, ainda viu Argel fazer o auto-golo (63) após um canto apontado por Ricardo Fernandes. O F.C. Porto voltava a entrar muito bem em campo, aproveitando os primeiros minuto do segundo tempo para mater o jogo. Festa, apenas nas bancadas, porque dentro das quatro linhas os jogadores tinham atitudes feias, com pisões, empurrões e saltos aos trambolhões que de nada serviam para alterar o resultado.

Aos 61 Sokota ainda cabeceia à barra, após cruzamento do miúdo João Pereira, e nada mais se viu de positivo, pois aos 78 minutos Ricardo Rocha veria o segundo cartão amarelo, após uma entrada em que não chegou a acertar no adversário. Se não bastasse ser expulso, o central adaptado a lateral tirou a camisola do clube que representa e envergonhou-o ao abandonar o relvado em tronco nu. Mais uma atitude inadmissível que serve para provar o mau estado psicológico do Benfica, pouco habituado a conviver com as grandes pressões.

Para a história fica o nono triunfo de José Mourinho em clássicos nacionais, o que o lança para um grau mítico, pois ultrapassa a fasquia fixada por Jimmy Haggan no início da década de 70; e um triunfo no último F.C. Porto-Benfica realizado no velhinho Estádio das Antas, quando na sua inauguração os encarnados tinham vencido por 8-2. Uma despedida em bom estilo, embora algo marcada por certos erros do árbitro, como o lance da expulsão de Ricardo Rocha, o amarelo que poderia ter sido vermelho a Costinha quando já havia pouco a decidir ou o pisão de Maniche a Petit, que não terá sido visto pelo juiz, mas que foi mesmo muito feio e deveria ter resultado num cartão vermelho.