Antes de tudo, uma evidência difícil de rebater: no jogo jogado, na última quarta-feira no Dragão, a diferença entre FC Porto e Liverpool foi abissal.

O placard final, 0-5, é a melhor prova disso. Ainda assim, na goleada histórica, a pior de sempre do FC Porto em casa nas provas da UEFA (nunca havia sofrido mais de três golos), há números que relevam desta primeira mão dos oitavos de final.

As estatísticas do jogo revelam algum equilíbrio na posse de bola (45%-55%, com vantagem para os ingleses), eficácia semelhante no passe (81%-82%), vantagem para o FC Porto nos duelos (64-63) e sobretudo nos cantos (6-1).

A grande diferença para um resultado tão desequilibrado esteve nos remates enquadrados à baliza: o FC Porto fez três, o Liverpool fez o dobro. Porém, os seis dos Reds resultaram em cinco golos.

José Sá fez apenas uma defesa em 90 minutos. Do seu erro (crasso), primeiro na má reposição da bola em campo e depois ao deixar passar por baixo do braço um remate de defensável de Mané, nasce o primeiro golo dos ingleses, aos 25 minutos, que dá início à derrocada portista.

Sentado no banco continua Iker Casillas. Assim sendo, faz sentido fazer o balanço sobre a decisão tomada por Sérgio Conceição a 17 de outubro, quando de forma surpreendente trocou de vez o dono da baliza do FC Porto em Leipzig.

Experiência, exibições e números: o Maisfutebol fez o comparativo em três pontos essenciais e o veredito pende claramente para o espanhol. O exercício, que exclui outras potenciais opções como Vaná, Fabiano ou até o promissor Diogo Costa (da equipa B), é falível, como qualquer outro, mas junta dados à discussão, que pelo menos para boa parte dos adeptos dos dragões não estará fechada.

Experiência: Iker Casillas

Não deixa de ser verdade que só com jogos e competição se ganha tarimba, mas também o é que, na Liga dos Campeões, sobretudo na fase eliminatória, a experiência é fundamental.

Nesse aspeto em concreto, o FC Porto desperdiça na sua equipa titular «apenas» o jogador com mais jogos em toda a história da competição: Casillas fez 175 jogos na Liga dos Campeões, à frente de Xavi (173) e Paolo Maldini (168). Sá tem cinco.

Numa equipa que ao fim de quatro épocas de seca procura títulos e com raros exemplos de jogadores campeões, também não é despiciendo ter em campo um guarda-redes com o palmarés de Iker: um Campeonato do Mundo e dois Campeonatos da Europa conquistados pela seleção; três Ligas dos Campeões, quatro Ligas Espanholas, uma Taça Intercontinental, um Mundial de Clubes, duas Supertaças Europeias, duas Taças do Rei, quatro Supertaças de Espanha na baliza do Real Madrid.

A experiência também poderá trazer confiança e segurança da própria equipa numa posição tão específica. No entanto, esse dado é particularmente subjetivo, pelo que seguimos este comparativo pelas exibições e números de ambos.

Exibições: Iker Casillas

José Sá esteve particularmente bem na receção ao Sp. Braga (3-1), em que terá feito a melhor exibição de dragão ao peito, tal como esteve na jornada anterior do campeonato, em Chaves (4-0). 

Em suma: na Liga, em jogos que o FC Porto habitualmente domina e em que o adversário não cria muitas oportunidades, Sá não tem comprometido de sobremaneira.

Contudo, quando o nível de exigência e o grau de dificuldade dos adversários sobe o caso muda de figura: logo na estreia, José Sá comprometeu em Leipzig, um erro no golo inaugural dos alemães, num jogo em que os dragões acabariam por perder (3-2), voltando a falhar nesta receção ao Liverpool.

Por sua vez, Casillas foi mal batido num dos golos na receção ao Besiktas, na estreia do FC Porto na fase de grupos desta época. Os erros, porém, não são comparáveis, e Iker tem o lastro de exibições de antologia, em particular nos clássicos frente aos rivais Benfica e Sporting na época passada (e na anterior, em particular na Luz). Mesmo no plano interno, nesta época, Casillas esteve em bom plano recentemente nos dois clássicos frente ao Sporting, para a Taça da Liga e para a Taça de Portugal.

Números: Iker Casillas

Além das exibições, algumas delas que ficam na retina, os números concretos também dão vantagem a Casillas.

De acordo com dados da Opta e do site Goalpoint, José Sá tem apenas 50 por cento de remates enquadrados defendidos na Liga dos Campeões, o que o torna no segundo guarda-redes com pior registo neste capítulo, atrás apenas de Brad Jones, do Feyenoord, eliminado na fase de grupos. Por sua vez, o registo de Casillas na Champions de 2016/17 foi de 75 por cento de defesas em remates enquadrados.

A diferença, substancial, mantém-se também a nível interno. Nas últimas quatro épocas, José Sá teve uma percentagem de remates defendidos de 59,1 por cento, enquanto Casillas tem 73,7 por cento neste capítulo, desde que chegou ao FC Porto, em 2015/16.

Tendo em conta apenas os golos sofridos nesta época, Casillas volta a levar a melhor, embora neste caso seja preciso ter em conta o grau de dificuldade de cada adversário. A discrepância é, ainda assim, notória: Sá sofreu 19 golos em 20 jogos, uma média de quase um por jogo (0,95), enquanto Casillas sofreu 11 golos em 17 jogos, ou seja, cerca de dois golos a cada três jogos (0,65).

Resumindo e concluindo: Casillas ganha em toda a linha, pelo menos nestes três pontos em análise. Sérgio Conceição bem poderá refletir sobre que opção lhe oferece mais garantias para a baliza, numa altura em que se aproxima a fase decisiva da temporada, pelo menos a nível interno.