O campeonato está de volta e o FC Porto tem uma grande novidade. Uma espécie de presente para desembrulhar, mas que, contudo, não se sabe se poderá ser já na receção ao V. Guimarães. Falamos de Willy Boly, último reforço na janela de verão, que veio dar mais opções a Nuno Espírito Santo para um setor debaixo de fogo há bastante tempo, o centro da defesa.

Perceber se o francês chega para ser titular no imediato ou terá ainda de mostrar a Nuno que é uma opção melhor do que a dupla Felipe-Marcano, que tem jogado neste início de época, é o dilema.

A primeira resposta será dada já no sábado, frente ao Vitória de Guimarães. O FC Porto fez cinco jogos oficiais esta época e sofreu golos em três: Rio Ave, AS Roma, em casa, e Sporting. Em todos sofreu golos de bola parada, por exemplo. Há, portanto, ainda aspetos a limar na forma de defender dos dragões.

Será Boly parte da solução? O Maisfutebol falou com Fernando Pereira, o primeiro treinador do central em Portugal, quando jogava na equipa B do Sp. Braga, na época 2014/15, antes da explosão na temporada passada.

«Acho que ele está preparado para ser titular do FC Porto. Não sei quando vai entrar, mas vejo nele qualidades e valor para estar no FC Porto. É um jogador ambicioso e, se não entrar agora, será mais à frente. De qualquer forma, quando entrar nunca mais sai. Ele gosta de desafios e costuma estar à altura deles», analisa o atual treinador do Anadia.

Quando conheceu o francês, garante, já lhe via futuro risonho. «Logo nos primeiros contactos deu para perceber que estava ali um jogador muito ambicioso, muito forte na perceção dos princípios de jogo e com um foco total em chegar à equipa A do Sp. Braga rapidamente», recordou.

Boly em ação contra o, agora, colega Brahimi na época passada

A ascensão não foi tão rápida quanto isso. Apenas um jogo na equipa principal na primeira época. O que não significa que não tenha estado na agenda do treinador bracarense da altura, Sérgio Conceição.

Fernando Pereira lembra a concorrência forte: «Havia o Aderlan Santos e o André Pinto, mais o Sasso. Não era fácil ser titular.»

«Mas o Sérgio Conceição estava atento, até porque Boly treinava na equipa A e jogava na B. Entendia que era melhor para ele, para se adaptar ao futebol português», explica.

Dito projeta dupla com Ivan Marcano

Conhecedor das realidades do Sp. Braga e do FC Porto, dois clubes que representou enquanto jogador, Dito acha muito pouco provável que Boly jogue a titular no sábado.

«Não acredito que o Nuno faça já mexidas. Não faz sentido nenhum», atira, em conversa com o nosso jornal.

Mas será uma questão de tempo. «Mais à frente, acho que o Boly tem mais condições para jogar do que o Felipe, que tem mostrado algumas dificuldades na relação com a bola, no posicionamento e tem feito algumas faltas desnecessárias, em que atropela os adversários. É muito forte nas bolas paradas ofensivas, nas defensivas também mas já cometeu erros de posicionamento aí», analisa.

Assim, Dito projeta uma dupla de Boly com Marcano, curiosamente um central que chegou a esta temporada com uma posição ténue no plantel portista face a erros individuais em jogos importantes, com dois duelos com o Sp. Braga (Liga e Taça de Portugal) à cabeça.

«Se o Felipe não melhorar, acredito que a dupla será Boly-Marcano. O Marcano tem um bom pé esquerdo, decide bem normalmente. É verdade que no ano passado teve muitos problemas, mas foi o único que conviveu ali com os outros centrais do FC Porto. Foi muita gente», considera. E enumera: «Jogou com o Maicon, que já estava numa fase de menor fulgor até a nível psicológico, depois com o Indi, o que até resultou um pouco estranho por serem os dois esquerdinos, e com o Chidozie que tem um potencial enorme, mas tem só 18 anos.»

Marcano foi, então, no entender de Dito, mais vítima do que vilão nesta história. Felipe é que tem de mostrar mais.

«O Boly vai conquistar esse lugar, a não ser que o Felipe melhore muito. Mas é preciso calma, porque o Felipe leva dois meses de avanço. O Boly parece-me superior, evoluiu muito na época passada, tem condições para jogar numa equipa grande. Pelas alturas, dada a estatura, não ficará atrás do Felipe», defende.

Boly trabalha para ser opção de Nuno Espírito Santo

«Boly precisa ter voz grossa, como Luisão»

O principal problema apontado ao centro da defesa do FC Porto, nos últimos tempos, será, talvez, a falta de uma figura de líder, que, com a ajuda de Iker Casillas, comande o habitual quarteto defensivo portista. Nem Marcano, nem Martins Indi conseguiram assumir esse papel desde a saída de Maicon.

Felipe está ainda a ambientar-se e resta então Boly. Dito tem dúvidas, contudo. «Precisava de o conhecer pessoalmente para fazer essa análise», comenta.

E explica porquê: «Às vezes não conta só a forma de jogar. Para ser líder também conta a forma como se relaciona com os colegas. Não sei se ele terá características para isso, mas não digo que não. É preciso ali uma voz grossa, como o Luisão no Benfica. Pela estatura ele também deve ter…»

Fernando Pereira, que, efetivamente, conhece Boly, vê nele as características necessárias para ser líder. Mas também pede calma.

«Ainda está a crescer, tanto na personalidade em si como na posição que desempenha. O FC Porto é das melhores equipas da Europa e não é qualquer um que se impõe como patrão desde logo. Mas com o tempo de adaptação, não tenho dúvidas que vai mostrar estar à altura do FC Porto. Tem características para fazer a diferença. Mesmo a nível pessoal tem características de liderança que precisa explorar», analisa.

O técnico recorda a «grande confiança» que Boly tem em si próprio, o que é «meio caminho andado» no futebol. E a excelente relação com os colegas.

«Fora do campo gosta de brincar. É inteligente, interage muito com o grupo, não é daqueles de ficar no seu canto. Reparei que em poucos meses passou a falar português fluentemente com os colegas, o que facilitou a integração. Dentro do campo também é muito comunicativo. Isso ajuda, mas, claro, é preciso tempo», conclui.