Jaime Magalhães não se lembra, mas o Maisfutebol dá uma ajuda:

Domingos recebe a bola, ainda no meio-campo defensivo. Olha para a direita e lança o homem dos quatro pulmões, João Pinto. O capitão sprinta, dá dois toques na bola e lança Emil Kostadinov em profundidade. O búlgaro recebe, atrapalha-se, mas livra-se de Popescu e cruza. Domingos tenta chegar à bola e vê um defesa do PSV a afastar para à entrada da área. Magalhães, Jaime, surge embalado e arranca um potente remate. Van Breukelen nada pode fazer. Golaço.

25 de novembro de 1992, o médio/extremo direito do FC Porto faz história. É o autor do primeiro golo de sempre dos dragões na Liga dos Campeões, após a mudança do figurino anterior, designado por Taça dos Campeões Europeus.



«Foram tantos jogos. Nós só queríamos vencer e tínhamos uma excelente equipa nessa altura. Ajudámos a implantar o FC Porto no futebol europeu», diz Jaime Magalhães ao nosso jornal, 22 anos após ter criado essa efeméride no percurso dos dragões.

Para eternidade fica Magalhães, claro, e a equipa escolhida pelo mestre do rigor, Carlos Alberto Silva:

Vitor Baía; João Pinto, Aloísio, Zé Carlos e Semedo (Tozé, 62); Jaime Magalhães, André, Rui Filipe e Jorge Couto; Domingos e Kostadinov.

Suplentes não utilizados: Valente (GR), Jorge Costa, Jorge Costa, Bino e Toni.

O FC Porto fica em terceiro nesse agrupamento, atrás de AC Milan e Gotemburgo. O PSV faz só um ponto, precisamente nas Antas. Ah, vale a pena lembrar o autor dos dois golos holandeses: Romário de Souza Faria. Zé Carlos faz o segundo dos dragões.

Tudo isto a propósito da excelente prestação do atual FC Porto na Liga dos Campeões. Na 19ª presença na Fase de Grupos da principal prova europeia de clubes, os azuis e brancos ameaçam bater os seus próprios recordes.

Por ora, como lembramos ao antigo internacional português, um já está: o de golos marcados. O FC Porto de Lopetegui tem 15 ( depois dos 0-3 em Borisov) e deixa para trás os 12 da temporada 1996/97. A temporada, de resto, de mais e melhores memórias nesta fase da prova.

«O FC Porto está a fazer uma magnífica campanha europeia. Mais regular e convincente do que a campanha interna», sublinha Jaime Magalhães, observador «atento e apaixonado».

«É verdade que as outras três equipas do grupo são mais acessíveis, mas os grandes clubes fazem sempre a sua obrigação, é isso que os destaca. Por isso não podemos desvalorizar os excelentes resultados».

O FC Porto tem 13 pontos (se fizer 16 iguala 1996/97)
, quatro vitórias e um só empate. Ainda não perdeu. E só sofreu três golos (igual a 1996/97). Além disso totaliza já 18,7 milhões de euros, só através dos pontos conquistados (play-off com o Lille incluído).

No plano económico, aliás, só a temporada perfeita de 2003/04, cujo epílogo coroa o FC Porto em Gelsenkirchen, supera esta verba: 22,4 milhões. Nesse ano, curiosamente, os dragões «só» fazem 11 pontos na primeira fase.

Jaime Magalhães defende que o FC Porto pode aproximar-se desse ano de glória europeia.

«A direção construiu um plantel recheado de excelentes soluções. É verdade que nos oitavos-de-final vão chegar os tubarões, mas este Porto tem qualidade. Pode fazer uma bela Liga dos Campeões».

Para Jaime Magalhães, a evolução da equipa explica-se pelo controlo de Lopetegui na teoria da rotatividade.

«Reduziu as mudanças, fechou o núcleo de opções a 15/16 jogadores e todos eles estão confiantes e a crescer. Não fazia sentido insistir na alteração de 4/5 atletas por jogo».       

Recordes do FC Porto na fase de grupos da Champions:

Golos marcados: 15 (2014/15 – Lopetegui)
Golos sofridos: 3 (2009/10 – Jesualdo e 2014/15 – Lopetegui)
Pontos: 16 (1996/97 – António Oliveira)
Vitórias: 5 (1996/97 – António Oliveira)
Derrotas: 0 (1996/97 – Oliveira e 2014/15 – Lopetegui)

Recordes negativos do FC Porto na fase de grupos da Champions:

Golos marcados: 3 (1997/98 – António Oliveira)
Golos sofridos: 11 (1997/98 – António Oliveira)
Pontos: 4 (1997/98 – António Oliveira)
Vitórias: 1 (em 4 edições)
Derrotas: 4 (1997/98 – António Oliveira)

Basta olhar para estes registos e logo se percebe que 1996/97 é um ano de ouro para o FC Porto. Com António Oliveira ao leme - empossado após ser selecionador nacional até ao Euro96 -, a equipa acaba em primeiro no Grupo D e deixa para trás Rosenborg, AC Milan e Gotemburgo. 

A equipa qualifica-se para os quartos-de-final, mas uma noite terrível em Old Trafford deixa marcas. O Porto perde por 4-0 e só consegue um nulo na segunda-mão. 

Daí para cá, o FC Porto tem como melhor registo na fase de grupos os 13 pontos de 2012/13, com Vitor Pereira.

Julen Lopetegui tem tudo para igualar Oliveira, pois os dragões encerram esta ronda a jogar com o Shakhtar Donetsk no Dragão.

Se os resultados dos outros agrupamentos ajudarem, o FC Porto pode, aliás, ser a equipa com melhores números na Fase de Grupos da Champions 2014/15. Mas aí, lá está, já entram outros fatores em jogo. 

À partida para a última jornada, nenhuma equipa tem tantos golos como o dragão de Lopetegui.