Corria o mês de setembro de 2002 quando Vítor Baia foi suspenso por José Mourinho por alegada «desavença grave». Na altura, o guarda-redes do FC Porto treinou sozinho, à margem do plantel, e falhou alguns jogos, mas mais de quinze anos depois confessa que ainda hoje tem «uma ótima relação com Mourinho».
 
«Tinha e tenho grande consideração e amizade pela família e exatamente por isso é que chocámos. O Mourinho é uma pessoa muito inteligente. Quando ele chegou ao FC Porto, eu tratava-o por ‘tu’. Foi adjunto no FC Porto durante cinco anos e depois no Barcelona, onde estávamos quase sempre juntos. Eu coloco-me no lugar dele: foi inteligente na forma como criou, como geriu e como resolveu esse caso», revelou esta segunda-feira ao jornal O Jogo.
 
Baía admitiu «ter faltado ao respeito ao treinador», situação sobre a qual acabou por se desculpar, recebendo ordem para treinar à parte logo a seguir: «Da mesma forma como fui castigado, fui ilibado. Estava há um mês suspenso, respondi à nota de culpa, não rebati item por item, mas pedi desculpa por ter faltado ao respeito ao treinador. De repente, tive ordem para treinar.»
 
O guarda-redes campeão da Europa pelos portistas voltou à titularidade numa partida da Liga dos Campeões, justamente: «O jogo seguinte era para a Champions, com o Rapid de Viena. Mourinho perguntou-me como estava a família, como é que eu estava e depois disparou. ‘Queres jogar? Então vais jogar na quarta-feira’. Lembrei-lhe que tinha estado um mês parado e ele disse: ‘Não me interessa. Se acontecer alguma coisa menos boa, no próximo jogo serás tu e mais dez’. O jogo correu-me bem, ganhamos e eu recuperei a titularidade, mas foi uma lição que levei», refletiu.

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Vítor Baia falou também de uma suposta «campanha» contra si no Barcelona, na qual estava envolvido Pep Guardiola.

«O Minguella era o empresário do Guardiola e de outros valores do Barcelona. A meio da época, ele teve a noção de quanto eu ganhava e fez a comparação com os jogadores que representava. Houve uma campanha tremenda contra mim, não por causa das minhas exibições, mas por causa do que eu ganhava. Guardiola tinha de ganhar mais do que eu», revelou, em referência à sua estadia na Catalunha.

Tendo usado a célebre camisola número 99 no regresso ao FC Porto, a origem da escolha esteve relacionada com a recusa de Pinto da Costa em deixar Vítor Baía utilizar o 69 nas costas.

«No regresso para o Porto, vinha no avião com o presidente a falar de alguns pormenores e surgiu a questão do número que eu iria usar. O 1, o 12 e o 24 estavam ocupados. Surgiram depois várias possibilidades. Atirei-lhe com o ano do meu nascimento, 1969, ou seja, seria o 69. Mas o presidente foi perentório. ‘Não, o 69 nem pensar!’ Pronto, depois de mais algumas sugestões, falei no 99, que era o ano em que estávamos, o ano do meu regresso. E ele achou muito bem, 99 seria!»