«Sabemos o caminho, viemos para vencer, queremos vencer e sabemos como fazê-lo.»

A 1 de junho de 2016 Nuno Espírito Santo apresentava-se assim como técnico do FC Porto no relvado do Dragão ao lado de Pinto da Costa.

Só a custo apareceu na fotografia de família Antero Henrique, diretor-geral do futebol portista, que viria a oficializar dois meses depois a sua saída de funções – substituído por Luís Gonçalves. O motivo mais forte para a saída, nunca publicamente esclarecido, terá sido mesmo o facto de Marco Silva (escolha de Antero) ter sido preterido.

Praticamente um ano depois e ainda com um ano de contrato por cumprir, Nuno saiu do comando técnico dos dragões, que oficializaram o desfecho ao início da noite de segunda-feira.

A equipa foi afastada precocemente das Taças de Portugal e da Liga, mas cumpriu o objetivo mínimo na Liga dos Campeões e lutou até perto do fim pelo título de campeão nacional, claudicando no momento decisivo e não evitando porém o tetra do Benfica.

Apenas mais três pontos do que os 73 da atribulada época 2015/16 valeram ao FC Porto terminar o campeonato no segundo lugar, depois do terceiro lugar na época anterior, garantindo a presença na fase de grupos da Liga dos Campeões da próxima época. Nuno frisou esse objetivo na sua última conferência de imprensa, domingo, após a derrota por 3-1 em Moreira da Cónegos na derradeira jornada.

Os números do técnico que agora se despede do Dragão, porém, não são famosos: tem uma percentagem total de vitórias nas diferentes de competições de 55,1%, inferior à de Paulo Fonseca (56,8%), José Peseiro (59,1%) e Lopetegui (68,8%).

Pior do que isso são as condições da SAD portista, cada vez mais alvo de contestação dos adeptos, para manter a aposta num treinador alvo de uma crescente contestação.

Chegou portanto o fim da linha para Nuno Espírito Santo e a conclusão é evidente: pelo quarto ano consecutivo, Pinto da Costa apostou num treinador que não convencia boa parte dos adeptos, pelo quarto ano consecutivo o FC Porto falhou o seu objetivo primordial de vencer o campeonato.

Vítor Pereira saiu como campeão em 2012/13 e desde então seguiram-se quatro annus horibilis para o clube que nas últimas três décadas foi hegemónico no futebol nacional, detalhados aqui pelo Maisfutebol.

2013/14: Paulo Fonseca (com Luís Castro)

Liga: 3.º lugar (61 pontos)

Competições Europeias: 3.º lugar grupo Champions; «quartos» Liga Europa

Outras provas: meias-finais da Taça de Portugal e Taça da Liga

Depois de uma incrível campanha que levou o Paços de Ferreira ao pódio da Liga e à pré-eliminatória da Liga dos Campeões, Fonseca substituiu Vítor Pereira e pegou num FC Porto tricampeão. A época arrancou bem com a conquista da Supertaça ao V. Guimarães (3-0), o último troféu oficial do futebol sénior portista, e vitórias nas oito primeiras jornadas, até ao clássico frente ao Sporting.

Daí em diante, uma queda a pique nos resultados. Paulo Fonseca resiste à contestação até à 21.ª jornada, até um empate a duas bolas em Guimarães com o Vitória de… Rui Vitória. O técnico deixa a equipa no 3.º lugar e o Benfica destacado na liderança a nove pontos.

Na Liga dos Campeões o FC Porto não vai além do 3.º lugar no grupo (atrás de Atlético de Madrid e Zenit e à frente de Áustria de Viena) e cai para a Liga Europa, onde viria a ser eliminado já sob o comando de Luís Castro nos quartos de final, diante do Sevilha.

Nas Taças de Portugal e da Liga, sorte semelhante, também sob o comando de Luís Castro: eliminação nas meias-finais pelo Benfica.

Luís Castro assumiu como interino o comando da equipa em 16 jogos com um índice de vitórias parecido com o do seu antecessor (56,3%).

2014/15: Julen Lopetegui

Liga: 2.º lugar (82 pontos)

Competições Europeias: quartos-de-final da Liga dos Campeões

Outras provas: 3.ª eliminatória da Taça de Portugal e meias-finais da Taça da Liga

Na sequência de uma das piores épocas do seu reinado, Pinto da Costa surpreende e contrata um treinador estrangeiro e sem grandes provas dadas em clubes… Por três milhões de euros.

Julen Lopetegui (que levou a seleção espanhola de sub-21 ao título europeu) chega pela mão de Jorge Mendes, com perfil autoritário e alguma carta branca para fazer contratações. O FC Porto investe no defeso 45 milhões de euros em contratações e faz disparar os custos com a folha salarial.

Lopetegui tem o primeiro revés na época ainda em outubro, ao ser eliminado em casa pelo Sporting na Taça de Portugal, mas no campeonato luta até à última jornada com o Benfica e faz 82 pontos, o que noutras temporadas daria para ser campeão. No entanto, falha em momentos críticos.

Na Liga dos Campeões, porém, uma campanha brilhante até à goleada em Munique, leva o FC Porto aos quartos e deixa-lhe a porta aberta para continuar.

2015/16: Julen Lopetegui e José Peseiro (com Rui Barros, interino)

Liga: 3.º lugar (73 pontos)

Competições Europeias: 3.º lugar grupo Champions; 16-avos Liga Europa

Outras provas: final da Taça de Portugal e fase de grupos Taça da Liga

Lopetegui continua, mas cedo se percebem alguns atritos. O primeiro baque é a eliminação da Liga dos Campeões, depois de uma surpreendente derrota em casa diante do D. Kiev (0-2), segue-se um mês de dezembro em que o FC Porto consegue chegar à liderança, que no entanto perderia no primeiro jogo de 2016, no clássico de Alvalade. Este jogo, seguido de um empate caseiro frente ao Rio Ave ditam a saída do técnico basco 16.ª jornada, com o FC Porto a quatro pontos da liderança.

Apesar da «chicotada», a 7 de janeiro, o FC Porto não tem substituto no imediato e José Peseiro é anunciado apenas doze dias depois. Lopetegui sai, mas em virtude de numa rescisão em litígio, o FC Porto continua a pagar-lhe o ano e meio de salário remanescente. 

Com a troca de treinadores, a SAD aproveita para fazer sair alguns jogadores mais dispendiosos, como Imbula e Tello.

Peseiro vê a equipa ser eliminada na fase de grupos da Taça da Liga, não discute a eliminatória com o Borussia de Dortmund e é afastado nos 16-avos de final da Liga Europa. No campeonato o FC Porto cai a pique e termina em 3.º lugar, a 15 pontos do campeão Benfica e a 13 do Sporting.

Última esperança: a Taça de Portugal. E aí o FC Porto volta a falhar. Perde surpreendentemente para o Sp. Braga no Jamor.

2016/17: Nuno Espirito Santo

Liga: 2.º lugar (76 pontos)

Competições Europeias: oitavos-de-final da Champions

Outras provas: 4.ª eliminatória da Taça de Portugal e fase de grupos Taça da Liga

Pinto da Costa volta a tentar sacar um coelho da cartola e quando boa parte dos adeptos esperaria Marco Silva, apresenta Nuno Espírito Santo, um ex-jogador campeão no clube, conhecedor da casa, mas que não tinha deixado saudades como treinador no Valência.

A época começa mal, com empates sucessivos e fraca produtividade ofensiva, seguem-se eliminações polémicas sobretudo na Taça de Portugal mas também na Taça da Liga, mas o objetivo primordial permanece intacto com o avançar da época.

Na Liga dos Campeões a equipa apura-se para os oitavos de final, onde viria a cair aos pés da finalista Juventus. Porém, no campeonato o FC Porto encarrila e chega à 19.ª jornada a um ponto da liderança. Seguem-se nove jornadas no encalço dos encarnados até um estrondoso falhanço na reta final que acaba por ditar a saída do técnico.

Inspirando-se em «Largos dias tem cem anos», título da biografia de Pinto da Costa, os adeptos poderão sublinhar que quatro anos leva este longo equívoco na escolha de um treinador capaz de recolocar o clube na senda das vitórias.

E agora, quem se segue?