«DRIBLE DA VACA» é um espaço de Opinião do jornalista Bruno Andrade. Pode seguir o autor no Twitter. O que é o «DRIBLE DA VACA»? Jogada no futebol que ocorre quando o jogador finta o seu adversário tocando a bola por um lado e passando por ele pelo outro. 

Colocar rótulos e julgar padrões sociais é sempre muito perigoso, especialmente quando há o enquadramento de questões culturais. Também vale para o entorno do futebol. Para tudo e para todos, na verdade.

Dizer que Rúben Semedo vai ter um contexto diferente e potencialmente favorável no FC Porto faz bastante sentido, visto o grau de exigência do clube e, sobretudo, de Sérgio Conceição. A cobrança (dentro e fora de campo) é significativa nos azuis e brancos.

Talvez o grande erro ao analisar o regresso a Portugal do problemático jogador, que pagou - e precisa sempre pagar (!) - pelos próprios erros e alegados crimes, é esticar o debate para o lado regional. Acusar práticas e costumes.

Acreditar que ser "apertado" por torcedores é hábito exclusivo do Norte e contribui para o sucesso nos leva a atingir uma generalização injusta e a pisar no terreno nada fértil do preconceito enraizado, correndo muitas vezes o sério risco de ultrapassar limites.

Porto não é Lisboa, assim como Lisboa não é Porto. Porto também não é Villarreal. Nem mesmo Atenas. E vice-versa. Quando o assunto é paixão clubística, o muro que divide o céu e o inferno é baixo e frágil. Anjos e demônios desfrutam do mesmo ambiente e caminham de mãos dadas.

O desenrolar da vida particular de Rúben Semedo vai depender, acima de tudo, do próprio Rúben Semedo - e também da Justiça. Obviamente, o suporte de terceiros é fundamental, mas o processo começa de dentro para fora. Nunca é tarde para (querer) mudar, independentemente do solo que pisa. 

* Bruno Andrade escreve a sua opinião em Português do Brasil.