Como driblar o fair-play financeiro e fazer um plantel com opções em quantidade e qualidade próprias de um candidato ao título?

Essa é a questão primordial neste defeso portista e o desafio imediato para Sérgio Conceição, que substitui Nuno Espírito Santo no comando técnico.

O FC Porto arranca esta segunda-feira os trabalhos para a nova época ainda com bastantes indefinições no grupo de trabalho.

As restrições impostas pela UEFA limitaram as contratações e até ao momento as caras novas no plantel dos dragões limitam-se aos regressos de empréstimo e promoções da equipa B.

Quanto a saídas, a frente de ataque foi desfalcada com a transferência de André Silva para o AC Milan, por 38 milhões de euros (mais dois de opção), naquele que é um dos negócios do defeso no futebol europeu, Depoitre foi contratado pelo Huddersfield, recém-promovido à Premier League, e Diogo Jota terminou o empréstimo e regressa ao Atlético de Madrid.

Falta definir o resto, o que é muito, pelo que há vários pontos de interrogação no grupo de trabalho.

O dia 1 da oficina do Olival nesta segunda-feira vai começar por dissipar algumas dúvidas, que serão respondidas ao longo do estágio.

A digressão ao México para participar na Supercopa Tecate vai marcar o arranque dos testes a sério, com o FC Porto a defrontar o Cruz Azul (18 de julho) e o Chivas (20 de julho).

Ao contrário da época passada, que começou com um difícil e valiosíssimo play-off de apuramento para a Liga dos Campeões, frente à Roma, desta vez os azuis e brancos têm já a fase de grupos da prova milionária garantida. Esse é um fator positivo importante para a grande empreitada que Sérgio Conceição tem pela frente e pode ser também um dado relevante para a abordagem ao mercado que o FC Porto terá de fazer… de forma cirúrgica, face ao contexto atual.

Para já, o Maisfutebol analisa posição por posição o plantel portista para 2017/18.

GUARDA-REDES

Casillas fica ou sai? Esta é a grande dúvida na baliza portista. O guarda-redes espanhol é uma estrela de dimensão mundial e tem um salário a condizer; ou seja, incomportável para os cofres do Dragão, sobretudo considerando que o Real Madrid deixa esta época de comparticipar a maior parte do vencimento. Basta Casillas querer, para consumar a renovação de forma automática por mais uma época. Por outro lado, tem sido colocada em cima da mesa a possível saída do guardião. Esta questão condiciona o resto na definição da baliza portista, onde José Sá deve continuar a ser alternativa e Fabiano, que recupera de lesão, é um velho conhecido de Sérgio Conceição (desde os tempos do Olhanense) e pode integrar o plantel, apesar de estar a recuperar de uma lesão grave. Entre os mais jovens, João Costa poderá continuar a ser a terceira opção, Diogo Costa, que está ao serviço da Seleção no Euro Sub-19, é visto como uma opção de futuro, pelo que Gudiño não terá espaço.

LATERAL-DIREITO

Poucos clubes poderão gabar-se de ter tanta fartura para esta posição como o FC Porto. Tal como no caso de Casillas, o alto salário de Maxi Pereira poderá condicionar a sua permanência no plantel. Porém, no lado direito da defesa não faltam alternativas. Desde logo, Ricardo Pereira, que se valorizou muito na Liga Francesa, após duas épocas em excelente nível ao serviço do Nice, e é visto como o futuro titular na posição ou até, tal como jogava em França, um pouco mais adiantado no terreno, como extremo – isto, claro, se não aparecer alguém a cláusula de 25 milhões de euros. Há ainda jovens de valor como Fernando Fonseca, que se estreou no final da época passada, frente ao Marítimo, e ainda Diogo Dalot, que é destaque da Seleção no Euro Sub-19 e o venezuelano Victor Garcia.

CENTRAIS

A dupla Felipe-Marcano foi dos pontos mais positivos da última época e mantê-la é um dos objetivos da SAD. O brasileiro já terá sido alvo da cobiça de clubes italianos e o espanhol, que termina contrato em junho de 2018, tem vários clubes do seu país no seu encalço, pelo que terá de renovar para continuar no Dragão. Quem também tem mercado em Espanha e apenas mais uma época de contrato é o internacional mexicano Diego Reyes, que poderá ser vendido ao Espanyol ou continuar, em caso de renovação. Martins Indi, outro internacional (holandês), poderá também ser encarado como alternativa para o eixo da defesa, caso não haja uma proposta suficientemente atrativa pelo seu passe, que poderia vir de Inglaterra, onde na última época esteve emprestado ao Stoke City. Quem poderá rumar ao futebol inglês é Boly, alvo do interesse do Wolverhamtpon (agora orientado por Nuno Espírito Santo), um central que não está entre as preferências de Conceição, que trabalhou com o francês em Braga.

LATERAL-ESQUERDO

Tal como do lado oposto, também à esquerda não faltam opções. Alex Telles, que estará a ser cobiçado pelo Chelsea, é o dono de um lugar que tem como alternativa credível Rafa Soares, regressado de empréstimo ao Rio Ave. Além deste duo, há sempre que contar com Miguel Layún, o polivalente que pode jogar em qualquer flanco da defesa ou até um pouco mais à frente. Em 2015/16 o internacional mexicano foi inclusivamente o titular na posição, tendo sido o «rei» das assistências na Liga. Agora, apesar da versatilidade e Layún pode sair caso apareça uma boa proposta.

MÉDIO-DEFENSIVO

Danilo Pereira é um dos imprescindíveis do FC Porto e, garante a direção, só uma proposta que bata a cláusula de rescisão de 60 milhões de euros (ou que ande perto desses valores) pode levar o médio que em janeiro último renovou até 2022. O internacional português terá como principal alternativa ao seu lugar o nigeriano Mikel Agu, que na última temporada esteve emprestado ao V. Setúbal e deu boa conta de si, tal como havia feito na equipa B portista. Na porta de saída deverá estar o jovem Rúben Neves, dado como possível reforço do Wolves de Nuno, tal como Boly. Como terceira alternativa surge o mexicano Omar Govea, da equipa B.

MÉDIO-CENTRO

Só percebendo a forma como Sérgio Conceição deverá distribuir as suas peças em campo será possível arriscar se é possível no meio-campo portista uma solução que conjugue, por exemplo, Otávio e Óliver Torres (além de Danilo, no vértice recuado). Óliver é um dos maiores investimentos de sempre no futebol português e um jovem prodígio que deverá de ser potenciado ao máximo. Entre as alternativas no meio-campo, há ainda Herrera, titularíssimo na seleção do México, mas não do FC Porto, que poderá sair se surgir uma proposta apetecível. Quem está mais fora do que dentro é Sérgio Oliveira, com quem Conceição até trabalhou na última época no Nantes. Em sentido oposto, surge Fede Varela, argentino que brilhou na equipa B e muito promete.

MÉDIO-OFENSIVO

Nuno colocava-o a jogar a extremo-esquerdo, mas a posição natural de Otávio (e aquela onde rende mais) é a de médio-ofensivo. Pela finta curta, pela capacidade de remate e garra com que pressiona alto o brasileiro faz a diferença na zona mais adiantada do setor intermediário. Entre as possíveis alternativas estão André André, que tem tido acentuados altos e baixos de forma nas últimas épocas, e João Teixeira, um jogador talentoso, mas que tarda em afirmar-se.

EXTREMO-DIREITO

Nem sempre foi evidente na última época, mas Jesús Corona é o mais sério candidato à titularidade no lado direito do ataque, embora tenham sido avançados nomes de potenciais reforços para esta posição. O internacional não é um extremo puro e poderia até ter concorrência de um flanqueador como Ricardo Pereira, que surge nesta análise como opção mais forte para a defesa. Corona tem, porém, tal como Brahimi no flanco oposto uma rara capacidade de desequilibrar em lances de um para um e muita habilidade com a bola nos pés. Diferentes características têm Marega, que se destaca pela força física, e Hernâni, um sprinter. A dupla cedida ao V. Guimarães na última época poderá ser opção para o lado direito do ataque ou até para o eixo, no caso do maliano.

EXTREMO-ESQUERDO

Brahimi é talvez o maior desequilibrador da Liga Portuguesa e o jogador mais preponderante na manobra ofensiva portista. A época passada veio provar isso mesmo, com a sua entrada em cena em definitivo a coincidir com os momentos de melhor forma e jogo mais fluído dos azuis e brancos. O problema aqui é que o argelino é um nome badalado na lista das potenciais transferências em quase todos os defesos e neste não é exceção, pelo que a sua continuidade está longe de estar garantida. Já agora, fixem este nome: Galeno. Em maio, o FC Porto comprou o passe e assinou contrato até 2022 com o jovem talento brasileiro de 19 anos, que vai integrar o plantel principal depois de ter mostrado excelentes atributos e dotes de goleador ao serviço da equipa B.

PONTA-DE-LANÇA

André Silva saiu, Diogo Jota (que jogava mais a extremo esquerdo ou como segundo avançado) também e, até ver, o papel de homem-golo dos dragões cabe sobretudo a Tiquinho Soares. O brasileiro representado por Deco chegou a meio da época passada, de Guimarães, e cumpriu com as melhores expetativas ao marcar 12 golos em 17 jogos e assumir-se como titular indiscutível. Há ainda Rui Pedro, jovem promessa de 19 anos que no último ano marcou pelos juniores, equipa B e plantel sénior e que está a representar Portugal no Euro Sub-19. Faltam, porém, mais soluções para o eixo do ataque e aqui surge o nome de um velho conhecido: Vincent Aboubakar esteve cedido ao Besiktas e já foi dado como transferível em várias ocasiões, porém, tem sido dado nos últimos dias como um possível reforço para o ataque, desde que, claro, está renove o contrato que o liga ao FC Porto até 2018. Gonçalo Paciência, Suk, Adrián López ou Bueno parecem cartas fora do baralho.

CONCLUSÃO
A um mês e meio do primeiro jogo oficial, a contar para a 1.ª jornada da Liga, estamos certamente ainda longe de ver uma versão definitiva do FC Porto época 2017/18. Há potenciais titulares que ainda podem sair, emprestados (como Quintero, Josué, Adrián López ou Suk) que aguardam colocação e, claro, algumas contratações que deverão ser anunciadas em breve.

A saída de André Silva faz com que seja necessário sobretudo reforçar o eixo do ataque, isto, claro está, se não houver baixas de peso nos outros setores neste novo FC Porto de Sérgio Conceição, que irá dando a conhecer a sua face com traços cada vez mais expressivos à medida que a pré-época for avançando.