José Pedro Pereira da Costa, CFO da SAD do FC Porto, apresentou, esta sexta-feira, no Estádio do Dragão, o Relatório e Contas da temporada 2023/24, acompanhado do presidente André Villas-Boas.
O dirigente portista alertou, desde logo, que as contas são maioritariamente da responsabilidade da anterior administração (11 dos 12 meses em questão). O exercício, diga-se, fechou com um resultado negativo de 21,063 milhões de euros.
Pereira da Costa destacou o «crescimento positivo de todas as linhas de receitas operacionais, em particular as comerciais», tais como receitas pela participação em provas UEFA, bilhética, merchandising (com destaque para o sucesso do terceiro equipamento da época passada) ou publicidade. Contudo, detalhou que «os resultados operacionais foram penalizados por custos não recorrentes», enquanto as «transações com passes de jogadores foram insuficientes para compensar custos financeiros crescentes».
Vejamos os principais tópicos das contas da SAD azul e branca, desde as dívidas a fornecedores, a clubes e agentes, às receitas de direitos de transmissões televisivas já antecipadas e sem impacto positivo nas contas e onde o FC Porto tenciona ir buscar receita para combater o passivo milionário.
Situação atual da SAD
Receitas UEFA e Mundial de Clubes: perda de receita de cerca de 40/45 milhões de euros em 2024/25, por falhar a Champions. O prémio recebido em setembro teve, por isso, uma perda na ordem dos 30 milhões. Já o Mundial de Clubes terá um prémio a contabilizar no próximo exercício, mas é esperado que o valor seja mais baixo do que os 50 milhões inicialmente falados.
Direitos TV: os valores (43 milhões por ano) estão descontados até dezembro de 2027. Ora porr isso, dos quatro anos que faltam até ao fim do contrato, o FC Porto já recebeu adiantados os valores de 3,25 desses anos. Para além disso, está ainda obrigado a pagar uma taxa acima de dez por cento para liquidar esses adiantamentos. Nos próximos três anos, portanto, o FC Porto vai declarar receitas de 43 milhões por ano, mas sem o dinheiro de facto entrar na tesouraria. O que significa uma discrepância de 43 milhões entre o que declara ter recebido e o que de facto recebeu. Na realidade, até 2028, o FC Porto vai receber 32 milhões (e declarar 172 milhões) de receitas de TV.
Receitas comerciais e acordo já assinado com a Ithaka, que será «motor de crescimento»: encaixe de 50 milhões de euros. O acordo foi assinado esta semana e o montante já está nas contas do FC Porto. Desse valor, 15 milhões destinam-se a financiar os investimentos para modernizar o estádio, para proporcionar uma melhor experiência aos adeptos. Abateram 6 milhões de valores que já tinham sido descontados e tiveram de ser reembolsados.
Situação de tesouraria: liquidez em maio era de «níveis mínimos históricos». O FC Porto recebeu uma conta corrente de clientes com transferências de jogadores de sete milhões de euros: ou seja, os valores a receber pelas transferências efetuadas antes da entrada da atual administração foram todos adiantados, tendo sobrado apenas sete milhões por receber. A 30 de junho de 2024, a FC Porto SAD tinha por isso um desbalanceamento de tesouraria de 86 milhões de euros entre passivo e ativo corrente. Tinha 7 milhões a receber e 93 milhões a pagar com transferências de jogadores da antiga administração.
Iniciativas já executadas ou em marcha para assegurar liquidez
- Organização do programa de papel comercial;
- Iniciativas para incremento de receitas comerciais a custo zero;
- Campanhas com sócios, como lugares anuais e bilhética;
- Contenção de custos com salários de jogadores e administração, com impacto de -6ME;
- Janela de transferências com receitas de 59ME fixos e 20ME variáveis relativamente fáceis de concretizar, além de custos de intermediação reduzidos (2,6ME).
Aumento de receitas: prémios UEFA, direitos TV, merchandising, bilhética e publicidade
SAD com prejuízo de dois milhões
Custos operacionais de 10 milhões de euros anulam incremento de receitas de 8 milhões. Quais foram esses custos operacionais? Multa da UEFA (1,5M); Imparidade Porto Canal (2,1M); Imparidade ativos fixos (2,2M); Provisões (6M, inclui disputa com clube terceiro e prémios aos jogadores; sem estes custos de natureza não recorrente, o resultado operacional seria positivo).
Resultados com transações de passes jogadores (maiores transferências e o caso Otávio)
2020/21: 30,8M (Fábio Silva, Danilo e Alex Telles). Resultado líquido: 19,3 milhões de euros
2021/22: 45M (Luis Díaz, Vitinha e Fabio Vieira). Resultado líquido: 20,8 milhões de euros
2022/23: -24,2M (Diogo Leite). Resultado líquido: -47,6 milhões de euros
2023/24: 9,2M (Otávio). Resultado líquido: -21,1 milhões de euros
Com Champions e a estrutura de custos da SAD, precisamos de gerar 25/30 milhões de resultados com passes de jogadores para termos resultados líquidos positivos, face à estrutura de receitas que temos hoje. Abaixo de 20/25 milhões com transações de passes, significa um resultado líquido negativo e foi o que aconteceu no ano passado.
Encargos financeiros (muito significativos) passaram de -22,6ME para -29,7ME: taxas muito elevadas, nomeadamente a operação da prestação de Otávio, que foi antecipada para final de março e teve um custo de cerca de 2,2ME. Custo de 12 por cento por um período de três meses.
Pagamentos de jogadores até 30 de setembro (obrigatórios para não incorrer no fair play financeiro da UEFA)
Total de 34 milhões de euros, com destaque:
Pagamentos a agentes: aguardam a conclusão da auditoria em curso.
Impacto da reavaliação do Dragão nos capitais próprios
- Valor do estádio antes de 31 de dezembro 2023: 112M
- Reavaliação a 31 de dezembro de 2023 (desafiada pela CMVM): 279M, o que permitiu capitais próprios de 132M
- Reavaliação a 30 de junho de 2024: 213M. Houve redução de 66M, com impacto nos capitais próprios de -47M. Nova valorização do estádio é de 213M.
O plano da SAD para o futuro (importância da Champions e das vendas de jogadores)
Face ao volume gigante de pagamentos de 93 ME de pagamento a clubes, estamos a trabalhar para ter operações com prazos longos de reembolso e com custos normais. Nesta frente, já concretizada a operação da Ithaka, vamos permitir reforçar os capitais próprios, com melhoria de 65ME dos capitais próprios. Os 35ME [restantes do acordo] só podemos registar quando concretizarmos objetivos. Temos outras operações de financiamento em curso, temos vindo a falar com a banca internacional para montar uma operação e esperamos ter novidades a breve trecho. Estamos a trabalhar noutras operações que irão trazer a liquidez que precisamos para atuarmos como um clube normal, que paga a tempo e horas e honra os seus compromissos em todas as frentes.
- Potenciar receitas comerciais;
- Investir na equipa principal para assegurar presença assídua na Liga dos Campeões;
- Rever o grupo empresarial para ter estrutura mais ligeira e custos mais baixos;
- Gerar resultados relevantes em transações com passes de jogadores.