«É hoje o dia», afirmou Pinto da Costa na hora de apresentar Sérgio Conceição como novo técnico do FC Porto.
Quinta-feira, pelas 17, hora do Dragão, Sérgio Conceição subia lado a lado com o presidente ao palanque de um anel de circulação interno do estádio, junto à entrada para os balneários, decorado com quadros de façanhas portistas que enriqueceram a história do futebol português, e dele ouviu palavras de incentivo: «Não tens cadeira de sonho porque estás em pé. Mas tens um estádio de sonho onde sempre sonhaste entrar como treinador», disse Pinto da Costa, antes de sentenciar com a afirmação que abre o texto e como que decreta o fim de uma longa espera: «É hoje o dia!»
Conceição, que assinou por duas temporadas (depois de rescindir um contrato de três épocas com o Nantes), declarou o seu «amor» ao clube, emocionou-se ao recordar os falecidos pais, prometeu-lhes e prometeu aos adeptos portistas a felicidade (pela conquista do título) em maio e sobretudo mostrou por palavras em que base assentará o seu trabalho.
No dia 1 do antigo craque azul e branco como novo técnico dos dragões o Maisfutebol escrutinou o discurso do técnico para mostrar em que (cinco) pilares se vai sustentar a «nova era» deste FC Porto de Sérgio Conceição.
Atitude: raça, mas não só
Logo no início da apresentação, Conceição sublinhou o «amor ao clube» e a «enorme alegria», – aliás, bem patente na sua expressão – por regressar ao FC Porto, confrontou-se com a imagem que muitos têm dele e decidiu definir-se de uma forma bem mais completa como técnico. «Dizem que o FC Porto foi buscar para treinador um ex-atleta, com raça… É verdade. Mas também alguém com qualidade e ambição. Esse é o espírito: sermos exigentes, rigorosos, disciplinados, para no fim dar aos adeptos a alegria de conquistar títulos», disse o técnico, sintetizando: «Ganhar no grito já não existe. Ter raça é importante, mas é preciso inteligência a ler o jogo e no dia a dia.»
Abordagem tática: matriz adaptável
Não era dia para grandes considerações táticas, mas ainda assim Conceição também aflorou aquilo que em termos de ideia de jogo pode vir a ser este novo FC Porto.
«Eu não venho para aqui aprender, venho ensinar. Sou treinador do FC Porto. Se estiveram atentos ao campeonato em França, a minha dinâmica de jogo foi completamente diferente daquilo que foi aqui em Portugal porque tinha outros jogadores à disposição. Hoje, aqui, no FC Porto, obviamente que a minha matriz de jogo tem de ser diferente daquilo que tive em seis ou sete anos como treinador», esclareceu Conceição, acrescentando: «Jogar em bloco baixo, médio ou alto e pressionar alto e perceber todos os momentos do jogo são situações que trabalhamos diariamente. E com qualidade.»
Plantel: formação e potenciação de jogadores
Conceição espera perder jogadores e diz-se consciente de que o FC Porto obrigado a obter um encaixe financeiro substancial com vendas de jogadores. No entanto, promete uma equipa muito competitiva, com «estatuto e força de poder lutar pelos títulos».
Uma das soluções para esta equação passará por olhar para a formação e potenciar jogadores.
«Aquilo que tive até aqui foram equipas em que tentei potenciar ao máximo os jogadores» e «Dou importância à formação, porque é importante para o futuro dos clubes» foram afirmações do novo técnico que, como jogador, fez a formação no FC Porto, desde os 16 anos, e vê vantagens numa aposta maior na cantera: «Os jovens têm ambição e conhecimento dos valores daquilo que é o FC Porto. Já me informei e fiz o trabalho de casa dos jogadores que têm condições de num futuro próximo poderem fazer parte do plantel.»
Comunicação: mensagem forte
Bastava comparar o ritmo e até a emotividade da apresentação de Sérgio Conceição com o discurso muitas vezes hermético de Nuno Espírito Santo para perceber a mudança em termos de comunicação no comando técnico do FC Porto.
«Vou continuar a não ter problemas em dizer o que penso.» «Não é fácil para os jogadores trabalharem comigo. Eles sabem que estão sob exigência diária.» «A pressão faz-me crescer e desconfiar diariamente.» «É conhecido o momento difícil do FC Porto. Mas são momentos assim que quero superar com a minha ambição e qualidade no trabalho, que sei que tenho.»
Uma após outra, as mensagens claras e fortes foram dando corpo a um discurso que também cedeu à emoção no momento de Conceição recordar os pais, que perdeu na sua adolescência (o seu pai faleceu de acidente de mota no dia seguinte a Sérgio assinar o seu primeiro contrato com o FC Porto, aos 16 anos): «Onde quer que eles estejam, estarão felizes ao olhar para mim com muito orgulho do meu trajeto como jogador e como treinador. Em maio, acredito que eles e todos os portistas estarão felizes…»
Trabalho de equipa
A equipa técnica que acompanhará Sérgio Conceição será composta pelos adjuntos Siramana Dembélé e Eduardo Oliveira, pelo preparador físico Vítor Bruno e pelo treinador de guarda-redes Diamantino Figueiredo.
Dembélé, ex-jogador francês que em Portugal jogou no V. Setúbal (em 2005/06), é o braço direito de Conceição, capaz até de a meio da madrugada se deslocar a casa do técnico para discutir determinado aspeto tático.
O trabalho de equipa é evidente. Por exemplo, esta quinta-feira, duas horas depois do fim da apresentação e já depois de elementos da estrutura portista e quase todas equipas de reportagem terem abandonado o local, Conceição mantinha uma roda conversa com os seus adjuntos nos corredores do Dragão, de onde saiu só por volta das 19h30.