Início de época com o mesmo clássico, Sporting-FC Porto, que tinha encerrado a temporada anterior, correspondendo neste caso à estreia oficial da nova era do FC Porto de Vítor Bruno.

E se a maior expectativa era perceber como se ia apresentar este Porto, e que novas nuances o treinador estaria a construir, acabou por ser Rúben Amorim a surpreender e apresentar novas ideias em relação ao seu tradicional esquema de jogo, sobretudo defendendo quase sempre numa linha de quatro e alterando também a estrutura de ataque posicional.

1. FC Porto a tentar defender em bloco alto e com intenção de condicionar a construção do adversário

Neste aspecto, partindo de uma estrutura similar ao que anteriormente usava Sérgio Conceição - 4x4x2 -, com Nico González a jogar numa posição mais adiantada, a pressionar ao lado de Namaso. Em muitos momentos, em zonas de pressão muito alta, um dos médios (Varela ou Grujic) adiantavam-se no campo para se aproximarem da primeira linha de pressão.

O Sporting respondia com uma dinâmica de construção diferente do habitual nos últimos anos: Geny Catamo aparecia na esquerda, numa equipa que, embora com alguma alternância, se apresentava com uma construção a quatro. Quaresma a abrir na direita como lateral, Debast e Inácio no meio e Catamo na esquerda, que rapidamente ajustava com a subida do moçambicano para atacar como extremo. Inácio abria na lateral e Morita baixava para central esquerdo na construção.

Era uma dinâmica nova, que colocava a equipa muitas vezes próxima de um 4x4x3 em momento ofensivo, com Trincão e Pedro Gonçalves praticamente como interiores. Gyokeres mantinha os movimentos habituais de ruturas, insistindo muito nas ruturas sobre a esquerda, forçando mais duelos com Zé Pedro, que haveriam de dar sucesso em dois lances.

Com o jogo condicionado pelos dois golos muito madrugadores, um de bola parada e outro numa transição por Gyokeres, após perda de bola da equipa portista, e com as nuances introduzidas pelo Sporting, o FC Porto sentia dificuldades para controlar o jogo e desmontar o seu adversário.

2. Defensivamente, o Sporting apresentou-se em 4x4x2

Ruben Amorim já havia introduzido estas nuances para defender em zonas altas, mas em zonas mais baixas voltava à linha de cinco. Neste jogo, com Trincão e Gyokeres na primeira linha de pressão, e Quenda na direita a fechar a segunda linha de pressão de quatro jogadores, raramente a equipa leonina fechava com linha de cinco (só o fazia quando havia situação de cruzamento na área). Era assim um Sporting a mudar a dinâmica da sua linha mais recuada.

Do lado portista, a tradicional construção a quatro, mais dois médios. Contudo, usando dois médios mais posicionais, e colocando Nico em zonas mais altas. Com isto, o treinador pretendia fazer uso da sua qualidade técnica para receber naquelas zonas, criar situações de golo e aproveitar a sua capacidade de aparecer em zonas de finalização (acabando por marcar, o que possivelmente poderemos ver a acontecer mais vezes durante a época). Os laterais começavam baixos para depois aparecerem na frente, ora por fora, ora por dentro. Já os alas surgiam colocados muitas vezes em zonas altas e dentro, para movimentos à profundidade (como no primeiro golo portista)

3. FC Porto aparecia com menos mudanças estruturais e dinâmicas que o seu adversário

Num jogo nem sempre ainda muito fluído e com vários erros de parte a parte, o Sporting ia parecendo capaz de controlar, jogando com o resultado favorável.  Assim entrava na segunda parte, e quando parecia ter o domínio e controlo... tudo mudou: mudou precisamente quando Vítor Bruno mexeu na equipa.

E se há momentos em que as mexidas na equipa funcionam, foi neste caso. Embora não se possa atribuir completamente a chegada ao empate às substituições, é certo que poucos minutos depois o FC Porto fez dois golos. Com as primeiras alterações, Galeno passou para lateral esquerdo, Iván Jaime para extremo e Eustáquio no meio, para dar mais dinâmica e frescura, passando Martim para a direita. Com isto arriscou e procurou criar problemas ao Sporting.

Com a passagem de Galeno para lateral, procurou explorar melhor esse corredor, com Iván Jaime a entrar por dentro e dar espaço para a chegada de Galeno, tentando obrigar Quenda a entrar na linha defensiva e a explorar a sua menor capacidade defensiva (como foi visível no terceiro golo portista). 

4. Um Sporting apanhado de surpresa e o jogo a mudar

O FC Porto, ainda que sem mexer na estrutura, passava a ter mais domínio e controlo. Defendia melhor e mais coeso e ia estando mais forte no ataque, com mais situações de golo. Já com Vasco Sousa e Navarro em campo, a equipa cresceu no jogo. De uma situação de dificuldade, e muito tempo de maior domínio e controlo pelo Sporting, o jogo virava para um FC Porto mais forte e por cima nesta altura.

5. Prolongamento: dragões a ajustarem-se próximos de um 4-1-4-1, num bloco mais médio

O Sporting com as mexidas no fim na segunda parte, e depois refazendo a sua linha defensiva, voltava ao seu registo mais comum de construção a três. Voltava a ter mais bola e a subir linhas, mas o FC Porto era já muito mais capaz defensivamente, com um bloco coeso, que ia controlando o jogo ofensivo adversário com muito esforço e união.

Com isto, a equipa portista acabou mesmo por chegar pela primeira vez à vantagem no marcador e concretizar uma reviravolta épica. Após este momento, a entrada de David Carmo, num ajuste para defender numa linha de cinco, indicava que a ordem era para fechar todos os caminhos para a baliza e segurar o resultado, mostrando capacidade para lutar e sofrer até ao fim.