Soares e os outros: a ponte negocial que liga o Porto a Guimarães

Jogo grande da 21.ª jornada e um teste difícil na luta pelo título, a deslocação do FC Porto a Guimarães tem entre outros atrativos o reencontro de Tiquinho Soares com o clube que representava há cerca de duas semanas.

Antes de reforçar os dragões no mercado de inverno, recusando uma proposta milionária dos chineses do Henan Jianye, o avançado brasileiro de 26 anos despediu-se dos adeptos do Vitória de Guimarães com um golo e uma grande exibição em Braga, num triunfo histórico no dérbi do Minho (1-2, o primeiro dos vitorianos em casa do rival desde 2002).

O melhor, no entanto, veio a seguir, com Soares a estrear-se pelo FC Porto com uma exibição ainda mais notável e um bis no Clássico frente ao Sporting (2-1).

Uma semana depois, ele vai voltar ao Afonso Henriques com pose de conquistador. Em campo, porém, não encontrará os seus ex-colegas de ataque, já que Moussa Marega e Hernâni estão cedidos pelos portistas.

Soares de um lado e Marega e Hernâni, pelo outro, são apenas os exemplos mais recentes da ponte negocial que passou a existir entre Guimarães e o Porto desde que Júlio Mendes foi eleito presidente dos vitorianos, a 31 de março de 2012, sucedendo a Emílio Macedo.

Este engenheiro civil de 53 anos, que já foi vereador da Câmara Municipal de Guimarães, criou uma SAD para gerir o futebol profissional e em cinco anos melhorou significativamente a situação do clube em termos financeiros e desportivos.

Para lá disso, alterou-se também o posicionamento estratégico do clube. Mendes tem uma boa relação pessoal com Pinto da Costa e ainda em outubro último participou na gala dos Dragões de Ouro, por exemplo.

A contratação de Soares pelo FC Porto é apenas o exemplo mais recente. Depois de meia década de afastamento, o reatamento dos negócios entre os dois clubes começou com David Addy, lateral-esquerdo ganês, que em agosto de 2012 rescindiu com os azuis e brancos e rumou a Guimarães.

Seguiu-se o defesa-central senegalês Abdoulaye, cedido ao Vitória em julho de 2013. Nesse defeso, o FC Porto contratou Tiago Rodrigues e Ricardo Pereira, dois jovens que haviam sido importantes para a conquista da Taça de Portugal por parte da equipa então orientada por Rui Vitória, que na final bateu o Benfica.

No mercado de inverno de há dois anos, os dragões cederam o trio Sami, Ivo Rodrigues e Otávio. O médio/extremo brasileiro esteve época e meia ao serviço dos vitorianos foi o único que singrou, a ponto de regressar ao Dragão pela porta grande no início da presente temporada.

Jogadores que seguiram do FC Porto para o V. Guimarães:

Foi uma espécie de win-win a cedência de Otávio. O Vitória beneficiou do seu contributo, sobretudo durante a passagem de Sérgio Conceição pelo comando técnico (na época anterior), enquanto o FC Porto ganhou um reforço importante nesta temporada ao resgatar o jogador de 22 anos, que foi importante na manobra da equipa de Nuno Espírito Santo, até lesionar-se em dezembro último.

Outro jogador proveniente do V. Guimarães que ganhou o seu espaço no plantel portista foi André André, contratado no início da época 2015/16, numa altura em que os dragões ainda eram orientados por Julen Lopetegui, fazendo o mesmo trajeto que meia época antes havia sido feito no mercado de inverno por Hernâni – agora de novo cedido ao V. Guimarães.

Além dos cedidos Marega (que poderá ficar até final de 2018, na sequência da saída de Soares para o FC Porto) e Hernâni, no plantel vitoriano faz parte também Tozé, jovem médio internacional pelos escalões jovens que aquando da contratção de André André rescindiu com os portistas para assinar contrato por quatro anos com o Vitória. Outro jogador a rumar do Porto para Guimarães nesse mercado foi Licá, que esteve por empréstimo na cidade-Berço na época passada.

Nos dragões, além de Soares e Otávio, Rui Areias também chegou esta época de Guimarães para o FC Porto. Chegou no último dia do mercado como reforço da equipa B, cedido pelo Vitória.

Jogadores que seguiram do V. Guimarães para o FC Porto:

Nestes últimos cinco anos, sete jogadores seguiram da cidade-Berço para a Invicta e doze fizeram o percurso inverso (Otávio e Hernâni foram os únicos com ida e volta).  

A verdade é que a relação entre os dois clubes mudou radicalmente com a troca de Emílio Macedo por Júlio Mendes na presidência dos vimaranenses. Os cerca de 50 kms que separam a Invicta da Cidade-Berço parecem ter encurtado com benefícios evidentes para os dois lados.