Há uma pessoa para quem o Anadia-FC Porto não será seguramente apenas um jogo mais. Chama-se Wilson Manafá, tem 28 anos e é lateral.
Por um daqueles caprichos do destino, que parece ter um sentido de humor admirável, o regresso deve acontecer este domingo... exatamente na casa de partida.
Manafá, recorde-se, foi operado há mais de dez meses. Após um longo e intenso calvário recuperou da lesão, no último sábado até jogou noventa minutos pela equipa B e deve voltar à equipa principal na Taça. No Estádio Municipal de Anadia, ali a dez quilómetros de casa.
É ou não verdade que o destino tem uma espirituosidade adorável?
«Vai estar muita gente de Oliveira do Bairro a ver o jogo em Anadia. Sobretudo pelo meu irmão, claro, para o apoiarem. As pessoas da terra gostam muito dele», conta Joni Manafá.
«E ele também gosta muito das pessoas de cá. Aparece muito por cá, vem visitar a cidade, estar com a família e com os amigos. É uma espécie de menino bonito de Oliveira do Bairro.»
Nesta altura vale a pena recordar que Wilson Manafá cresceu em Oliveira do Bairro. O pai era o roupeiro da equipa principal, a mãe também ajudava por lá e os filhos começaram todos a jogar nas camadas jovens do clube. Wilson esteve dez anos no clube, Joni ainda por lá anda.
O irmão mais novo de Manafá tem 19 anos, é ponta de lança e mede quase dois metros. Dizem que é muito diferente de Wilson, mas que é também muito promissor.
«Estive um ano no futebol francês, voltei agora ao Oliveira do Bairro e as coisas estão a correr bem. Estou a fazer um trabalho específico de fortalecimento muscular e desenvolvimento de velocidade. É uma coisa que faz parte: as pessoas do clube notaram que me faltava e agora estou a fazer um trabalho mais direcionado para o desvolvimento físico», conta Joni.
«Faço isso todos os dias. Basicamente tenho duas sessões de treino todos os dias: uma com a equipa e uma individual para fortalecimento muscular e desenvolvimento da velocidade. Acho que já se começa a notar no meu jogo e espero que em breve possa notar-se mais.»
Ora de regresso a Oliveira do Bairro, onde vive com a mãe, Joni Manafá vê com alguma curiosidade o regresso do irmão à zona. Até porque Oliveira do Bairro e Anadia têm uma enorme rivalidade, normal entre vizinhos tão próximos.
«Há uma rivalidade que não é só nas brincadeiras, é uma rivalidade levada mesmo a sério. Eu joguei várias épocas no Anadia e senti isso. Ele também jogou lá uma temporada e também a conhece bem. Acho que vai ser um jogo especial para ele. Não sabemos ainda se vai jogar, mas por exemplo se jogar e marcar, acredito que não vai festejar», garante Joni.
«Não sei, não falei com ele sobre isso, mas é uma coisa que sinto.»
Ora outra curiosidade que há por detrás do jogo de domingo passa por esse pormenor que Joni já revelou: pelo regresso de Manafá a uma casa que bem conhece. Durante meia época, em 2015, o então extremo direito (só mais tarde foi adaptado a lateral) jogou no Anadia.
«Na altura deu um passo atrás, quando o Beira Mar entrou em insolvência. Houve ali qualquer problema de mercado e acabou por ficar meio ano no Anadia», revela o amigo Mendonça.
«Mas ele já era de outro nível, sabia-se que em janeiro acabaria por sair e foi o que aconteceu: saiu para o Varzim e o resto já se sabe: Portimonense e depois FC Porto.»
Na verdade, e após um ano na II Liga, o Beira Mar entrou em insolvência, caiu nos Distritais e Manafá viu surgir o interesse de um clube de nível superior. Uma série de problemas, porém, fizeram com que o mercado fechasse sem o jogador assinar contrato.
Sem possibilidade de continuar nos campeonatos profissionais, o lateral voltou a casa para representar o Anadia. Onde se tornou amigo de João Nogueira, que ainda hoje joga no clube.
«Já nos conhecemos há muitos anos. Somos do mesmo ano, de 1994, crescemos a jogar no Anadia, para onde entrei com oito anos, e no Oliveira do Bairro, o que provocou uma rivalidade entre nós. Depois ele veio para o Anadia e criámos uma forte amizade. Fazemos parte de um grupo de amigos que se junta muitas vezes e já falámos sobre o regresso dele», conta.
«Ainda não sabe se vai jogar, está agora a regressar na equipa B. Em princípio deve estar cá e acho que vai ser especial para ele. É um regresso a um clube onde já jogou, acaba por vir à terra dele e ainda para mais regressa com a camisola do campeão nacional. Foi por aqui que ele cresceu, vai ter as pessoas da terra dele a ver o jogo, é o menino querido de toda a gente, portanto claro que vai haver um sentimento especial.»
Mendonça conta até um pormenor curioso.
«No domingo o Oliveira do Bairro tem um jogo muito importante: com o Águeda, que é o maior rival, de há muitos e muitos anos. O jogo é às 15 horas, as pessoas vão juntar-se para ir ao campo e acredito que depois sigam para Anadia para apoiar o Manafá. O jogo com o FC Porto é a uma hora boa, às 20:45, dá tempo para ver o Oliveira do Bairro, ir comer qualquer coisa a casa e seguir para Anadia», conta.
«Depois da infeliz lesão que teve, esta é uma boa altura para fazer uns minutos, ainda para mais em casa dele, aqui na zona que ele adora e com as pessoas que conhece a apoiá-lo.»
Foi quase um ano de calvário, é verdade, mas agora era difícil pedir um regresso mais feliz.
O destino sabe ser gentil.