A direção da Federação Portuguesa de Futebol aprovou na quinta-feira o plano estratégico para a década, cuja denominação é Futebol 2030. Uma estratégia que, de certa forma, responde à ausência do Desporto do Plano de Recuperação e Resiliência, que contempla cinco ambições gerais, mas que, no fundo, se gere por duas ideias: mudar a cultura desportiva do país e, ao mesmo tempo, “salvar” o futebol português.

Ambições finais e metas, antes do caminho

Comecemos pelo fim. Quais são as ambições da Federação para 2030, ano de um Mundial que pretende organizar com Espanha?

Há cinco: que o futebol se relacione com todos os portugueses, independentemente de sexo ou idade; ser o maior veículo promocional de Portugal no mundo; ser o promotor de referência da igualdade e integridade na sociedade; ser exemplo de sustentabilidade e ser o maior formador de referência de jogadores, treinadores, árbitros, mas também de outro tipo de agentes.

Esta última ideia parte deste pressuposto: se é preciso algo/alguém relacionado com futebol, seja um treinador, um fisioterapeuta, um diretor-desportivo, Portugal é o país por onde a procura deve começar.

Para atingir aquelas ambições finais, no documento apresentado pela FPF leem-se indicadores quantitativos e indicativos que, no entender do organismo, permitirão chegar lá.

São, no fundo, as metas que a FPF considera ter de atingir. Ter 400 mil federados entre futebol e futsal em 2030 e, como no entender do organismo nem tudo está mal no panorama futebolístico nacional, manter a I Liga como uma das seis primeiras do Ranking UEFA e a Seleção Nacional no top5 da FIFA.

No feminino, estas metas leem-se: colocar o campeonato no top6 da UEFA e a seleção no top20 mundial. No futsal continuar como número 1 a nível europeu e no top3 mundial, patamares também colocados no feminino.

Como se pode ver pelo quadro abaixo, a FPF tem uma preocupação com a qualidade de jogo – daí ter um objetivo de aumentar o tempo útil para mais de 60 por cento - e com o envolvimento do público em redor do futebol.

Estas metas de consumo são claras também: haver uma ocupação média nos estádios superior a 50 por cento, aumentar a audiência média da Liga feminina na TV para 115 mil telespectadores.

Imagens FPF

A qualificação do dirigismo português é outra preocupação, desde a base, ou seja, os clubes locais, até ao topo. Ainda que o caminho, aqui, seja mais longo do que, provavelmente, o desejável.

Na “salvação do futebol nacional”, através de novos praticantes e fontes de receita, entende-se uma das metas da FPF: que os emblemas nacionais tenham autonomia financeira total.  

Vistas as metas, qual o caminho?

A FPF escolheu o caminho longo. Quer isso dizer que quer começar a mudar o futebol português pela base. Isso é visível na galeria que acompanha este artigo, no cimo da página.

Medidas concretas de regulamentação imediata no topo da pirâmide, sobretudo a nível disciplinar e de justiça, não estão pormenorizadas no plano. O que não significa que não venham a existir.

A transformação de uma cultura numa sociedade faz-se através da introdução de novos comportamentos. É por isso que a FPF pretende trabalhar com as autarquias a introdução do futebol logo em idade pré-escolar.

Não é uma lógica apenas comportamental, é também de hábito. Ou seja, não se trata apenas dos valores que o Desporto e a competição devem refletir, mas também de rotinas: uma cultura desportiva e uma cultura de prática desportiva, no caso de futebol. Crê a federação, em convivência com restantes modalidades.

Outro dos pontos pertinentes tem a ver com as infraestruturas. Investimento em novas, a construir, portanto, e uma utilização total dos espaços. Como exemplo, que esses espaços venham a ser utilizados pelos mais velhos nos horários em que crianças, adolescentes e profissionais não estejam a utilizar relvados ou pavilhões. Num exemplo, que o walking football seja o último exercício de uma vida desportiva.

Imagens FPF

Ou seja, a FPF quer que o futebol/futsal acompanhe e complete o ciclo de vida de um português. Começando pela prática no pré-escolar, o que levará a um consumo desde então, até à idade de reforma. Um acompanhamento a nível competitivo ou informal, porque os praticantes que se juntam para, entre amigos, disputarem uma partida contribuem também eles para a cultura desportiva, para a prática da modalidade, para o pagamento da infraestrutura e, assim, contribuam para o financiamento do futebol.

Para lá do plano de alargamento da base, a FPF reflete também sobre o que deve suceder a nível local e regional em plano de competição. Num país marcadamente litoral, num futuro em que se prevê que as grandes cidades se tornem ainda maiores, a federação coloca para 2027 um início das novas competições regionais, unindo distritos de menor expressão.

Imagens FPF

Depois de mexer nos quadros competitivos do futebol nacional – o lado mais visível é a criação da Liga3 – a FPF avança com novas medidas que, espera-se, tenham impacto, sobretudo no interior.

Programas a implementar, repercussões nos profissionais

A concretização deste plano passa pela execução de 15 programas definidos pela federação, assentes em cinco pilares: infância e crescimento, futebol para todos e todas, qualidade de jogo, envolvimento, sustentabilidade do ecossistema.

Nem todos estarão de forma evidente à frente dos nossos olhos, porque o foco será sempre no topo da pirâmide. Ou seja, como ele se comporta à medida da implementação destas medidas. Para esse, também há ações pensadas no programa:

  • Rever a calendarização das competições nacionais e desenvolver mecanismos de solidariedade para melhorar os resultados das equipas portuguesas de Futebol e Futsal masculino e feminino na Europa e a competitividade das respetivas ligas.
     
  • Aumentar o tempo útil de jogo em Portugal, através de benefícios para os intervenientes que promovam menos paragens no jogo e da imposição de regras que penalizem quem deliberadamente prejudicar o ritmo.
     
  • Intensificar a formação de agentes do futebol (e.g. treinadores, árbitros, dirigentes) e promover dinâmicas e incentivos para aumentar e melhorar a pool de talento nacional nas diferentes áreas do futebol.
     
  • Estabelecer novas regras e incentivos que adiem a exportação de jogadores formados em Portugal para outros mercados.

O plano interno é este, mas a federação pretende continuar a internacionalização do futebol português através da promoção em mercados estrangeiros que possam facilitar receita/investimento. Uma tarefa a realizar numa altura em que a maior marca internacional com selo português, maior ícone do futebol luso, se prepara para o ocaso da carreira.