Nuno Gomes não esteve no fatídico V. Guimarães-Benfica. Uma lesão afastou o camisola 21 do D. Afonso Henrique no dia 25 de Janeiro de 2004, mas Fehér jogou com as caneleiras de Nuno Gomes no último jogo da vida.
O encontro da 19ª jornada da Liga, daquela época, foi visto pelo avançado luso pela televisão, como aconteceu com muitos portugueses. Três anos depois da morte de Miklos Fehér o avançado aceitou de pronto remexer nas recordações e em declarações ao Maisfutebol e à TVI relembrou a «agonia», como lhe chama, vivida no sofá: «Eu não estava presente porque estava lesionado e não tinha sido convocado para o jogo. Estava em casa a ver o jogo e foi uma agonia muito grande. Senti o mesmo que a maior parte dos portugueses que estavam a assistir ao jogo: não queria acreditar que aquilo estava a acontecer e queria que aquela imagem não fosse real. Queria tentar perceber o que se passou, mas quando vi o Miki a cair percebi logo que algo de grave estava a acontecer. Fiquei nervoso. Ali diante da televisão senti-me impotente para poder fazer alguma coisa. Foi muito triste. Foram momentos em que sofri muito, pois estava em frente à televisão, apetecia-me e queria fazer alguma coisa e não conseguia.»

O avançado tem bem vincadas na memória as cenas que se seguiram à queda desamparada de Fehér em pleno jogo: «Entrei logo em contacto com pessoas do Benfica. Infelizmente veio a confirmar-se a morte e depois esperei pela equipa no estádio pois não podia ir para Guimarães. Ia falando muitas vezes com o Hélder, que na altura estava na equipa, com o Simão e com o próprio médico. Toda a gente chorava. Eu próprio chorava e não conseguíamos perceber o porquê. Aqueles momentos de espera no hospital foram agoniantes até se confirmar a morte do Fehér.»
Nuno Gomes admite que foi muito difícil ultrapassar a perda do avançado húngaro. A dor apoderou-se de todos os que privavam com Miki, mas a realidade obrigava-os a reagir. «O mais difícil naquela altura foi termos de continuar o nosso dia-a-dia sem a presença do Miki, pelos motivos que foram. Continuar a viver sabendo que já não íamos mais ter o Miki por perto. Nos dias depois foram todas as questões que pairaram sobre nós. Se ele estava em condições de jogar futebol porque é que aquilo tinha acontecido? S aconteceu a ele pode acontecer a qualquer um de nós? Ficou ali aquele trauma de que podia acontecer a qualquer um. Aquela situação foi difícil de ultrapassar», sublinha o internacional luso.
Esta quinta-feira completam-se três anos sobre a morte de Fehér e o sub-capitão do Benfica admite que a ferida jamais será sarada na totalidade: «Esse trauma acho que vai viver connosco toda a vida porque continuas sem perceber muito bem o porquê daquilo ter acontecido. Mas, aconteceu ao Miki, como infelizmente também aconteceram a mais casos. Eu como católico quis acreditar que foi uma escolha de Deus.»