Diamantino Miranda fala de uma situação quase desumana. O treinador deixa claro que nunca se demitiu, apenas fez uma espécie de ultimato, e explica porquê ao Maisfutebol. «Há jogadores que há quatro e seis meses têm a água cortada em casa, outros têm a luz cortada, outros não têm dinheiro para comer», conta. «Já cheguei a treinos em que os próprios jogadores vêm ter comigo a pedir-me para não exigir tanto deles porque ainda não comeram. Não vale a pena vestir a máscara de profissional nestas condições».
Por isso o técnico pensa em largar tudo e regressar à sua Moita natal. «Se não houver decisões, pelo menos em relação ao pagamento de parte dos salários que estão em atraso, não vale a pena continuar. Só espero mais esta semana», diz. «As dificuldades são enormes, cada vez vão sendo mais, e isto não é bom para ninguém. Há que tomar uma decisão e nem eu, nem a equipa técnica, nem os jogadores, nem o presidente, merecemos isto. Não merecíamos que boicotassem o Felgueiras».
Boicotes que partem do próprio seio do clube. «Há um ex-dirigente, por exemplo, que em vez de ajudar a Direcção tem aliciado os jogadores a deixar o clube, alicia outros a não jogar». O técnico falava de um antigo director do departamento de futebol. Miguel Ribeiro de seu nome. No último mês terá sido ele o responsável pela saída do clube de jogadores como Filipe Azevedo, Samson, Moreto, Sérgio Pinto e Nuno Rodrigues. «Estas pessoas deviam ser as primeiras a permitir que o clube tenha razões de existir». Mas não as únicas. «Já agora que a Liga de Clubes coloque os olhos nesta situação e que não permita que estas coisas aconteçam».
Pelo caminho o treinador pede para não se crucificar quem sempre deu o melhor pelo clube. «As pessoas estão a marimbar-se para estas situações e só olham é para os resultados, mas quantos treinadores aceitariam gerir um grupo com estes problemas e quantos jogadores aceitariam jogar nestas condições? A verdade é que depois da nossa entrada, na época passada, o Felgueiras ficou em 11º lugar com cinco meses de salários em atraso, quando nas últimas três temporadas tinha descido sempre e depois tinha sido repescado», recorda. «Tudo temos feito para dar uma imagem digna do clube e da terra, mas não é possível viver assim».