O risco de ver perder a equipa do futebol da terra juntou muitos sócios e simples adeptos nas imediações do estádio. A conversa era sempre a mesma, claro, a situação do Felgueiras. Nada porém que os adeptos não esperassem. «Tem sido todos os anos a mesma coisa», diziam. «Já o ano passado só conseguimos inscrever jogadores porque o presidente largou as férias no Algarve e veio cá oferecer 150 mil euros ao clube».
Por isso, e embora sempre digam que o clube faz falta à cidade, nenhum deles chora a morte lenta do Felgueiras. «Para o ano temos o Lixa na Liga de Honra», diz António Dias, sócio número 2128 e o único que aceitou dar o nome para a reportagem. Os outros preferem que não. Ora porque é empresário e é mau para o negócio, ora porque é uma cidade pequena, ora porque é vizinho da prima do amigo do cunhado que é influente...
Sob o anonimato vão então soltando opiniões. Colocam-se ao lado do actual presidente a quem comparam com um certo magnata do petróleo russo. «Este homem é o nosso Abramovich», dizem. «Ele é que tem salvo o Felgueiras. Ele e a esposa dele». E tem-no feito contra vento e marés, juram. «O campo do Felgueiras está todo minado por baixo. Enquanto certas toupeiras não desaparecerem, o Felgueiras não pode sobreviver». Falavam do antigo presidente Fernando Sampaio. «Há três anos atrás o Felgueiras vivia bem. Ele e o Diamantino é que deram cabo disto. Toda a gente recebia comissões».
Certo é que agora já poucos acreditam no clube. Pelo menos por enquanto. «Há sócios que dizem preferir acabar com o futebol que assim acabavam-se as dívidas. Devemos dinheiro a toda a gente, parece que somos uma terra de incumpridores», acrescenta António Dias. «Na II Divisão ainda aguentámos, mas tem de ser para subir. Se for para jogar com juniores, o melhor é fechar isto. Para passarmos as vergonhas do Salgueiros e andarmos a cair aos tombos, não vale a pena», adianta outro associado. «As pessoas querem é futebol. Se não for o Felgueiras, é o Lixa que é aqui ao lado e tem uma grande equipa».